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Nacional
Domingo - 10 de Novembro de 2013 às 18:14

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Para colocar um ponto final numa onda de depredação de pequenas caixinhas do sistema de alarme dos elevadores do condomínio Belle Vie, na Freguesia, a síndica Elizabeth Pilouchas decidiu instalar câmeras de vigilância nos saguões dos três blocos de apartamentos. Deu certo: desde meados do ano passado, os equipamentos estão a salvo. O vandalismo custou R$ 1.023 aos mil condôminos — foram 11 caixinhas quebradas — e acabou justificando a necessidade de ampliação do rigor na vigilância. A escalada do monitoramento no Belle Vie impressiona: em 2011, a construtora entregou o condomínio com três câmeras. Hoje, são nada menos do que 32 olhos eletrônicos, um aumento de 966%. Elizabeth quer mais e planeja instalar outros 16, principalmente na garagem.



O fenômeno se espalha por toda a cidade. Prédios, galpões, empresas e residências do Rio contam com 700 mil câmeras de segurança, o que equivale a um equipamento a cada nove cariocas, segundo estimativa do Sindicato das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança do Rio (Siese-RJ). Um mercado que cresce em média 10% ao ano, aproxima-se da média de São Paulo — a capital paulista tem uma câmera para cada oito pessoas — e parece não ter limites. Presidente do Siese-RJ, Denise Mury comemora os avanços dos “condomínios inteligentes” no Rio e observa que o mercado ainda está em ascensão:


 
— Passamos por pelo menos dez câmeras de casa até o trabalho todos os dias. Uma câmera para ambientes internos, com instalação, custa em média mil reais. Não é caro. Há 30 anos, vigilância eletrônica era coisa de grandes empresas. Hoje, qualquer condomínio tem — analisa Denise.
Ela reconhece que a ausência de um marco regulatório da segurança privada torna a questão ainda bastante nebulosa:
— O estatuto da segurança privada está em tramitação há muito tempo no Congresso, e podemos ter novidades até a Copa. Uma questão que precisa ser definida é: quem efetivamente pode atuar na instalação de equipamentos? O mercado clandestino de câmeras, controles de acesso e alarme tem crescido assustadoramente.


 
Denise diz que o Rio está despertando para o mercado de vigilância eletrônica:


 
— O consumidor de São Paulo sempre investiu mais em prevenção. O Rio está despertando para essa questão agora. Um desafio é associar equipamento a treinamento. Não adianta ter a câmera. É preciso ter quem a opere com qualidade.

 
 
Os limites entre segurança e privacidade



 
Os números do Rio não incluem as cerca de mil câmeras nas ruas mantidas por prefeitura e governo do estado. Com tantos equipamentos espalhados, numa realidade que lembra a imaginada por George Orwell no romance “1984”, o debate é inevitável: até que ponto a garantia de segurança não implica invasão de privacidade? Há dois anos, por exemplo, jovens franceses foram às ruas criticar o sistema de monitoramento da prefeitura de Paris, que recuou e decidiu não estender a vigilância eletrônica. Doutor em planejamento urbano e professor da PUC do Paraná, Rodrigo Firmino atenta para outra questão importante: é do Estado a responsabilidade por garantir a segurança de espaços públicos.


 
— Em Curitiba, moradores de classe média alta têm se organizado para instalar, por conta própria, câmeras no perímetro de suas residências e condomínios, para monitorar não suas propriedades, mas as vias públicas do entorno. Acredito que essa realidade ocorra em várias cidades do Brasil. Acontece que a responsabilidade pela qualidade e pela segurança dos espaços públicos é exclusividade do Estado. Que direito têm esses cidadãos de monitorar as vias públicas de maneira privada?


 
O administrador da Creche Mundo Kids Ltda, Marcos Vinícius Costa Pinto, garante ter tomado todos os cuidados nesse sentido ao instalar, a partir de 2010, as 16 câmeras na unidade no Engenho Novo, onde estudam 142 alunos:


 
— Nós começamos com quatro câmeras, há três anos. Mas o reforço da segurança se tornou algo fundamental para o dia a dia da empresa. Tivemos o cuidado de só instalar os equipamentos nas salas de aula e nos pátios. Respeitar a privacidade dos alunos e dos funcionários é algo fundamental e imprescindível.


 
Ex-capitão do Bope, antropólogo e especialista em segurança pública, Paulo Storani ressalta que algumas pessoas optam por monitorar o que acontece dentro de suas próprias casas. Dessa forma, não se pode dizer que houve invasão de privacidade.


 
— Eu tenho 12 câmeras na minha casa, e todas mostram o que acontece nas áreas externas. Eu posso monitorá-las à distância e por 24 horas. Minha privacidade está garantida da porta para dentro. E as câmeras ajudam a inibir os delitos. Às vezes, os próprios donos permitem que a vida no interior de suas casas seja monitorada. O importante é saber exatamente quem tem as senhas de acesso e ter garantia da idoneidade da empresa que instalou os equipamentos — avalia Storani.

 
Não raro, as câmeras prestam importantes serviços públicos, ao registrar furtos, agressões e detalhes de acidentes de trânsito. Marcos Vinícius, por exemplo, acabou fornecendo imagens imprescindíveis para o desfecho do inquérito da Polícia Civil sobre um acidente que ocorreu na esquina onde a Creche Mundo Kids está localizada. A batida resultou na morte de um idoso, em junho.


 
— Tenho três câmeras que filmam as áreas externas e podem registrar o que ocorre a 30 metros de distância. As imagens ficam armazenadas por até 40 dias. A polícia solicitou as imagens. Num futuro próximo, quero instalar mais oito câmeras. Já gastamos R$ 10 mil — conta.


 
Elizabeth Pilouchas diz que os gastos com vigilância no Belle Vie representam 16% do orçamento mensal do condomínio:


 
— Exigimos a identificação de todos os visitantes. Quem não fornece a identidade não entra.


 
Túnel Zuzu Angel: ponto cego


 
Em tempos de grandes eventos, como Copa e Olimpíadas, o monitoramento oficial também está em expansão. A Secretaria de Segurança está implantando um sistema com 450 equipamentos novos, ao custo de R$ 62 milhões por dois anos de contrato. Suas imagens serão monitoradas no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). O sistema atual, que será substituído, tem cerca de 380 câmeras e existe desde 2006.


 
O Centro de Operações Rio controla 580 equipamentos da prefeitura instalados nas ruas e recebe imagens de cerca de 300 câmeras de concessionárias. Mas, mesmo com tanta vigilância, a cidade tem pontos cegos difíceis de entender. Com extensão de 7,5 quilômetros, a Autoestrada Lagoa-Barra só conta com dez aparelhos. O Túnel Zuzu Angel não tem câmeras. A prefeitura informou que ainda não há previsão de quando os equipamentos serão instalados.




Fonte: O Globo

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