Emerson decide, vai para a galera e eterniza "favelado" na história
Noite de quarta-feira, 4 de julho de 2012, 23h11min43s. Foi nesse exato momento que um homem deu o chute que libertou - no literal sentido da palavra - para sempre 30 milhões de torcedores de uma agonia que parecia sem fim. O mesmo homem que, na semana passada, fez acontecer na mística Bombonera e saiu avisando ao Boca Juniors, simplesmente o maior clube do continente: "sou favelado, não tenho medo de ninguém". Não foram apenas palavras: ele mostrou nesta quarta-feira, ao marcar simplesmente os mais importantes gols da história do Corinthians, do título da Copa Libertadores da América. Esse homem é Emerson.
Emerson tem a cara do Corinthians. E vice-versa. Polêmico, brigão, encrenqueiro, o atacante chegou ao clube alvinegro no ano passado com fama de boêmio carioca. E com classe: canetinhas em cima de são-paulinos, atuações de gala em clássicos e um dos principais nomes do pentacampeonato brasileiro de 2011. Mas Emerson queria mais... E conseguiu. Foram dos seus pés que saíram chutes certeiros, potentes, que estufaram as redes do Boca Juniors diante de um Pacaembu incendiado nesta quarta... Duas vezes: 2 a 0.
O jogo desta quarta-feira era tratado como questão de honra na cidade de São Paulo. Não só em São Paulo, mas em todo o Brasil: a mobilização de torcedores corintianos pela partida - e também dos rivais, que secaram o quanto puderam a campanha da equipe na Libertadores - foi comparada por especialistas e jornalistas brasileiros como equivalente a de jogos de Copa do Mundo. Mais de 20 mil corintianos ficaram de fora do Pacaembu na decisão de hoje sem ingresso. Outras centenas de milhares foram às ruas desde o período matutino com fogos, rojões... A festa estava armada. Faltava o protagonista, o maestro, o regente de uma festa armada para ser a libertação de um clube.
Emerson começou o jogo mostrando que ele poderia ser este homem. Como foi Basílio, em 1977, o autor do gol que salvou o Corinthians de um jejum de 23 anos sem títulos. Como foi Tupãzinho, em 1990, o goleador que livrou o clube alvinegro da sina de jamais vencer um torneio nacional. Faltava alguém para libertar o time do Parque São Jorge do Brasil, fazê-lo rumar às terras continentais depois de 102 anos. E, logo aos 10min, o camisa 11 pediu a bola, partiu para cima dos rivais, aplicou uma canetinha e por pouco não abriu o placar.
Ele não parou por aí: deu chapéu, provocou, discutiu e deixou o primeiro tempo do jeito que a fiel torcida gosta. Durante a semana, um jornal argentino havia escrito uma crônica em que o atacante brasileiro era o único homem do time corintiano que poderia ofuscar Riquelme: "a incrível história de Emerson, o jogador que tem problemas com a polícia, se envolve em polêmicas constantes e, mais do que tudo, é decisivo". Nada mais completo para decifrar este atleta.
O segundo tempo foi perfeito. Único. Foi de Emerson. Aos 8min, a bola sobrou nos pés dele na grande área argentina para uma conclusão magnífica... 1 a 0. O Pacaembu veio abaixo. Lágrimas. Emerson foi para a galera. Subiu no alambrado. Atirou-se no chão. Fez o que pode. "Festa na favela", cantavam as arquibancadas. E de um favelado. Que tinha mais uma surpresa guardada para a torcida que o transformou em ídolo. Puxou contra-ataque, passou pelo zagueiro e fez o segundo. Do título.
O resto do jogo foi mera formalidade. Emerson driblou, cantou, chorou, foi para a galera mais uma vez na comemoração. Abraçou reservas, torcedores, fotógrafos, abraçou 30 milhões de torcedores que tinham um único torneio entalado nas gargantas. Um torneio que insistia em ser o carma do mais popular clube de São Paulo, um torneio que não deixava o Corinthians ser o que é: gigante. Como Emerson. Nunca um homem foi tão Corinthians em um único jogo, justamente no mais importante da história. Emerson é libertador... E o Corinthians, enfim, Libertadores. Para sempre.
Comentários