Ao buscar empréstimo para fomentar a movimentação de seus negócios, o empresário tem duas opções: juros mais baixos, mas a incerteza frente ao dólar oscilante, ou a estabilidade de se pegar empréstimos em real com a contrapartida de juros mais altos e condições menos favoráveis. O Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) registrou um crescimento de 37% na consulta para resgate no fundo no primeiro quadrimestre do ano em relação ao mesmo período de 2011, o que pode projetar uma migração de resgate de capital do externo para o interno. Para o especialista em finanças e economia Andre Massaro, a redução de atuação do IOF sobre empréstimos externos (de cinco para dois anos) não é suficiente para suprir a alta nos custos de se buscar dinheiro fora do Brasil. "O que influencia é a questão da variação cambial. Com o dólar rompendo a barreira dos R$ 2, a pessoa que habitualmente toma dinheiro no exterior tem que refazer as contas porque, para pagar de volta o empréstimo, ele vai ter que usar mais reais. Fica mais caro", explica.
A tensão do mercado e a incerteza gerada por um câmbio oscilante puxam o freio principalmente de quem mais usa dinheiro para fazer o negócio girar. Se isolados os números por setor, o crescimento nas consultas ao BNDES foi ainda mais expressivo para os industriais, cerca de 71%. O assessor de assuntos estratégicos da presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Ribeiro, diz que o impacto do dólar mais valorizado é maior no sentido de tornar os produtos nacionais mais competitivos frente aos importados a médio prazo que em frear os investimentos. "O problema é que se precisa achar um câmbio que não mate a produção nacional e que não acabe com a importação. Precisa ser equilibrado. Claramente, o dólar a R$ 1,60 estava favorecendo a importação. Por R$ 2,00 equilibra os interesses", diz Ribeiro, que revela que a Fiesp está contente com as medidas tomadas pelo governo em busca de uma estabilidade da moeda norte-americana.
O gerente executivo de políticas econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flavio Castelo Branco, corrobora com a tendência mostrada pelos números do BNDES, dizendo que acredita que, por mais que os juros ainda sejam maiores que os do mercado do crédito externo, a oscilação do dólar faz com que o risco de sofrer prejuízo caso a moeda valorize ainda mais é muito grande.
Massaro projeta que o custo mais elevado para o crédito possa ser repassado aos produtos, o que geraria uma pressão inflacionária. Essa não é a intenção dos industriais, segundo a Fiesp. "A tendência não é repassar o valor para o produto. Quando o mercado está fraco e produtos importados têm facilidade para entrar no país a indústria não consegue repassar preço", diz Ribeiro. Ele também afirma que, se a curto prazo a alta do dólar parece algo amedrontador, a médio prazo pode acabar gerando uma substituição de matéria prima importada por nacional, o que resulta em um efeito positivo.
Para o especialista em finanças, se o cenário internacional - crise na Europa e nos Estados Unidos, diminuição no crescimento chinês - permanecer, o câmbio deve manter-se em alta. "Mantidas as atuais conjunções de medo, de tensão, de receio, é razoável a gente achar que a tendência do dólar é para cima, ou seja, encarecendo ainda mais os empréstimos no exterior. Frente a esse cenário, a Fiesp acredita que ainda há espaço para melhoria nas condições de concessão de crédito do BNDES, o que diminuiria o prejuízo de quem precisa de dinheiro para fazer seu negócio girar."
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