Deficiência na soja e no milho "come" R$ 16 bi da economia Apesar de ser o maior produtor do País, o Estado enfrenta barreiras que travam a rentabilidade de seus produtos
Mato Grosso é referência na produção de grãos, com safras cada vez mais expressivas, respondendo por quase 40% da produção nacional de milho e 30% de soja.
Mas, apesar de ser o maior produtor do país, enfrenta barreiras que travam a rentabilidade de seus produtos: a enorme distância dos portos de exportação e a deficiência logística.
Essas características fazem com que o agricultor pague mais caro pelos insumos e, por outro lado, receba menos por sua produção.
Esse custo logístico impõe uma diferença de cerca de 32% no milho, na comparação média de Mato Grosso e Santos (SP), por onde escoa mais de 40% de toda produção de grãos do estado.
Já a diferença na soja é de cerca de 16% na mesma comparação.
Segundo informações do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a média da cotação do milho em Mato Grosso era de R$ 37,8, no último dia 20, por exemplo.
Já em Santos, segundo a consultoria Dellagro, a cotação do cereal era de R$ 56. Já a saca da soja era vendida por R$ 100 no estado, na média, segundo o Imea, contra R$ 119 em Santos.
Portanto, toda a produção de milho de Mato Grosso, de 52,5 milhões de toneladas, na cotação de São Paulo, poderia ter um faturamento de R$ 49 bilhões.
Já na cotação média de Mato Grosso, o faturamento seria de R$ 33 bilhões. Logo, parte dessa diferença de R$ 16 bilhões, com uma logística mais eficiente e barata, poderia circular dentro do estado, movimentando o comércio e serviços.
“Esse dinheiro acaba se perdendo no meio do caminho, no frete, que custa mais caro, o caminhão está gastando mais óleo diesel, está trocando mais pneus. Esse recurso poderia ficar no local onde que é produzido, onde você teria maior desenvolvimento, principalmente nessas regiões mais periféricas”, destaca o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber.
O produtor Diego Dallasta, vice-presidente Leste da Aprosoja-MT e coordenador da Comissão de Logística da entidade no triênio 2020/22, salienta que os preços pagos aos mato-grossenses serão sempre menores que nos grandes centros próximos dos portos de exportação, mas a infraestrutura de logística e armazenagem pode “ditar o tamanho dessa diferença”.
“A nossa deficiência logística faz chegar insumos para a produção mais caro e sair grãos com menor margem para o produtor, entre outras palavras, o lucro se perde na estrada”, comenta Dallasta, que produz soja e milho em Canarana.
O município produziu 1,2 milhão de toneladas de milho e 1 milhão de toneladas de soja na temporada 2022/23.
O superintendente do Imea, Cleiton Gauer, avalia que essa diferença de preços, também conhecida como ‘diferencial de base’, varia de acordo com o período analisado.
O milho, por exemplo, contou com uma safra quase 20% maior que na temporada anterior, o que acabou pressionando os preços para baixo em razão do excesso de oferta.
“Como a formação dos preços acontece no mercado internacional, Mato Grosso é penalizado porque tem que descontar o custo logístico de transporte desse produto até os portos de escoamento. Então, por isso que existe essa diferença de preço entre as principais praças aqui do estado e os portos de escoamento”, explica Gauer.
Para Diego Dallasta, uma das soluções para o entrave logístico de Mato Grosso são as ferrovias, como a Ferrogrão, que pretende ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA).
Além disso, há a construção da ferrovia estadual, que deve ligar a malha que chega a Rondonópolis até Lucas do Rio Verde. O prazo para conclusão dessa ferrovia é de oito anos.
“Se tivéssemos a Ferrogrão, parte da produção seria transportada via trem, de uma forma mais eficiente, trazendo insumos e criando possibilidades de negócios entre o estado e as regiões com Norte e Nordeste. Por exemplo, Mato Grosso produz muito etanol de milho, mas boa parte do álcool consumido no Nordeste vem dos EUA. Com mais ferrovias, esse álcool poderia sair de Mato Grosso e abastecer essas regiões”, cita Dallasta.
A Comissão de Logística também destaca que além de ferrovias, o produtor mato-grossense precisa de mais competição entre as empresas de transporte, garantindo preços melhores e mais qualidade do serviço.
É também preciso estimular as hidrovias, que tem um custo 62% menor do que o modal rodoviário e 53% menor em relação a ferrovia, estima a Comissão.
Além disso, Mato Grosso sofre com o déficit de armazenagem, conseguindo armazenar menos da metade do que produz.
“Isso faz com que o produtor perca o poder de negociar sua produção, tendo que entregar seu produto logo na colheita. Isso causa mais uma pressão baixista nos preços”, conclui Orlando Vila, coordenador da Comissão de Logística.
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