PF cita notas suspeitas e influência de marqueteiro na Unimed Maurício Coelho recebeu R$ 1,8 milhão; ele teria influência nas decisões para a fraude da cooperativa

Relatórios da Polícia Federal produzidos no âmbito da Operação Bilanz identificaram quatro notas fiscais, somando R$ 1,8 milhão, emitidas pela empresa Coelho Inteligência e Propaganda Ltda ME, pertencente ao marqueteiro Maurício Coelho, por supostos serviços prestados à Unimed Cuiabá.

Causa estranheza o e-mail enviado por Eroaldo a Ana Paula poucos dias antes das eleições, contendo quatro notas fiscais emitidas pela empresa Coelho Inteligência e Propaganda

Segundo a atual diretoria da Unimed, as notas foram pagas integralmente.

Os documentos, conforme a PF, “causam estranheza” por terem sido enviados poucos dias antes da eleição da nova diretoria, todos no mesmo dia e em um intervalo de tempo muito curto.

A Operação Bilanz apura um rombo de R$ 400 milhões no balanço contábil da cooperativa referente ao exercício de 2022, na gestão de Rubens Carlos de Oliveira Júnior.

Além de Rubens, também são investigados Suzana Aparecida Rodrigues dos Santos Palma (ex-diretora financeira), Jaqueline Proença Larrea (ex-assessora jurídica e namorada de Maurício), Eroaldo de Oliveira (ex-consultor executivo), Ana Paula Parizotto (ex-superintendente administrativa-financeira) e a contadora Tatiana Gracielle Bassan Leite (ex-chefe de núcleo de compliance).

De acordo com o relatório, Eroaldo de Oliveira enviou a Ana Paula Parizotto quatro notas fiscais supostamente emitidas pela empresa de Maurício Coelho.

No corpo do e-mail, ele afirmou que os documentos se referiam a serviços previstos em contratos assinados por Rubens e Suzana.

As notas foram emitidas no mesmo dia, 27 de fevereiro de 2023, entre 16h33 e 16h47, e totalizam R$ 1,8 milhão.

A PF também encontrou cópias de aditivos contratuais com a empresa de Maurício, datados de 15 de dezembro de 2022 e 25 de outubro de 2022, nos valores de R$ 910 mil e R$ 380 mil.

Os investigadores, no entanto, constataram que os documentos parecem ter sido criados digitalmente em 28 de fevereiro de 2023, um dia após o envio das notas por e-mail.

“Adicionalmente, causa estranheza o e-mail enviado por Eroaldo a Ana Paula em 27/02/2023, poucos dias antes das eleições, contendo quatro notas fiscais emitidas pela empresa Coelho Inteligência e Propaganda Ltda ME. Todas as notas foram geradas no mesmo dia, em curto intervalo de tempo, totalizando R$ 1.800.000,00 em serviços a serem pagos pela Unimed Cuiabá. Também foram identificados aditivos contratuais da referida empresa, datados de 2022, mas cuja criação digital ocorreu em 28/02/2023, o que levanta dúvidas quanto à autenticidade e à temporalidade dos documentos”, consta no relatório da PF.

Veja:

Influência

Os relatórios da Polícia Federal descrevem que Maurício Coelho tinha um papel relevante em ações de comunicação e de natureza política na Unimed Cuiabá, além de participar ativamente da campanha eleitoral de Rubens para a presidência da cooperativa.

Conforme a PF, mensagens analisadas indicam que o marqueteiro redigia textos e respostas destinadas ao Conselho Fiscal, sugeria encaminhamentos políticos dentro da cooperativa e teria participado, ainda que informalmente, de discussões relacionadas ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

Ele também orientava retaliações contra pessoas que acreditava criticá-lo e defendia a importância de que o balanço de 2022 fosse fechado de forma positiva, para evitar desgaste da gestão de Rubens.

Veja:

Sites difamatórios

Após a saída da antiga diretoria, a PF identificou indícios de que Maurício passou a utilizar sites e redes sociais do Instituto Brasil Cooperado (IBC) para disseminar conteúdos negativos contra a nova gestão.

Conversas de maio de 2023 revelam que Rubens informou a Eroaldo que iria “contra-atacar” e que estava alinhado com Maurício.

Ele também dá a entender que pretendia prejudicar Maria Gladis, ex-contadora da Unimed, e menciona a criação de um site voltado à “comunicação com o cooperado”, que buscaria associar críticas à atual gestão a uma suposta oposição interna.

Veja:

Rubens informou a Eroaldo que iria “contra-atacar” e que estava alinhado com Maurício

Entre as páginas citadas pela PF estão o site Transmissão Política e o IBC News, ligado ao Instituto Brasil Cooperado. Segundo o relatório, o IBC News teria sido criado pelo próprio Maurício em agosto de 2024, com CNPJ registrado na Avenida Paulista, em São Paulo.

A PF apontou ainda que Maurício utilizou o site e o Instagram do Instituto Brasil Cooperado para publicar conteúdo massivo com críticas à gestão atual, replicando narrativas alinhadas com líderes da antiga diretoria, como Rubens e Eroaldo.

Após Rubens deixar o poder, Coelho passou a direcionar a produção de conteúdo digital com ataques à nova administração e a prospectar sites e páginas para ampliar o alcance das críticas.

“Já na metade do ano de 2023, Maurício avisa Eroaldo que está publicando notícias no 'transmissão', se referindo ao website Transmissão Política, inclusive envia dois links de referentes a notícias vinculadas à atual gestão da Unimed Cuiabá”, consta no documento.

“Ainda com relação às publicações de supostas notícias em websites, Maurício, no dia 07/09/2024, envia os links do site e do Instagram do 'Instituto Brasil Cooperado' (IBC), pedindo a opinião do Eroaldo. Inclusive, Maurício cita um "portal de notícias" vinculado ao IBC e envia o link: https://ibcnews.com.br”, diz outro trecho do relatório.

Em junho deste ano, Maurício foi alvo da Operação Short Code, deflagrada pela Polícia Civil para apurar a suspeita de crimes cibernéticos e campanha difamatória contra a atual diretoria da Unimed Cuiabá.