Taxa de recusa familiar para doação de órgãos supera média No 1º semestre deste ano, 70% das famílias entrevistadas não autorizaram a doação de órgãos de potenciais doadores
A doação de órgão é um ato de amor e solidariedade humana.
No entanto, a taxa de recusa, quando a família do doador decide não seguir com o processo, é alta em Mato Grosso, superando a média nacional, que é de 45%.
É o que aponta o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), disponibilizado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
De acordo com o RBT, o Estado registrou 57 notificações de potenciais doadores de órgãos, no primeiro semestre deste ano.
Do total, foram realizadas 27 entrevistas familiares, resultando em 19 negativas. Ou seja, um percentual de 70% de recusa, a principal causa da não concretização da doação de órgãos de potenciais doadores notificados.
No período, ocorreram seis doações efetivas no Estado.
Em todo país, foram contabilizadas 7.597 notificações, entre janeiro e junho passado, sendo realizadas 4.341 e 1.948 (45%) recusas.
Ainda em nível estadual, oito (14%) notificações foram afastadas por motivo de contraindicação médica; duas (4%) devido a parada cardíacas; 18 (32%) por morte encefálica não confirmada e quatro (7%) por outros motivos.
No mesmo período, 159 adultos aguardavam na fila de espera por um transplante, entre ativas (61) e semiativas (98).
Dentre os ativos (exames completos), 41 pessoas, incluindo uma criança, aguardavam por um transplante de córnea, e 20 por rim.
Já entre os pacientes maiores de idade que ingressaram na lista de espera (semiativas ou com exames incompletos), a maioria (78) também aguarda por um transplante de córnea e, outros 20, por rim.
Há ainda quatro crianças semiativas esperando por um procedimento de córnea. Não houve registro de óbitos no Estado.
Existem dois tipos de doação de órgãos: a do doador vivo e do doador falecido.
Desde que esteja saudável e concorde com a doação, o primeiro pode doar parte da medula óssea, rim, fígado ou pulmão.
O segundo caso começa após a notificação de morte encefálica de um paciente, e mediante a autorização da família.
O doador pode doar coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córneas, veias, ossos e tendões.
Antes da doação, é realizada uma entrevista familiar e o falecido deve ter manifestado, em vida, o desejo de ser doador.
Em casos de óbito por parada cardíaca, somente a doação de córneas e tecidos é possível.
CAPACITAÇÃO – Como parte do “Setembro Verde”, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) promove diversas ações de divulgação e capacitação ao longo do mês, que é dedicado à conscientização sobre a doação de órgãos.
Por meio da Central Estadual de Transplantes (CET), o órgão estadual incentiva o gesto de doação, que simboliza a esperança e uma nova chance de vida para quem precisa.
Secretária-adjunta do Complexo Regulador, Fabiana Bardi informou, por meio da assessoria, que os cursos promovidos em parceria com a Escola de Saúde Pública (ESP-MT) são fundamentais para o processo de captação de órgãos e tecidos em Mato Grosso.
“Os funcionários dos hospitais notificadores de órgãos precisam estar constantemente preparados para que as ações necessárias sejam tomadas com muita celeridade e eficiência no serviço. As informações precisam ser repassadas à família dos potenciais doadores”, disse.
Entre as atividades previstas ao longo do mês, estão panfletagem, distribuição de materiais impressos sobre o tema e cursos sobre identificação de potenciais doadores de órgãos e tecidos.
Nesta sexta-feira (12), a SES-MT promove também um curso de comunicação em situações críticas para a equipe multiprofissional dos hospitais notificadores.
“O objetivo específico é capacitar os funcionários para o diálogo sensível e esclarecedor com famílias de pacientes em estado crítico. Isso favorece decisões conscientes sobre a doação de órgãos, para que cada vez mais pessoas autorizem que os órgãos e tecidos de seus parentes sejam captados e transplantados em alguém que precisa para sobreviver”, informou a coordenadora da CET, Anita Ricarda da Silva.
OUTROS DADOS – Em 2024, a SES-MT informou que foram realizadas 13 captações de múltiplos órgãos, com 36 órgãos retirados, sendo 22 rins, 10 fígados e quatro corações. Também foram captadas 552 córneas e realizados 417 transplantes de córneas.
Neste ano, a Central já realizou a captação de múltiplos órgãos de sete doadores.
Foram captados 20 órgãos, sendo 14 rins, cinco fígados e um coração.
De janeiro a 25 de agosto, foram feitos 232 transplantes de córneas em Mato Grosso.
A captação pode ser feita em qualquer unidade hospitalar da rede pública ou privada de Mato Grosso.
O Hospital São Mateus é o responsável por realizar transplante de rim pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e o Instituto de Olhos, credenciado e habilitado para a coleta de tecidos, para o transplante de córneas.

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