Lojistas: cobrança da Prefeitura resultou em queda nas vendas Falta de informação e tarifa cobrada pela gestão Emanuel Pinheiro prejudicam movimento no Centro
Placas indicam locais onde cobrança é feita na região central; no detalhe, o prefeito Emanuel Pinheiro
Um mês após iniciada a cobrança de estacinamento rotativo na região central de Cuiabá, com a implementação do Cidade Verde Estacionamento pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), comerciantes revelaram insatisfação, desorganização e queda nas vendas.
Na primeira semana, o movimento caiu cerca de 80%. Foi assustador. Até agora, o que eu percebi é que a maior dificuldade da população tem sido com informação
Além de ter que pagar, muitos motoristas estão com dificuldades para entender o sistema, que cobra R$ 3,40 por hora, para carro, e R$ 2,00 para moto.
Nas ruas, praticamente não há fiscais, que deveriam esclarecer as dúvidas mais comuns.
A empresa vencedora do processo licitatório foi a CS Mobi, do Grupo Simpar. O contrato, de 30 anos de duração, é estimado em R$ 654 milhões.
“Na primeira semana, o movimento caiu cerca de 80%. Foi assustador. Até agora, o que eu percebi é que a maior dificuldade da população tem sido com informação, principalmente os idosos, que não sabem mexer no celular”, disse Clagia dos Anjos, gerente da Ótica Seu Filó, na rua Pedro Celestino.
Uma empresária que preferiu não se identificar, contou que trabalha no mesmo ponto há mais de uma década, e até então nunca tinha presenciado uma queda tão brusca de clientes.
“No primeiro dia, quando eu cheguei aqui no Centro, levei um susto. Estava completamente deserto. Parecia um domingo à tarde. Não tinha ninguém na rua. E de lá pra cá eu percebi que está muito parado”, disse.
“As pessoas chegam ao Centro, descobrem que tem que pagar e não sabe como, porque não é todo mundo que sabe baixar e manusear um aplicativo. Isso pela falta de informação”, continuou.
Assim como Clagia, a lojista afirmou que o que mais presenciou nesse período inicial da implementação do sistema é a dificuldade dos usuários em conseguirem se informar, o que acaba desistimulando que parem na região central.
A reportagem permaneceu nas imediações da Praça Alencastro por cerca de uma hora e, enquanto realizava as entrevistas, não avistou nenhum dos orientadores contratados para direcionar os usuários.
“Faz mais de uma década que eu estou aqui e aqui nunca aconteceu de ficar assim. Nem na época da Faixa Verde, o antigo estacionamento rotativo”.
"A gente quase não vê ninguém na rua"
Eu também sou idosa, e para nós é difícil essa questão do aplicativo de celular. A gente não tem experiência de mexer no celular
A funcionária Citonia Oliveira, que trabalha em um restaurante ao lado da praça, compartilha das mesmas queixas e disse também ter presenciado muitos clientes indo embora.
“Eu achei que ficou muito mais parado. A gente quase não vê ninguém na rua. Tem mais de 30 anos que eu trabalho aqui, e eu acho que piorou. Tem gente que chega aqui e pergunta como faz para pagar, mas como não foi passado nada para nós, a gente não sabe informar”.
“Às vezes a gente vê uns rapazes de roupa laranja, que deveriam informar. Só que você procura e não acha eles. Quantas pessoas, idosos, chegam aqui e vão embora porque não acham eles? Eu também sou idosa, e para nós é difícil essa questão do aplicativo de celular. A gente não tem experiência de mexer no celular”, completou.
Os estabelecimentos comerciais nas proximidades da Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Popular, também têm apontado dificuldade dos clientes em entender o sistema, e vários disseram ter sentido impacto negativo.
"Até o momento, está sendo ruim para o comércio, deu uma caída no movimento aqui e ao redor. É uma queixa de vários comerciantes. Porque os clientes estão acostumados a vir rapidamente, estacionar e resolver o que tiver que resolver", disse a funcionária de uma loja, que não quis se identificar.
"Semana passada estava bem parado aqui. Uma das nossas estratégias foi baixar o aplicativo [Digipare] e pagar a primeira hora para os nossos clientes".
Já a empresária Creuza Medeiros, proprietária do Espaço Magnólia, afirmou que o sistema tem sido bom para a rotatividade da região e facilitando que os clientes encontrem vagas.
"Eu vejo a mudança como positiva, mas ainda não vi os efeitos dela. Eu percebo que tem muita desinformação. Que a informação sobre esse sistema rotativo ainda não foi suficiente. Porque eu recebo pessoas que hoje mesmo deixaram o carro na rua e não sabiam que era pago", disse.
"Eu me sinto responsável pelos meus clientes e, como não quero que sejam multados, eu tenho avisado sobre o sistema, ou recomendado que deixem no estacionamento aqui ao lado. Algo perigoso que tenho que tenho visto, e quero deixar de alerta, é que muitas mulheres sozinhas ficam com suas bolsas abertas, enquanto pagam o parquímetro. É um perigo", disse.
Como funciona?
Em vigor desde o dia 20 de fevereiro, são 2,3 mil vagas espalhadas em vários pontos da cidade. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e nos sábados, das 7h às 13h.
Ao estacionar, os usuários contam com 10 minutos de tolerância. O valor inicial do estacionamento é de R$ 1,70 para carros e R$ 1 para motocicletas, contabilizados a partir de 30 minutos. O tempo máximo para permanência nas vagas é de 4 horas.
O pagamento pode ser realizado pelos parquímetros com moedas, cartão de crédito e débito. Também são vendidos tickets eletrônicos nos estabelecimentos comerciais que são pontos de venda, e há a opção do aplicativo Digipare, que pode ser baixado pela AppStore e Google Play ou acessando o site: www.digipare.com.br.
Regularização e multa
De acordo com as regras de utilização, após utilizar uma vaga sem pagar a tarifa imediatamente, o motorista tem até sete dias corridos para efetuar o pagamento. Porém, o valor será de dez vezes a tarifa de uma hora, ou seja, R$ 34, mais acréscimos do tempo em que o veículo permaneceu estacionado.
Caso o pagamento não seja efetuado no prazo, o condutor poderá ser multado em R$ 195,23, além de perder cinco pontos na carteira de habilitação.
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