Documentário conta a vida de quatro universitários para inspirar estudantes
Aos 16 anos, Wilian Cortopassi escreveu uma carta aos pais explicando porque iria sair de casa, em Contagem (MG), e se mudar para São José dos Campos, no interior paulista. “Estou disposto a dar a minha vida à ciência (...) e acho que chegou a hora de dizer o que eu penso e pelo que eu luto”, dizia o texto de 2006, deixado no criado-mudo ao lado da cama onde os pais dormiam. Wilian fez cursinho no Poliedro e, seis anos depois, está prestes a se formar em Química pela PUC-Rio. Também estudou durante dois anos no Instituto Militar de Engenharia (IME).
Atualmente, Wilian desenvolve dez projetos de pesquisa, tem quatro artigos publicados em revistas internacionais e sonha em “fazer a diferença criando tratamentos de impacto global”, como diz. O mineiro é um dos protagonistas do documentário Romance de Formação, que estreia dia 11 de maio nos cinemas. Além dele, outros três estudantes mostram o dia a dia, os desafios e a busca por conhecimento em universidades de excelência no mundo. Caetano Altafin é bolsista da Harvard Law School. Victoria Saramago segue o sobrenome famoso, ainda que sem parentesco com o escritor José Saramago: é doutoranda em Literatura em Stanford. Fábio Martino estuda Música na Universidade de Karlsruhe, na Alemanha. Em comum, os quatro têm a dedicação aos estudos e o fato de se destacarem em suas áreas acadêmicas.
“Você não precisa sair do Brasil para fazer uma boa faculdade. É possível ter educação de qualidade por aqui”, afirma Wilian. Apesar de ser o único personagem do filme que não saiu do País, o mineiro afirma que muitas vezes se sente um estrangeiro entre os cariocas. “Todo ano minha família viajava para Guarapari (ES) e de repente eu estava morando em frente à praia”, conta. “Meu sotaque é diferente, minha cultura também. Sempre serei forasteiro.”
A escolha da diretora do documentário, Julia De Simone, por estes quatro estudantes foi, segundo ela, natural. Caetano e Wilian foram indicados pela Fundação Estudar, parceira na produção, da qual são bolsistas. Victoria era conhecida por amigos de amigos, e Fábio foi visto por eles em uma revista especializada de cultura como uma das promessas da música brasileira.
“Além de serem muito bem sucedidos em suas áreas, os quatro traziam cargas dramáticas importantes para se fazer um filme”, diz a diretora. Para ela, o maior desafio do documentário foi como abordar o tema educação. “Não é uma cena de amor, não é um carro explodindo, são pessoas sozinhas, lendo seus livros.”
A saída encontrada por Julia foi se aproximar, o quanto podia, das histórias dos quatro estudantes. Aos 29 anos, formada em História e com pós em Cinema numa escola de Barcelona, a diretora tentou se colocar no lugar de cada um dos personagens. “Eu poderia muito bem estar vivendo o que eles estão vivendo”, diz.
Identificação é o sentimento que Julia e Wilian acreditam que o filme irá causar no público. “Queremos trazer os estudantes para o cinema, sejam eles universitários ou do ensino médio. Abrimos um universo de opções e escolhas possíveis”, afirma a diretora. “Sempre coube ao documentário contar histórias de fracasso e o filme vem ocupar um espaço vazio de histórias de sucesso. A pergunta que fica é: o que é sucesso? Aonde isso vai nos levar? Tenho certeza apenas que o dia a dia é duro."
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