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Comportamento
Quarta - 12 de Junho de 2024 às 06:27
Por: Nathalia Okde/Primeira Página

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Muita gente sonha em encontrar o grande amor da vida, construir uma família e viver feliz para sempre. Nos dias de hoje, parece difícil acreditar que isso é possível, mas Dona Manoela e o Sêo Antônio Tetilla, provam que sim. Em fevereiro deste ano, eles completaram Bodas de Vinho, 70 anos de um casamento que eles definem como feliz.

Moradores de Cuiabá, compartilharam com o Primeira Página qual o segredo, e pode apostar que vai te surpreender.


FullscreenSêo Antônio e Dona Manoela completaram 70 anos de casados neste mês de fevereiro. (Foto: Nathalia Okde)Casal completou 70 anos de casados em 13 de fevereiro. (Foto: Nathalia Okde)

Espero que esteja lendo esse texto sentado no sofá da sua casa, com suas roupas confortáveis e com uma balde de pipocas do lado porque essa história merece ser lida com todo o carinho, com que ela está sendo escrita.

Ao sair da porta do elevador já sou recebida por Dona Manoela, uma mulher com estatura baixa, cabelos curtos lisos e bem cuidados, uma pele branca, muito conservada pelo tempo e um sorriso tímido, mas curioso. Para uma mulher de 90 anos, ela aparenta pouco mais de 70.

Sentado no sofá estava Sêo Antônio, um homem branco de cabelos grisalhos, um pouco encurvado, com um aparelho auditivo encaixado na orelha e uma muleta, que usa de bengala por causa do joelho, que incomoda.

Com movimentos lentos e o olhar sereno, ele se virou para me cumprimentar com um sorriso.

Dona Manoela começa a contar.

Desde os 10 anos de idade

Essa história começa em “um reino tão tão distante”, também conhecido como Santo Anastácio, uma cidadezinha perto de Presidente Prudente, interior do estado de São Paulo.

Opostos, como define a filha do casal, dona Manoela guarda um alma inquieta enquanto Sêo Antônio parece viver no seu próprio tempo. (Foto: Nathalia Okde)Opostos, como define a filha do casal, dona Manoela guarda um alma inquieta enquanto Sêo Antônio parece viver no seu próprio tempo. (Foto: Nathalia Okde)

Sêo Antônio morava em uma fazenda próxima da cidade, com outros 8 irmãos e o pai. Na cidade Dona Manoela vivia também com outros 8 irmãos e o pai. Por uma triste coincidência do destino, ambos perderam as mães no mesmo ano.

O eixo fazenda e cidade era frequentemente atravessado por Antônio, que sempre brincava de balanço com Manoela, isso já aos 10, 11 anos de idade. Uma foto registrada na época, prova que talvez, se existe essa coisa de destino, o deles já estava escrito para ser juntos. (Veja foto abaixo)

Anos se passaram e a adolescência chegou. Na praça da cidade as moças desfilavam com as amigas, enquanto os rapazes “faziam o fut”, gíria da época para definir a paquera, a troca de olhares.

E se estamos falando de uma cidade do interior, não podemos deixar de citar as quermesses, que sempre eram um pretexto para Sêo Antônio declarar o apreço por Dona Manoela.

Dentro dos círculos vermelhos estão Sêo Antônio e dona Manoela, por volta dos 11 anos de idade. (Foto: Nathalia Okde)Dentro dos círculos vermelhos estão Sêo Antônio e dona Manoela, por volta dos 11 anos de idade.
(Foto: Nathalia Okde)

“Ele mandava correio elegante pra mim, sempre de namoro, essas coisas. Na praça, a gente passeava de braços dados com as amigas e os rapazes ficam tudo de pé, em volta ‘fazendo o fut’. Quando eu via que ele já estava vindo me paquerar, sentávamos e ficávamos conversando”, conta dona Manoela.

Sêo Antônio era peão de comitivas e depois de uma viagem de 93 dias de estrada, levando e trazendo gado para o interior do Paraná, ele voltou pra Santo Anastácio e se casou com Dona Manoela, no dia 13 de fevereiro de 1954.

Lá, ele montou uma tinturaria e a esposa costurava calças de alfaiataria.

“O alfaiate mandava 10, 12 calças pra ela fazer por semana. Eu trabalhava até 0h e continuava até 2h ajudando ela”, relembra Sêo Antônio.

Três irmãos

O casal teve três filhos: Walter e Renato, que nasceram em São Paulo e futuramente se tornaram, respectivamente, médico e dentista. Já Marisa, a caçula, nasceu em Dourados – Mato Grosso do Sul – para onde a família se mudou e viveu por 14 anos, trabalhando com pecuária.

Família reunida em celebração ao aniversário de 91 anos do Sêo Antônio Tetilla. (Foto: Cedida)Família reunida em celebração ao aniversário de 91 anos do Sêo Antônio Tetilla. (Foto: Cedida)

Marisa, a filha caçula, tem 60 anos, e é pedagoga e psicóloga. Ela possui os mesmos traços da mãe e acompanha também sua genética, por aparentar ser mais nova.



Empolgada, ela sorria com o olhar, enquanto os pais contavam as histórias. Ela garante: um não vive sem o outro.

“Ela ficou internada uma vez no hospital. Ele ficou doidinho, fica sem chão. Eles sempre foram muito parceiros. Quando moraram em Dourados, tiveram uma vida muito ativa, tinham até bloco de amigos de carnaval”, relata Marisa.

As festas de Carnaval eram realizadas no Clube Indaiá. Fundado em 1967, o local segue em funcionamento até hoje. Antônio foi um dos fundadores e é considerado Sócio Honorário.

A folia era animada. Segundo Manoela, foram vários Carnavais com fantasias diferentes para cada um dos quatro dias de festa.

Antônio Tetilla em visita ao Clube Indaiá, que ajudou a fundar em Dourados (MS). (Foto: Cedida)Antônio Tetilla em visita ao Clube Indaiá, que ajudou a fundar em Dourados (MS). (Foto: Cedida)

Segredo para uma vida feliz

Há 50 anos, Manoela e Antônio se mudaram para a capital de Mato Grosso, Cuiabá, onde seguem até hoje.

Ao todo, já contam com 6 netos e 6 bisnetos. Porém, infelizmente um dos filhos do casal, o médico Walter, perdeu a vida para a covid-19 durante a pandemia. Ele morreu na linha de frente ajudando os infectados.

Entre os altos e baixos da vida, o elo entre os dois se fortalece cada vez mais. Opostos, como define a filha, Manoela guarda uma alma inquieta e agitada que precisa estar em constante movimento. Já Sêo Antônio, parece viver no seu próprio tempo.


Só me restou uma pergunta: “afinal, qual o segredo para um casamento tão duradouro e feliz?”

“Ouvir e não já explodir. Todo mundo tem um lado bom e ruim”, aconselha Manoela.

Viver um amor leve e tolerante, é algo que tem que partir das duas pessoas, mas sempre alguém tem que dar um primeiro passo. Abaixar a guarda, tentar respeitar o espaço e forma de ver o mundo do outro, e vice-versa.

Com apenas quatro meses de diferença de idade entre os dois, ambos definem o carinho como a característica preferida um do outro.

Saí da entrevista com o coração leve, um convite para um café futuro e o sentimento de que realmente o cantor Marcelo Jeneci estava certo, muitas vezes “felicidade é só questão de ser”.






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