Acupuntura ainda é praticada por quem não é médico
Um mês após a decisão do Tribunal Federal Regional da 1ª Região, segundo a qual profissionais como fisioterapeutas, psicólogos e farmacêuticos não poderiam praticar a acupuntura, pouca coisa mudou na prática.
Os conselhos de fisioterapia, farmácia e psicologia afirmam que os profissionais que têm a especialização necessária podem continuar praticando a acupuntura, contrariando a ação movida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) Para o conselho, a acupuntura é um ato reservado aos médicos.
"A atividade não tem regulamentação no Brasil que diga que ela é exclusiva de uma ou de outra classe de profissionais", afirma Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia.
"A profissão evolui, novas práticas surgem, e a lei não impede o conselho de incorporar novas atividades ao trabalho do psicólogo", afirma.
Verona diz ainda que o conselho entrou com um recurso contra a decisão no Tribunal Federal Regional da 1ª Região e no Supremo Tribunal Federal.
José Luís Maldonado, assessor técnico do Conselho Federal de Farmácia, disse que os farmacêuticos também podem continuar praticando a atividade, já que a entidade entrou com um agravo de instrumento.
DÚVIDAS CIENTÍFICAS
A técnica, apesar de disputada, tem poucas evidências científicas a seu favor.
As mais recentes meta-análises (estudos estatísticos que avaliam a confiabilidade de várias outras pesquisas) sugerem que apenas certos tipos de dor -em geral crônica- e náusea podem ser tratadas pela acupuntura com eficácia parecida ou superior à de terapias covencionais.
Mesmo nesses casos, "a evidência não é muito forte, e não dá para saber se há grande parcela de efeito placebo", disse à Folha Edzard Ernst, da Universidade de Exeter (Reino Unido).
"Isso quer dizer que precisamos de mais estudos, mas idealmente eles não deveriam ser feitos por entusiastas da acupuntura", afirma Ernst.
Parece haver alguma diferença entre o uso de agulhas nos "pontos" tradicionais da acupuntura e em partes aleatórias da pele. "Mas ela é limitada", diz Klaus Linde, da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha. Pontos "falsos" também produziram efeitos em vários estudos.
Já para o médico acupunturista Hong Pai, do Centro de Dor do Hospital das Clínicas da USP, a eficácia da prática já está comprovada.
"Antes da acupuntura ser liberada como especialidade médica reconhecida no Brasil, houve uma avaliação profunda, que levou em conta muitos aspectos e resultados científicos", diz ele.
Para ele, a execução correta da técnica exige conhecimentos profundos de anatomia, bem como noções básicas de diferentes especialidades, como neurologia, reumatologia e clínica geral. Por isso, diz, a restrição da atividade aos médicos é acertada.
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