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Nacional
Terça - 05 de Novembro de 2013 às 11:56

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Sergey Ushakov/Arquivo Pessoal
Gustavo Costa foi formado pelo Instituto de Química da Unesp de Araraquara, SP
Gustavo Costa foi formado pelo Instituto de Química da Unesp de Araraquara, SP
Uma oferta de trabalho que para muitos parece impossível chegou por e-mail para um cientista brasileiro, que realizou a maior parte dos estudos em escolas públicas. Nascido em Assis (SP), o químico Gustavo Costa, de 37 anos, formado pelo Instituto de Química (IQ) da Unesp de Araraquara (SP), recebeu um convite para ingressar na equipe do Glenn Research Center, em Cleveland, centro de pesquisa em ciências da Nasa - National Aeronautics and Space Administration- , nos Estados Unidos, a partir do dia 15 de novembro.


 
Para o Gustavo, que atualmente mora nos Estados Unidos, o convite foi uma surpresa, mas também a realização de um sonho."Quando eu morava em Assis, percebi que as pessoas falavam em sonhos de uma forma muito utópica. Nos EUA eu constatei que o sonho, na verdade, é um objetivo onde estabelece metas para alcançá-las. A partir do momento em que comecei a fazer isso, vi que podia colocar meu sonho como objetivo. O sonho virou meta e as coisas começaram a acontecer", afirma.


 
A notícia também pegou de surpresa a mãe do jovem, que ainda mora em Assis. Celma Costa conta que Gustavo teve um aprendizado normal, era um bom aluno, no entanto um pouco distante dos "gênios" que costumam atuar nos centros renomados de pesquisa como a Nasa. "Era um aluno comum. Nunca foi brilhante, mas sempre foi muito determinado, tinha muita garra para conseguir o que queria e isso é fundamental para o sucesso”, afirma.


 
O brasileiro vai atuar na área de pesquisa sobre a estabilidade química da atmosfera de planetas fora do sistema solar. Um estudo inédito, como ressalta o químico. “Não só pelo fato de sua natureza inédita, o trabalho cientifico irá trazer novas oportunidades de pesquisa em outras áreas como astrofísica e astronomia. Além disso, estarei trabalhando em colaboração com outras universidades para desenvolver instrumentos analíticos para obter parâmetros importantes da atmosfera desses planetas”, explica.


 
Facilidade com números


 
Gustavo lembra que a inclinação para a área de exatas começou no colegial, quando ainda morava em Assis.  “Eu percebi a partir do colegial eu tinha mais uma aptidão para a matemática, mas isso não queria dizer que eu era bom aluno. Tinha algumas notas na média e vi que tinha mais facilidade para aprender esse tipo de matéria”.


 
Essa facilidade ajudou na escolha da profissão. “Prestei o vestibular e procurei algo próximo da matemática, química ou física e optei por química pelo campo de trabalho no Brasil, que é voltado para a indústria. Essa era a minha visão antes de entrar na faculdade, mas depois isso mudou totalmente. Comecei a fazer iniciação científica logo no primeiro ano e tive mais paixão por ciências e resolvi estender isso para o mestrado e doutorado”, comenta Gustavo.



 
Até a ida para a faculdade de química em Araraquara, a mãe de Gustavo conta que a infância e adolescência do químico sempre foi como a dos outros dois irmãos. “Ele foi uma criança muito saudável e tinha uma vida normal como qualquer outra. No ensino fundamental e médio ele tirava notas na média", destaca. 


 
Segundo Gustavo, apesar do espanto de algumas pessoas para a escolha da química como profissão, principalmente de familiares, os pais sempre apoiaram as suas decisões. “Meus pais sempre apoiaram minhas decisões e em geral a família fica um pouco espantada. Eles falam sempre nas profissões mais tradicionais e cobiçadas no Brasil como direito, medicina e engenharia e quando falei que ia fazer química eles já começaram a me chamar de professor”, relembra. “O apoio principalmente veio da minha mãe. Ela sempre foi estudiosa, se formou em duas faculdades e me incentivou na área de estudo. Já meu pai me mostrou desde criança que o trabalho é importante. Desta forma, juntei trabalho e estudo”.


 
“O Gustavo despertou para a química quando começou a cursar a faculdade. Demos todo apoio para ele. Não foi fácil a permanência dele na faculdade e também quando foi para os Estados Unidos. Ele aprendeu muito e tudo o que conseguiu foi com seu próprio esforço, teve que aperfeiçoar o inglês já que todo os livros eram na língua estrangeira”, relembra Celma. 


 
A mãe destaca também que Gustavo sempre foi muito perfeccionista. “A gente percebeu que o Gustavo sempre foi determinado, mas isso ficou bem claro quando ele foi tirar a carteira de habilitação. Ele dizia que não estava bom só passar e sim que precisava acertar tudo”, diz Celma que não sabe dizer em palavras como se sentiu quando o filho ligou e contou que iria trabalhar na Nasa. “O que posso dizer é que fiquei extasiada e só tenho que agradecer à Deus pelo talento que ele deu para o Gustavo. Sempre disse para os meus filhos que a educação era tudo. Tinha horas que ele desanimava ou ficava frustrado, mas era com o nosso apoio que ele se sentia mais confiante para seguir em frente. O estudo é o maior legado que a gente pode ter”.


 
 
Celma Costa, mãe de Gustavo


 
Dedicação ao estudo, aliás, é o que Gustavo acreditar ser o diferencial para essa oportunidade. Para ele não há segredos para entrar no centro de pesquisa americano. “É preciso trabalhar e estudar bastante. Se a pessoa se dedicar e trabalhar o sonho como um objetivo é possível alcançar aquilo que quer."


 
O projeto


 
Gustavo mora há seis anos nos Estados Unidos e foi convocado após enviar uma aplicação para o centro da Nasa. Apesar de haver outros brasileiros como por exemplo, engenheiros e técnicos, o químico será o único brasileiro na área de pesquisa em ciências. “Submeti uma proposta de pesquisa, juntamente com outros documentos, que tem como objetivo desenvolver alguns experimentos onde será possível conhecer a estabilidade química de atmosferas de planetas que ficam fora de nosso sistema solar”, afirma.


 
Ele conta ainda que, além de submeter a proposta de pesquisa, também foi convidado a ir até o centro de pesquisa da Nasa em Cleveland para explicá-la em um seminário e ser entrevistado por outros cientistas do centro. “Minha proposta é desenvolver experimentos para obter dados sobre estabilidade e composição química de atmosferas de planetas fora de nosso sistema solar. Atualmente dados como esses são obtidos por meio de simulação computacional, sendo que é praticamente quase impossível desenvolver experimentos que simulem a atmosfera de planetas fora de nosso sistema solar no qual as temperaturas podem exceder 2 mil graus Celsius”, afirma.





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