Presidente egípcio quer negociação na crise parlamentar
O presidente islâmico do Egito disse nesta quarta-feira que deseja estabelecer um diálogo com o Judiciário e com os poderes políticos para resolver a crise em torno da sua tentativa de reinstaurar o Parlamento que havia sido dissolvido no mês passado pela junta militar, com base em uma decisão da Suprema Corte.
A declaração do presidente Mohamed Mursi parece representar um pedido de trégua para evitar que a crise, menos de duas semanas após o início do seu mandato, descambe para um confronto aberto com a cúpula militar ou com os juízes.
A polêmica sobre o Parlamento é parte de uma disputa mais ampla pelo poder no mais populoso país árabe, contrapondo a Irmandade Muçulmana, de Mursi, aos poderosos militares e aos remanescentes do regime de Hosni Mubarak, deposto no ano passado.
"Haverá consultas entre todas as forças políticas, instituições e o conselho supremo de autoridades judiciais para encontrar a melhor forma de sair dessa situação, a fim de superarmos juntos este estágio", disse Mursi em nota.
A Suprema Corte dissolveu o Parlamento em 14 de junho, às vésperas da eleição de Mursi, por entender que ela foi eleita seguindo leis inconstitucionais. A junta militar que então governava o país cumpriu a ordem judicial e dissolveu o Parlamento, dominado por políticos islâmicos.
Após a sua posse, Mursi reconvocou o Parlamento, que se reuniu na terça-feira, mas uma nova sentença judicial reafirmou sua dissolução horas depois.
Mursi é o primeiro presidente em seis décadas de república egípcia a não ter origem militar, e seus primeiros dias no cargo prenunciam uma situação de confronto, algo que desagrada aos Estados Unidos, país que dá 1,3 bilhão de dólares em assistência militar ao Egito anualmente.
O presidente disse na nota que está "comprometido com as decisões dos juízes egípcios e muito interessado em gerir os poderes estatais e evitar qualquer novo confronto."
Para muitos egípcios, porém, a crise é sinal de continuidade das incertezas que assolam o Egito desde que Mubarak foi deposto por protestos populares, em 2011, provocando uma grave crise econômica e agravando a situação de pobreza na qual muitos egípcios vivem.
A Irmandade Muçulmana também enfrenta a raiva de liberais e outros grupos, frustrados pelo que veem como uma usurpação do poder pelos políticos islâmicos, maiores beneficiários da derrubada de Mubarak, embora não tenham tido participação ativa na revolução. Eles têm acusado Mursi de desrespeitar o Judiciário.
(Reportagem adicional de Shaimaa Fayed e Dina Zayed)
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