Soja mato-grossense segue em elevação mesmo em plena safra

Os preços pagos pela saca da soja, em Mato Grosso, seguem praticamente em ascendência diária em abril. Na comparação com as médias estaduais dos primeiros 20 dias do mês com igual período do ano passado, a alta é de 32%, com a cotação saindo de R$ 36,60 para R$ 48,30. O ritmo forte e contínuo ditado pela forte demanda ao grão vêm sendo observado mesmo durante o pico da colheita, quando tradicionalmente, as cotações são pressionadas para baixo em razão da grande oferta. Em Mato Grosso, a colheita da safra 2011/12 atingiu 100% no início do mês e o Estado é o endereço de quem deseja a oleaginosa. Como explica o analista de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleber Noronha, é como se os preços pagos no Estado se superassem a cada pregão, “uma espécie de recorde sobre recorde”, aonde em muitos casos, o valor absoluto pela saca chega a superar a cotação internacional de Chicago, formadora dos preços. “Desde o dia 2 deste mês, em Primavera do Leste, por exemplo, as cotações têm ficado acima de R$ 49, tendo atingido o valor histórico de R$ 52,50 na última sexta-feira”, completa. Ontem, a saca atingiu R$ 55, recorde absoluto, em Alto Garças (357 quilômetros ao sul de Cuiabá). Noronha lembra que o recorde de preços à saca em Primavera do Leste (239 quilômetros ao sul de Cuiabá), que era de julho de 2008, R$ 48 foi quebrado na última sexta-feira, com a saca cotada a R$ 52, “valor esse que mesmo ligeiramente menor nos próximos dias, se for o caso, se manterá positivo para o mercado local”. O boletim semanal do Imea, divulgado ontem, chama à atenção exatamente para o comportamento dos preços dentro do Estado. Como a tendência é que de os países asiáticos e europeus continuem comprando e o local da soja, no momento, é a América do Sul, pois os Estados Unidos ainda estão nos primórdios do plantio, os preços podem permanecer altos e será possível registrar um valor que dificilmente será batido em outras épocas. Considerando as perdas de quase 5 milhões de toneladas de soja, na Argentina, “só resta Brasil e Mato Grosso para quem quer o grão”, sentencia Noronha. O Boletim destaca que mesmo com algumas quedas durante esta terceira semana de abril, o preço no mercado interno segue elevado e as cotações da oleaginosa continuam entusiasmando. “Fato é que nesta semana foram praticados os maiores preços do ano e possivelmente o melhor da história para a soja em todo o Mato Grosso, mesmo não sendo a melhor cotação em Chicago”. Noronha frisa que a alta não está no campo da teoria, “mesmo com a alta, o mercado está movimentado, ou seja, os negócios estão acontecendo”. Das mais de 21,36 milhões de toneladas produzidas nesta safra, cerca de 80% estão comercializadas, o que revela que mais 17 milhões estão comprometidas e já com preços fixados, restando pouco mais de 4,2 milhões disponíveis. “Esses 20% não devem vir por hora no mercado, já o produtor deverá segurar parte para trocar por insumos”, aponta Noronha.

OSCILAÇÃO - O elevado preço da soja nesta última safra indica um consumo mundial aquecido. Com base no histórico das safras anteriores, observa-se alta nos preços. Em julho de 2008 o preço cotado foi de R$ 48,90/sc em Primavera do Leste, em Sorriso, R$ 46,30/sc, e em Campo Novo do Parecis, R$ 46,20/sc, e o dólar a R$ 1,61 não deu suporte ao preço como está acontecendo no momento. Na safra atual a soja está a R$ 51,50/sc em Primavera do Leste, R$ 48,80 em Sorriso, e em Campo Novo do Parecis, R$ 49,25/sc, e o dólar a R$ 1,88, sustentando o preço da saca. “Uns dos fatores que influenciaram esse efeito foram os estoques iniciais baixos e a safra que não correspondeu às expectativas, indicando um volume menor em relação às safras anteriores”, conclui o Boletim.

DEMANDA – Como aponta o Imea, a explicação para a trajetória altista e sustentada é a forte demanda das tradings no mercado interno e, consequentemente, pelos países importadores, o que pode acarretar em rápida diminuição do estoque da safra 2011/12. As perspectivas apontam para uma maior demanda mundial pela oleaginosa, liderada pela China, e o Brasil, como maior ofertante (sustentado por Mato Grosso e Paraná), conseguiu produzir um grande volume do produto, para suprir parte da necessidade mundial de soja. “Abril tem tudo para bater mais um recorde, ou mesmo superar os números históricos de março, já que a China comprou mais um milhão de toneladas e se os portos derem conta de embarcar tudo neste mês haverá nova surpresa para as exportações estaduais”, observa Noronha.