Filha da idosa, Maria Aparecida Moreira Selvatti, 50 anos, diz que a mãe sofria de doença de Chagas, tinha um marcapasso e às vésperas da morte se queixava de dores do lado esquerdo do abdômen. Como morava em frente à casa da mãe, no Jardim Novo Mundo, foi ver como ela estava na manhã de terça. Ao entrar na residência, a encontrou praticamente desacordada.
Ela levou a idosa ao Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Jardim Novo Mundo, onde médicos declararam que ela havia morrido em consequência de uma para cardíaca. Mas a suspeita de que mulher poderia estar viva ao ser levada para o Serviço de Verificação de Óbito fez aumentar a dor da família.
Na certidão emitida pelo Instituto Médico Legal (IML), como causa da morte aparece: "a esclarecer". Segundo Maria Aparecida, o documento diverge do parecer apresentado aos familiares no Cais do Jardim Novo Mundo por volta das 8h de terça, quando médicos atribuíram a morte a uma parada cardíaca.
Necrotério
A confusão ocorreu no Serviço de Verificação de Óbito, quando a filha aguardava a liberação do corpo da pensionista. De acordo com Maria Aparecida, enfermeiros foram chamados às pressas porque uma mulher levada para o local estaria viva. "Percebi que era a minha mãe e fiquei muito aflita, porque ela ficou muito tempo sem oxigênio", diz.
Segundo a filha, funcionários do local relataram que a mulher apresentava pulsação e que tentariam reanimá-la. Mas por volta das 11h40, no entanto, informaram que a pensionista realmente havia morrido. A família ficou indignada com a situação e, por causa da dúvida, o corpo foi encaminhado ao IML, situado no mesmo complexo do SVO.
Dúvidas
O documento do IML atesta como local de falecimento o próprio Serviço de Verificação de Óbito. "Por que na certidão fala que ela morreu às 11h46 e não às 8h, como os médicos do Cais disseram?", questiona a filha. A família analisa a possibilidade de procurar a Justiça. "Não queremos indenização, só queremos esclarecer os fatos e mostrar esse descaso", diz.
Procurada pelo G1, a médica Raquel Franco, diretora do SVO, preferiu não falar se a mulher estava viva ou morta ao chegar à unidade: "Qualquer coisa que eu disser agora será precipitado. Vamos aguardar o laudo da IML". A coordenadora não soube informar a data do resultado da perícia.
Um funcionário da unidade que pediu para não se identificar confirmou que a mulher apresentou pulsação durante a necropsia. No entanto, ele acredita que se tratava de um falso sinal vital, por causa do marcapasso da paciente. Segundo o funcionário, há aparelhos que emitem impulsos elétricos por até seis horas após a morte da pessoa.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde, responsável pelo Cais Novo Mundo, informou que "os processos já foram iniciados com vista a elucidar técnica e eticamente as responsabilidades". O comunicado diz que mais esclarecimentos serão possíveis apenas após o resultado da perícia.
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