Uma polêmica envolvendo o obstetra Jorge Kuhn, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que defendeu, em entrevista a um programa de televisão, a possibilidade de nascimentos em ambientes extra-hospitalares, desencadeou uma série de manifestações em torno do tema.
Após o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro solicitar à associação paulista a punição do médico, entusiastas do parto em casa realizaram marchas em defesa da prática em diversas cidades brasileiras, inclusive Porto Alegre. A
Marcha do Parto em Casa levou dezenas de mulheres, muitas delas grávidas, ao Parque Farroupilha no domingo, com faixas e cartazes defendendo o direito da gestante de escolher se prefere fazer o parto em sua residência ou em uma maternidade.
O obstetra José Geraldo Ramos, professor de obstetrícia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considera o parto domiciliar um retrocesso na medicina. Entre os principais argumentos contrários à prática está a agilidade para contornar complicações no hospital, em casos de hemorragias, infecções e paradas cardíacas.
— Do ponto de vista médico, seria muito arriscado depender de uma transferência, o que não se justifica nem mesmo na rede pública, onde um dos serviços mais bem organizados é justamente a maternidade — argumenta Ramos.
Segundo o médico, estudos feitos na Holanda, um dos países onde mais se realizam partos domiciliares, mostram que a mortalidade de bebês nascidos em casa é muito maior do que nascidos graves em hospitais. Ramos destaca, ainda, que as mulheres podem optar pelo parto normal em maternidades, contando com os recursos hospitalares.
Já o ginecologista e obstetra Alberto Jorge de Sousa Guimarães, defensor do parto humanizado, afirma que é possível a gestante ter o direito de ser a dona do seu parto, permitindo que o pai participe ativa e diretamente do processo.
— Um nascimento com a menor necessidade possível de intervenções médicas ou farmacológicas dá ao recém-nascido uma experiência acolhedora neste período de transição — defende Guimarães.
Manifestação nacional
Um dos destaques da Marcha do Parto em Casa em São Paulo foi o obstetra Jorge Kuhn, defensor da tese de que o Brasil poderia reduzir o número de cesarianas e de que muitos partos não precisam, necessariamente, ocorrer um hospital.
— Talvez eu tenha sido o estopim de um movimento que existe há bastante tempo em São Paulo e no Brasil, e o que faltava era dar maior visibilidade — disse o médico à
Agência Brasil.
Sobre o fato de o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro ter pedido que ele fosse punido por defender tal posição, Kuhn disse que tudo não passa "de desconhecimento, o que faz com que as pessoas rejeitem as coisas". Ele lembrou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que apenas entre 10% e 15% dos bebês nasçam por meio de cesariana.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2010, 52% dos partos no país foram cirúrgicos. Na rede privada, o índice chega a 82% e na rede pública, a 37%.
Conheça alguns dos argumentos:
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