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Policia MT
Sábado - 16 de Agosto de 2025 às 06:12
Por: Joanice de Deus/Diário de Cuiabá

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Uma rede de laboratórios, com unidades em Cuiabá, Sinop e Sorriso, está envolvida em fraudes e falsificações de exames laboratoriais, que podem ter colocado em risco a vida e a saúde de diversos pacientes, em Mato Grosso. É o que apontam investigações da Polícia Civil (PC) que deflagrou, ontem (15), a operação “Contraprova” para cumprir 11 ordens judiciais contra os proprietários da Bioseg Laboratorial.

A rede, conforme investigações conduzidas pela Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), realizava exames para diversos órgãos públicos, como a Câmara e a Prefeitura da Capital, para clínicas médicas particulares, nutricionistas e um convênio médico, além de atender pacientes do sistema privado.

Um dos casos relatados refere-se a uma criança, de 5 anos, que morreu após um acidente com líquido quente e que teve exames realizados pela rede. A suspeita é de que possíveis falsificações nos resultados laboratoriais tenham atrasado o tratamento da menina.

“As investigações apontaram situações gravíssimas, como por exemplo de uma menina de 5 anos de idade, vítima de um acidente no interior do Estado e que ficou internada em Cuiabá, depois passou para tratamento em home care, e que ex-funcionários dessa rede disseram que todos os laudos, todos exames que esta criança fez, foram falsificados pelos sócios da empresa”, informou o delegado responsável pelo caso, Rogério da Silva Ferreira.

Contudo, não é possível afirmar uma relação direta entre as falsificações e a morte, mas que o atraso no tratamento pode ter prejudicado a recuperação da criança, que morreu em dezembro de 2024.

Entre as ordens judiciais cumpridas na operação, estão a prisão preventiva do sócio responsável técnico pelo laboratório, busca e apreensão nas residências dos sócios e unidades da empresa, interdição judicial das três unidades, suspensão do registro do biomédico e o sócio Igor Phelipe Gardes Ferraz, que atuava como responsável técnico na rede. Igor Ferraz foi preso durante a operação.

Os sócios-administradores da empresa, Bruno Cordeiro Rabelo e William de Lima, também foram alvos da ação, mas contra eles só houve cumprimento de mandados de busca e apreensão. Também houve a suspensão de contratos do laboratório com o poder público e proibição dos sócios de contratar com órgãos públicos da União, estados e municípios.

Segundo a PC, as investigações começaram em abril deste ano, após denúncia recebida pela Vigilância Sanitária da Capital de que um dos sócios e responsável técnico pelo laboratório estaria falsificando os resultados de exames, expondo a vida e a saúde de diversos pacientes a risco. Na ocasião, a unidade foi interditada, e o investigado chegou a ser preso em flagrante delito.

A apuração aponta que o laboratório recebia e coletava amostras de material biológico, incluindo secreção de pacientes de home care, realizando ainda exames de covid-19, toxicológico e de doenças como sífilis, HIV e hepatites.

Na Capital, conforme informações divulgadas pela Prefeitura ainda em abril passado, a empresa foi contratada em 22 de dezembro de 2021 para a realização de exames. No entanto, a irregularidade foi detectada no decorrer dos últimos meses, após a denúncia da equipe da Vigilância Sanitária que atua na gestão atual que apontou a suspeita de que o laboratório não realizava as análises das amostras coletadas e, ainda assim, emitia laudos.

A gestão municipal informou que, durante a fiscalização da Vigilância Sanitária, os agentes flagraram uma coleta de sangue sendo feita para um paciente encaminhado pela Prefeitura. Contudo, o laboratório não possuía nenhum equipamento em funcionamento para a realização dos exames, nem reagentes ou insumos necessários para as análises. Também foram encontradas amostras de sangue armazenadas de forma inadequada, o que reforçou as suspeitas de fraude. Diante disso, a Prefeitura acionou a Polícia Civil.

No decorrer das investigações, foi confirmado que o laboratório não realizava os exames internamente nem enviava os materiais biológicos para outros estabelecimentos de diagnósticos, como afirmavam os sócios. Além disso, as amostras coletadas dos pacientes eram descartadas sem qualquer análise e os resultados dos laudos eram falsificados pelo sócio responsável técnico, que também é biomédico.

As ordens judiciais foram expedidas pelo Juiz de Garantias de Cuiabá, após manifestação favorável da 24ª Promotoria de Justiça, que foram cumpridas com o apoio de policiais civis das delegacias de Sorriso e de Sinop, além de fiscais da Vigilância Sanitária Municipal de Cuiabá.

Ao final do inquérito, os investigados poderão ser indiciados nos crimes de estelionato, falsificação de documento particular, peculato e associação criminosa, cujas penas podem chegar a até 25 anos de prisão, além de multa.

A polícia explicou ainda que o nome da operação faz referência à análise de contraprova, exame de confirmação destinado a verificar a veracidade de um resultado. O nome simboliza a atuação da Polícia Civil como verdadeira “contraprova” que desmascarou os resultados falsos emitidos pelos investigados.





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