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Saúde
Segunda - 11 de Março de 2024 às 06:34
Por: Mariana da Silva/Gazeta Digital

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Regido pelo tempo e pela velocidade da tecnologia, o mundo de hoje possui cobranças por produtividade cada vez maiores devido à competitividade do mercado de trabalho e à rapidez da vida nos dias atuais. Essa instantaneidade movimenta também o estilo de vida das pessoas e como as relações são compreendidas.

Diante disso, o tempo voltado a atividades que não necessariamente envolvam remuneração ou relação com o meio profissional é negligenciado e tido como menos importante, já que a visão predominante é de proatividade a todo instante. Ao Gazeta Digital a psicóloga Lígia Garcia Ramos apontou que nem sempre tanta atividade é saudável.

Conceito criado pelo sociólogo italiano Domenico de Masi, o ócio criativo consiste na realização de atividades que proporcionem algum tipo de satisfação pessoal durante os períodos de descanso.

De acordo com a psicóloga Lígia Garcia Ramos, quando se pensa no conceito de ócio, é comum definir como um período reservado a não realizar atividades relacionadas ao trabalho ou outros afazeres, com possibilidade de descanso. Em contrapartida, a ociosidade pode ser remetida à preguiça, improdutividade e inatividade.

Já o ócio criativo, por sua vez, é proposto como uma maneira de entender a função do tempo dedicado para si mesmo nos momentos de descanso.

“Atendo muitas pessoas que têm como principal queixa demandas sobre o trabalho e é perceptível a importância de hobbies, desenvolvimento de novas habilidades ou até mesmo a contemplação de um tempo de descanso em meio a jornada de trabalho. O ócio criativo é um ótimo aliado para se ter maior disposição nas tarefas profissionais e rotineiras”, afirma Lígia.

Segundo a profissional, com a ascensão da tecnologia e a implementação pós-pandêmica do regime de home office, muitas pessoas misturam o ambiente profissional e pessoal, o que pode levar à dificuldade de delimitar os horários de expediente.


“Um termo muito utilizado atualmente é ‘workaholic’ ou ‘viciados em trabalho’. Isso acaba colocando a carreira como prioridade na vida das pessoas e deixando de lado uma parte muito importante da vivência humana, como as experiências pessoais, interesses, gostos e aspectos que caracterizam a personalidade do indivíduo”, explica.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em um relatório publicado em 2019, o Brasil lidera o ranking de país mais ansioso do mundo. Cerca de 18,6 milhões de brasileiros convivem com a ansiedade, o que engloba 9,3% da população.


“Grande contribuição para essa constatação é proveniente de altas demandas de trabalho, cobranças internas e externas por produtividade e um mercado profissional altamente competitivo. Na clínica, as queixas de esgotamento mental decorrentes do ambiente de trabalho não são incomuns”, expõe.


Além disso, a dificuldade em equilibrar as esferas da vida pode resultar em estresse e burnout, onde por meio das sobrecargas de demandas o indivíduo se esgota emocionalmente e fisicamente, além de prejudicar relações interpessoais, desenvolve conflitos dentro e fora do ambiente de trabalho, redução da criatividade e dos interesses pela falta de tempo para exercê-los.


Com as expectativas sobre o desempenho no trabalho cada vez mais altas, os limites entre vida profissional e pessoal se tornam cada vez mais indefinidos. Para a profissional, essas questões são sintomas de uma cultura que valoriza excessivamente a produtividade, o sucesso profissional e a acumulação de obrigações, muitas vezes em detrimento da saúde física e emocional das pessoas.


Nesse sentido, a própria definição de que o ócio é um período inerte e preguiçoso pode ser equivocada.

“Ele pode ser entendido como uma liberdade de escolha: cada indivíduo tem sua autonomia e é protagonista de sua própria história, logo, pode explorar outros âmbitos de sua existência no tempo disponível para cuidar de si”, enfatiza a psicóloga.


Desse modo, a especialista orienta como fundamental o ato de reservar um tempo para lazer e descanso, pois além de promover o bem-estar mental, contribui para a saúde física e emocional.


“A mente pode recarregar energias e se recuperar do estresse acumulado. As atividades de lazer podem ajudar a reduzir a ansiedade e promover um senso de realização pessoal. Também podem fortalecer relacionamentos interpessoais quando realizadas em conjunto”, propõe.


Para além da implementação de novas atividades, o ócio pode ser compreendido como um equilíbrio ao agitado ritmo da vida moderna.

“É importante promover uma mudança de paradigma que valorize o bem-estar humano acima da produtividade excessiva. Isso envolve reconhecer a importância do equilíbrio entre trabalho e lazer, promover a cultura de autocuidado e repensar as estruturas sociais e econômicas para garantir que todas as pessoas tenham acesso a qualidade de vida satisfatória”, aconselha.





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