Com a crescente violência contra taxistas em Manaus, a categoria tem buscado se proteger dos criminosos por meio de novos mecanismos de segurança. Temendo ação dos assaltantes e para continuar no serviço de transporte de passageiros, taxistas da capital começaram a recorrer às cabines blindadas. Em Manaus, a instalação do equipamento nos veículos custa em torno de R$ 4.200.
O Sindicato dos Taxistas do Amazonas (Sindtáxi) divulgou que diariamente taxistas no exercício da profissão são assaltados nas ruas da capital. Segundo o presidente da entidade, Luiz Augusto Aguiar, as vítimas desapontadas no que se refere à solução dos crimes, já não procuram às delegacias para registrarem Boletins de Ocorrência (BO). Cinco profissionais morreram este ano vítimas de latrocínio na capital.
“Estamos vivenciando uma situação muito complicada. Além dos assassinatos, a categoria está apreensiva com os frequentes assaltos. Os bandidos não se contentam em levar a renda do trabalhador, equipamentos e até o carro, assaltam e ainda matam. A categoria não suporta. E os colegas taxistas vítimas dos roubos não estão registrando Boletim de Ocorrência, pois muitos acham que não adianta”, relatou Luiz Augusto.
Os taxistas de Manaus são conhecidos pela união em defender a segurança da categoria. Diante do perigo iminente de assaltos e assassinatos na cidade, muitos tentam fazer justiça com as próprias mãos quando se deparam com autores dos crimes contra os profissionais do setor. Questionado pela adoção do uso de armas de fogo pelos taxistas, o representante não confirma, no entanto, não descarta que haja casos.
“Oriento os colegas taxistas a não fazerem justiça com as próprias mãos, mas muitos na hora da revolta com essa situação que enfrentamos, acabam não seguindo esse conselho. Já o uso de armas eles sabem que não é permitido”, destacou o presidente do Sindtáxi.
Para Aguiar, não há possibilidade de redução das corridas como forma de prevenção. “Vivemos disso, não podemos deixar de fazer corrida, inclusive na madruga. Se o taxista não pega a corrida, vem outro e faz o transporte do passageiro”, disse.
Corpo do quinto taxista vítima de latrocínio neste ano em Manaus (Foto: Reprodução/TV Amazonas)
Plano de Segurança
Inconformados com a crescente violência contra os taxistas, a categoria pressionou os gestores da segurança pública do Amazonas para a implantação de medidas imediatas de coibição dos crimes. Entre as estratégias traçadas pela direção do sindicato e o Governo do Estado, estão às ações intensificadas de fiscalização.
“Em recente reunião com o secretário estadual de Segurança Pública, coronel PM Paulo Roberto Vital, foi discutida a questão da realização de ações mais efetivas pela polícia. Agora os taxistas terão prioridade nas blitzes da Polícia Militar. A orientação é que mesmo com clientes que desaprovem a ideia da blitz, o taxista converse com passageiro e o convença da importância da parada de revista. A medida é necessária para nossa própria segurança”, frisou Luiz Augusto Aguiar.
Outro ponto reivindicado pela categoria refere-se à disponibilização da linha de crédito para aquisição de cabines blindadas a serem instaladas nos veículos. “Na audiência com o governo, o coronel Paulo Vital assegurou a concretização do financiamento das cabines para os taxistas por meio de linha de crédito pela Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam). O pagamento poderá ser feito em 48 parcelas. Porém, nem todos os colegas querem a cabine blindada”, revelou o presidente do Sindtáxi.
Taxista Anderson Carvalho de Souza é um dos primeiros a utilizar cabine de segurança (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
Cabine Blindada
Atendendo a reivindicação da categoria, o Governo estadual firmou parceria com uma empresa amazonense, que atua no mercado há 5 anos, objetivando iniciar a produção das cabines blindadas em regime de urgência na capital. De acordo com a representante da empresa, Keyla Roberta Lima, os trâmites burocráticos para criação da fábrica estão sendo concluídos para que dentro do prazo de 30 dias seja iniciada a produção das cabines.
“A princípio as cabines seriam encomendadas de outro estado e custariam cerca de R$ 7 mil, mas as cabines passarão a ser fabricadas em Manaus. A fábrica já está em fase terminal de instalação. Até final do mês de junho a fábrica estará em funcionamento no Bairro Praça 14 de Janeiro, Zona Sul de Manaus, inicialmente, empregará de forma direta 20 trabalhadores. Cada cabine custará em torno de R$ 4.200. O pagamento será parcelado com a taxa de 7% de juros anuais e desconto de 25% para aqueles que pagarem as prestações em dia”, informou a representante.
Inicialmente, o produto final estava preliminarmente orçado em R$ 3.800 e agora custará R$ 4.200. A empresa justifica o reajuste no preço devido os custos de importação de alguns itens utilizados na confecção das cabines blindadas. “Como temos que começar a produzir o mais rápido possível, tivemos que importar a matéria-prima, policarbonato e isso elevou o valor final do produto”, justificou Keyla Roberta.
Conforme Keyla Roberta, a instalação da cabine demora, em média, um dia para ser instalada no veículo. Cerca de 500 cabines já foram encomendadas por taxistas manauenses. “Eles procuram a Afeam [Agência de Fomento do Estado do Amazonas] para o financiamento que encaminhou os pedidos à empresa. Futuramente, o Coronel Vital da SSP realizará um teste balístico com um modelo da cabine de segurança. As cabines são a prova de balas, marretadas, pedradas e facadas. O projétil é ‘chupado’ pelo policarbonato, ou seja, ele não ricocheteia. Quando for uma bala de maior calibre, a bala também não ultrapassa o vidro, causa, somente, pequenas rachaduras”, assegurou a representante.
Keyla ainda disse que o veículo não é danificado durante a instalação da cabine. A cabine é feita sob medida do veículo e em seguida é encaixada no local. “A cabine protege o lado direito e a parte de trás do motorista. Porém, a frente e o lado esquerdo ficam desprotegidos”, esclareceu.
Protótipo Instalado
O taxista Anderson Carvalho de Souza, há quatro anos atua no transporte de pessoas e há mais de três meses está na praça com a cabine blindada. O profissional avaliou a eficiência do equipamento e a possível inibição das abordagens criminosas.
“Já ocorreram dois casos estranhos após a instalação da cabine. Primeiro três homens no Parque São Pedro queriam ir para o Japiim. A corrida ficou acertada em R$50. No meio do caminho, um deles começou a se fingir de bêbado. Eles então pediram para descer antes do destino. Quando dois deles desceram do carro eu ‘arranquei’, o que estava atrás se fingindo de bêbado ficou. Eu disse que ou ele pagava os R$50 ou ele ia para a delegacia. O homem de repente se recompôs e pagou os R$ 50 e desceu no Japiim.
A segunda situação foi quando dois homens e uma mulher na Max Teixeira [Zona Norte] queriam ir para o Terminal (T4). Eles entraram no táxi e acertaram a corrida. Um pouco antes eles mudaram de ideia, pagaram a corrida e desceram do carro”, relatou o taxista.
Segundo Anderson Carvalho, isso aconteceu porque os criminosos não veem devido ao insulfilm que ele tem uma cabine de proteção e entram no táxi com a intenção de fazer algo errado. “Quando eles veem quem o plano não vai dar certo, que o taxista está bem protegido, eles mudam de ideia e pedem para descer antes do destino combinado”, enfatizou.
Apesar da minimização dos riscos, o taxista faz ressalva em relação à cabine blindada. “Claro que não estamos cem por cento seguros, mas a cabine dá uma segurança a mais ao profissional. A cabine de proteção tem uma janela, quando pego cliente em casa ela vai aberta, porém quando pego as pessoas na rua, a janela vai fechada. Hoje em dia não podemos confiar em mais ninguém, pois 80% dos casos de assalto ocorrem dentro do veículo”, finalizou Anderson Carvalho.
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