Repórter News - reporternews.com.br
Variedades
Quinta - 28 de Junho de 2012 às 14:43

    Imprimir


 
Adriano Moraes conquistou três vezes o campeonato mundial, em Las Vegas. Foto: Andre Silva/ Divulgação


Adriano Moraes conquistou três vezes o campeonato mundial, em Las Vegas. (Foto: Andre Silva/ Divulgação)



Ele é considerado o melhor peão brasileiro de todos os tempos e um dos melhores do mundo. Com 27 ossos quebrados e nove cirurgias ao longo da carreira, Adriano Aparecido Silva Moraes, ou apenas Adriano Moraes, acumulou dezenas de títulos, em especial, o tricampeonato mundial em Las Vegas, nos Estados Unidos. Aposentado em 2008, o ex-competidor, nascido em Quintana (SP), conversou com o Terra por telefone sobre a vida, a carreira e a fama que conquistou no Brasil e exterior. Confira.

Terra: Com quantos anos começou a montar em touros?
Adriano Morais: Não era touro, era bezerro. Eu comecei com quatro anos. Na minha época não tinha videogame e, como morava em fazenda, a gente arruma um modo de se entreter e nossa diversão era montar em bezerro.

Terra: E quanto aos touros?
AM: Eu tinha, mais ou menos, 15 anos. Um amigo me chamou para ir a um desfile na cidade. Eles levaram um touro de fazenda para a gente montar. Eu montei e acho que gostei da brincadeira.

Terra: Quando percebeu que tinha talento para o esporte?
AM: Quando assisti o primeiro rodeio profissional, com 15 anos. Vi que o que eu fazia brincando na fazenda, os peões faziam como profissão. Resolvi arriscar em alguns rodeios amadores e percebi que estava até "mais ou menos" para fazer da montaria uma profissão.

Terra: Você ganhou o primeiro rodeio amador que participou?
AM: Não, mas ganhei um campeonato amador em Americana (SP).

Terra: Um de seus apelidos era "Ayrton Senna dos rodeios"...
AM: Tive vários apelidos. O "Ayrton Senna dos rodeios" veio na época em que ele ganhava várias corridas e teve um tempo, aqui no Brasil, que eu ganhava muito eventos. Por isso, ficou "Ayrton Senna", mas era só o locutor que falava. Ninguém me chamava assim.

Terra: Como era ser comparado a um ídolo nacional?
AM: Eu nem ouvia o que o locutor falava (risos).

Terra: Mas você sabia?
AM: Sabia, mas nunca dei muita atenção para o que o locutor falava. Nunca fiquei lisonjeado, porque, infelizmente, são poucos os locutores que os peões dão crédito. Hoje, nós temos dois ou três locutores profissionais.

Terra: Quais foram os outros apelidos que recebeu?
AM: Não foram apelidos. Era um locutor ou outro que falava. Um dizia que eu era o "Ayrton Senna dos rodeios". Outro falava "Pelé dos rodeios", mas nada sério. Era um argumento para os locutores falarem. Nunca liguei para isso, não.

Terra: Qual foi a montaria mais importante da sua vida?
AM: Não tem. Acredito que a minha primeira montaria profissional, em Pederneiras (SP), em 1988, foi tão importante quando a última, em 2008. Agora, se você me perguntar sobre as montarias memoráveis, então são várias. Uma em Presidente Prudende (SP), no touro Macaco (Tião Procópio). Não lembro a nota, mas foi uma das mais perfeitas montarias da minha vida. Depois, no touro Silverado (Cia Paulo Emílio), em Rio Verde (GO), em 1999, também foi uma das melhores montarias que fiz. Outra montando o touro Mossy Oak Mudslinger, no Novo México (Estados Unidos), em 2002 ou 2003. E também a final de 2006, que me ajudou a ganhar o campeonato mundial pela terceira vez.

Terra: Qual o touro mais difícil ou perigoso que já enfrentou?
AM: O Bandido foi um deles. Dos peões mais conhecidos, fui a primeira "vítima". Antes de mim, o Bandido era um touro conhecido em Goiás, mas desconhecido no resto do Brasil. Só montei uma vez.

Terra: E quanto ao Bodacious, considerado um dos mais perigosos touros da...
AM: Graças a Deus nunca montei naquilo. Se tivesse montado, ele teria me rachado no meio. Era muito mais perigoso que o Bandido. Quando o Bandido derrubava, ele pegava (acertava o peão no chão). O Bodacious machucava quando você estava em cima dele. Eu vi praticamente a carreira inteira do Bodacious, inclusive, vi o Clint Branger (peão americano que se aposentou em 2000) parar em cima dele.

Terra: Você já sofreu algum ferimento na montaria?
AM: Já tive 27 ossos quebrados e fiz nove cirurgias. O mais complicado, das cirurgias, foi a reconstrução da maçã do lado esquerdo do rosto. Mas o que mais comprometeu meu desempenho foi um deslocamento no cotovelo esquerdo. Fiz uma cirurgia por causa disso. Podia ter custado minha carreira, quase não recupero o braço.

Terra: Você tinha algum ritual antes da montaria?
AM: Não, tínhamos uma rotina. Eu sou católico e faço minhas orações diárias, mas não era uma questão de ritual, era por fé mesmo.

Terra: Como chegou nos Estados Unidos?
AM: Eu fui com a cara e com a coragem. Eu conhecia uma pessoa lá, o Charles Sampson, campeão mundial em 1982. Ele veio ao Brasil dar um curso de montaria e eu fiz. Ele disse que eu montava bem e que se quisesse ir aos Estados Unidos competir podia ligar. Conversei com meu professor de inglês e perguntei se ele podia me ajudar a ir assistir a final do mundial, que acontece em Las Vegas, e também ficar lá um ou dois meses. Foi assim que eu parti para os Estados Unidos pela primeira vez, em dezembro de 1992.

Terra: Você morou nos Estados Unidos e...
AM: Depois dessa viagem, voltei para o Brasil. Naquela época, ganhava mais dinheiro aqui do que nos Estados Unidos. Ainda não existia a PBR (Professional Bull Riders). Não era financeiramente vantajoso ficar lá. Mas através do primeiro Barretos International Rodeo, que fizemos em 1993, quando voltei para os Estados Unidos junto com a comissão organizadora de Barretos, convidamos alguns peões para competir no Brasil. Eles vieram e gostaram. Nessa época, a PBR já tinha sido fundada. Em 1994, surgiu o primeiro campeonato da PBR e queriam o que tinha de melhor do mundo. Daí, eles me convidaram. Fui para os Estados Unidos para fazer a temporada de 1994 e acabei ficando.

Terra: De certa forma, você trouxe o rodeio internacional para o Brasil.
AM: Foi uma ideia em conversa com os Independentes, de Barretos. Eles já tinham o projeto de fazer um rodeio internacional e me perguntaram se eu achava que seria possível.

Terra: Depois de suas conquistas nos Estados Unidos, os peões brasileiros foram mais reconhecidos?
AM: No começo era só eu mesmo. Fui o pioneiro, mas não o responsável por fazer os brasileiros conhecidos lá fora. Isso é mérito deles.

Terra: Qual sua maior decepção na arena?
AM: Acho que todas as vezes que caía do touro. Talvez, a maior decepção tenha sido em 2004, quando eu liderava o campeonato por vários pontos e tive uma contusão. Fiz uma final medíocre e perdi o título.

Terra: E a maior conquista?
AM: O tricampeonato mundial em 2006, pela minha idade (36 anos na ocasião) e condição física e pela final em si. Quase fiquei impossibilitado de montar porque tinha três hérnias de disco.

Terra: O que você faz atualmente?
AM: Hoje, cuido da minha fazenda aqui e nos Estados Unidos. Sou acionista da PBR e diretor da PBR mundial lá nos Estados Unidos. No Brasil, sou um dos proprietários da PBR, vou aos eventos e faço propaganda.

Terra: Quem é o melhor peão brasileiro da atualidade?
AM: Sem sobra de dúvidas é o Silvano Alves, campeão mundial no ano passado. Eu também falaria o Robson Palermo, que tem muito potencial, mas se machuca demais. Acredito que ele nunca ganhou um campeonato mundial por se machucar tanto. Infelizmente, a gente não pode compará-lo aos grandes peões porque ele não tem nenhum título mundial, mas acredito que está entre os melhores.

Terra: Como foi a decisão de parar de montar?
AM: Eu parei em 2008, mas a decisão surgiu no começo de 2007. Eu sabia que não conseguiria ser mais competitivo. Quando você se dá conta que não é suficiente para parar em todo tipo de touro, essa é a hora de abandonar. Vi que isso aconteceu em 2007. O ano de 2008 foi de despedida. A PBR pediu para que anunciasse a despedida um ano antes para que os fãs pudessem ver o Adriano Moraes montar pela última vez na sua cidade.





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/48022/visualizar/