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Saúde
Segunda - 23 de Dezembro de 2024 às 07:21
Por: Aline Costa/Gazeta Digital

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A “epidemia do futuro”, é a forma como é chamada a onda de cada vez mais pessoas viciadas em apostas e jogos online que as fazem não só perder dinheiro, como também chegar a níveis de transtornos mentais. De acordo com pesquisa do DataSenado, estima-se que, apenas em setembro deste ano, cerca de 22 milhões de pessoas realizaram algum tipo de aposta online.

A mesma pesquisa também apontou que a maior parte dos apostadores são homens (62%) que têm entre 16 e 39 anos (56%). Em relação à escolaridade, 40% têm o ensino médio completo e 20% têm o ensino superior incompleto ou mais.

Não distante da realidade nacional, em Mato Grosso a questão das apostas também existe. O estado acumula um histórico de casos que foram parar nos noticiários. Psicólogos também retratam que a procura de pessoas em estado de vício nas apostas aumentou.

Em julho deste ano, um homem foi encontrado morto em um carro em Nova Mutum (264 km ao norte de Cuiabá). O homem devia agiotas e realizava apostas frequentes enquanto a família estava em estado de alerta, pois descobriu que ele tinha perdido aproximadamente R$ 200 mil no jogo do azar do "Tigrinho".

Um jovem de 21 anos, relatou ao Gazeta Digital, em novembro, que chegou a perder R$ 5 mil no mesmo tipo de jogo e que começou a jogar após ver propagandas na internet sobre apostas.

Em outubro, um homem de 34 anos foi preso após perder todo o dinheiro, seu e da esposa, em Barra do Garças (509 km ao leste de Cuiabá). Ele atacou a mulher após estar falido por gastar o dinheiro no Tigrinho e ela vender uma cômoda para quitar as dívidas. Esse agressor também devia agiotas e utilizava o dinheiro para realizar apostas.

O estado também registrou investigação com alvos em influenciadores que utilizam esse meio para ganhar dinheiro de forma ilegal, a “Operação 777”. As investigações apontaram que os investigados chegaram a faturar R$ 12,8 milhões apenas no primeiro semestre deste ano.

Quando o vício se torna um vício?


A psicóloga Déborah Bianchin realiza atendimentos na capital mato-grossense e atende casos de pacientes com o vício em apostas. Ela explicou ao Gazeta Digital o que é considerado um vício e quando ele precisa de atenção.

Reprodução

Déborah Bianchin, psicóloga

Os vícios necessitam ser tratados quando começam a alterar a funcionalidade das pessoas, ou deixam de ser algo controlável. Por exemplo, o caso acima, em que o homem utilizou todo o salário para realizar apostas online e ainda espancou a mulher por utilizar o dinheiro para quitar as dívidas, poderia ser considerado um vício.

O “caminho do vício”, geralmente se inicia com a promessa do fácil de dinheiro. As plataformas são organizadas de modo que, nas primeiras vezes de um apostador, ele realmente recebe um retorno financeiro. O problema, porém, é que nos jogos de azar as plataformas não trarão recompensa sempre e, aquilo que começou com a promessa fácil de dinheiro se torna um hábito e, posteriormente, um vício.

“Quando alguém recebe recompensas rápidas, como clicar em um botão e ganhar dinheiro, o cérebro vai entender que consegue, de alguma maneira, obter prazer de forma mais rápida. Então um apostador, ao clicar no botão vai receber estímulos de substâncias que aumentam a sensação de prazer no cérebro”, explicou Bianchin.

A partir de experimentar a sensação de prazer nas apostas e querer experimentar essa sensação sempre, é que o vício começa a ter o risco de ocorrer.

O que dificulta o tratamento desses casos?
O primeiro item que dificulta o tratamento é a acessibilidade e facilidade com que os jogos são acessados. Uma aposta no celular pode ser realizada de forma discreta e as notificações de jogos chegam diversas vezes ao dia. As estratégias utilizadas pelas plataformas também auxiliam na perpetuação do vício.

As bets no Brasil também não têm uma regulamentação restrita da forma como devem funcionar e isso dificulta o também o tratamento.

“As plataformas não contam com um alerta de conscientização, por exemplo, como existe no cigarro. Esse é só um exemplo de como a regulamentação poderia ajudar no tratamento. Quando as apostas on-line não têm isso, torna tudo mais difícil, porque é como se o cérebro não tivesse nenhum lembrete de que talvez ele esteja ultrapassando os limites”, relatou Déborah Bianchin.

O que a falta de tratamento em apostas online pode causar?
O vício pode levar a quadros de declínio da saúde mental, começando com ansiedade e depressão. Os jogos, principalmente aqueles em apostas esportivas que dependem do resultado do jogo, podem deixar o apostador ansioso por dias até que saia o resultado.

Quando os jogos começam a dar prejuízos financeiros, os quadros de depressão e ansiedade podem piorar. Como no exemplo do jovem em Barra do Garças que utilizou todo o salário em apostas na busca por recuperar o valor perdido. O vício pode impactar e fazer com que o apostador tire o dinheiro de necessidades básicas e utilize em apostas.

Em casos mais graves, o apostador pode chegar até a não conseguir encontrar uma solução para o seu vício ou para suas perdas financeiras. Nesses casos, podem ocorrer até pensamentos suicidas, que podem chegar até um impacto na saúde coletiva e isso é um dos fatores que justifica a nomeação da “Epidemia do Futuro”.

“Existem pessoas que estão chegando ao ponto de tirar a própria vida por não ver mais saída em sair desse serviço desse tipo difícil”, finalizou Bianchin.





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