Redução de profissionais compromete qualidade da merenda Profissionais da nutrição escolar relatam a rotina extenuante que os deixam sem tempo suficiente até mesmo para beber água

Profissionais responsáveis pela merenda nas escolas estaduais de Mato Grosso relatam a sobrecarga de trabalho devido à falta de pessoal nas unidades.
Além do adoecimento, o acúmulo de atividades devido ao déficit de funcionários para a execução das tarefas nas cozinhas, impacta diretamente a qualidade das refeições ofertadas aos cerca de 380 mil estudantes da rede de ensino.
A rotina extenuante, que compromete a execução dos cardápios recomendados pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), levou uma trabalhadora a gravar um vídeo relatando a atual realidade.
“No ano passado, estávamos em três para fazer tudo o que eu tenho de fazer agora, passava perrengue passava, mas a gente dava conta. Agora, estou sozinha na cozinha. E, não é só cozinhar (...). Ao chegar, eu tenho que cortar (alimentos) e iniciar o pré-preparo (do almoço) antes do café da manhã para mais de 230 alunos. Então, eu início o pré-preparo e, após essa iniciação de colocar o feijão no fogo, cortar a carne e alguns temperos, não dá para fazer tudo antes, aí é que início o café”, conta Leidiane Cruz, funcionária de uma escola em Pedra Preta (238 km ao Sul de Cuiabá).
A sobrecarga de trabalho também gera atrasos na entrega do café e do almoço, geralmente, arroz, feijão, carne e salada.
“Não consegui servir (o café) no horário certo”, lamenta a profissional enquanto casca um produto e diz que já era para estar lavando as louças que estavam na pia. “A pia tem pouca louça, não. Eu vou dar conta de cascar todo alho e lavar toda louça sozinha? Não”, diz. “Eu estou conseguindo fazer uma refeição digna, de acordo com que as nutricionistas preparam, de acordo com o cardápio, também não”, completa dizendo que a colega do período vespertino também enfrenta situação semelhante.
No entanto, as denúncias da categoria são ignoradas pelo Governo do Estado, conforme o Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT).
“O governo anunciou que a convocação de funcionárias dependerá de solicitação das escolas. Inúmeros gestores escolares já fizeram os pedidos, e, passados mais de 15 dias do início do ano letivo, a situação nas cozinhas escolares permanece a mesma”, afiançou o secretário do Sintep-MT, Klebis Marciano.
Ao frisar que é das profissionais também a tarefa de conferir os mantimentos, o que falta, datas e prazo de validade, o sindicato afirma que, em muitas unidades, as trabalhadoras estão sem tempo suficiente até mesmo para beber água ou ir ao banheiro, uma realidade comparada às condições de trabalho análogo à escravidão.
Procurada pela reportagem do DIÁRIO, a Seduc não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta matéria.
Contudo, desde 2020, o Estado começou a fazer alterações nas portarias que tratam sobre o número de apoio administrativo educacional (AEE).
Conforme o artigo 50 da portaria 1.138/2024, que dispõe sobre o processo de seleção e atribuição para cargos e funções dos profissionais da educação da rede estadual de ensino para o ano de 2025, os AAEs têm como principais atividades na unidade escolar: a nutrição escolar; manutenção de infraestrutura; manutenção de infraestrutura/limpeza e manutenção de infraestrutura/vigilância.
“A jornada de trabalho de todas as funções do cargo Apoio Administrativo Educacional/AAE obedecerá às previsões legais dispostas na L.C. 50/98 e será organizada pela gestão escolar de cada unidade, observando 6 horas ininterruptas de atividade diária (com 15 minutos de intervalo intrajornada), sendo de responsabilidade de cada unidade definir o horário de início e fim das atividades de cada servidor”, diz o documento no 51º artigo.
Ainda de acordo com o documento, o quantitativo de cargos para cada unidade está disposto de acordo com o número de alunos e por turno, sendo um profissional até 250 estudantes; dois profissionais para 251 a 550 e, três trabalhadores para 551 a 800 alunos.
No caso da limpeza, por exemplo, prevê um profissional a cada 600 m² (área da escola considerando a soma dos ambientes cadastrados no GEE).
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