A artista Lilian Fontenla frequenta a videolocadora
2001 para buscar filmes específicos
(Foto: Gabriela Gasparin/G1)
Desde o início deste mês, quando reabriu uma videolocadora que estava fechada há quase um ano na cidade de Sumaré, no interior de São Paulo, o empresário Renan Granato se diz surpreendido com o movimento da clientela, que superou as expectativas iniciais. Só na primeira semana, foram mais de mil cadastros. “O feedback que temos dos clientes é que estamos de parabéns, que finalmente a loja reabriu, que eles estavam sentindo falta da videolocadora”, afirma.
Entre as pessoas que estavam sentindo falta de alugar os vídeos está a médica pediatra Maristela Boina Coltro, que desde a reabertura já alugou mais de 15 títulos. Casada e mãe de dois filhos, ela afirma que alugar filmes é um programa para toda a família. “Alugamos uma média de quatro a seis filmes por semana”.
O otimismo relatado pelo franqueado da rede 100% Vídeo – que atualmente conta com 72 videolocadoras em 11 estados brasileiros – e por sua cliente não é isolado. Empresários do setor relatam crescimento no faturamento em 2011 e abertura de novas lojas de lá para cá, após muitas delas terem fechado as portas principalmente entre os anos de 2006 e 2009, por conta da pirataria e do download ilegal de filmes pela internet.
A redução dos preços do aparelho de blu-ray – que motiva a busca por filmes na mídia nas locadoras – e o investimento no atendimento e em públicos especializados são os fatores apontados pelas redes para os bons resultados.
"Eu resolvi reabrir a videolocadora em Sumaré principalmente pelo mercado de blu-ray, que ainda não tem pirataria e provavelmente não vai ter, e pela marca já ser conhecida na região e na cidade”, explica Granato. A antiga franquia da 100% Vídeo em Sumaré era de outro proprietário, que desistiu do negócio. Com R$ 150 mil de investimento, o retorno esperado é de um ano e meio. “Neste mês a gente já espera faturar o dobro do que precisa para manter a loja.”
Granato afirma que os títulos em blu-ray representam cerca de 30% do espaço físico da loja, o que deve aumentar para 50% nos próximos meses. “Depois que o consumidor faz a compra do blu-ray [o player], às vezes acha até melhor alugar do que ir ao cinema. O pessoal que está ocupando as residências com TV em 3D prefere, sem contar que caiu o preço da TV também”, opina, afirmando que a clientela principal é das classes A e B. “É um pessoal que procura qualidade.”
Sara Camargo diz que Videoteca teve bom
resultado em 2011 (Foto: Divulgação/ Videoteca)
Retomada
Desde 2010, o faturamento do setor no estado de São Paulo, por exemplo, voltou a crescer após quedas drásticas, e a expectativa é manter a alta daqui para a frente, avalia Luciano Tadeu Damiani, presidente do Sindicato das Empresas de Videolocadoras do Estado de São Paulo (Sindemvideo).
De acordo com ele, a queda foi em torno de 45% de 2005 para 2007, e depois de mais 15% até 2009. O movimento caiu 65% no período e cerca de 55% das lojas fecharam as portas (de aproximadamente 4,5 mil em todo o estado para cerca de 2 mil ao final de 2010). “Eles [a pirataria] cresceram da noite para o dia e nós diminuímos na mesma proporção”.
Passado o período, o mercado agora encontrou sua estabilidade, avalia. A alta no faturamento foi de 5% em 2010 e de 3% em 2011. A projeção é de crescimento de 5% neste ano e de 7% a 8% em 2013, já por conta do blu-ray. “Agora que ele começa a atender uma classe menos privilegiada, o que a gente imaginava que aconteceria de 2010 para 2011, deve acontecer neste ano (...). O preço do equipamento caiu bastante, mas ainda não é para todos”, opinou Damiani.
Nem os novos serviços de locação pela internet assustam o setor, na avaliação do presidente do sindicato. Pelo contrário, são vistos como aliados. “Locadoras online não são ameaça porque vamos falar em legalidade. Não são produtos que às vezes nem chegaram ao Brasil e já tem pirata na internet. Na locadora oficial isso não acontece. Esse segmento vem a agregar, a campanha que as "onlines" fazem na mídia vem a somar e faz com que o consumidor volte a locar”, sugere.
O casal de empresários de Santa Catarina Marcelo Adriano e Kelly Brasiliense também está otimista e fez um investimento no ano passado de quase R$ 500 mil em três franquias da marca Megamil na cidade de Campinas, também no interior de São Paulo. “Como eu estava sentindo que o mercado estava crescendo, resolvi investir”, disse Adriano. De acordo com ele, o blu-ray é um dos motivos para o otimismo.
As três lojas fazem parte de outras 36 espalhadas pelo Brasil da franquia catarinense Videoteca, que adquiriu as unidades da marca Megamil em 2009. A proprietária, Sandra Camargo, afirma que a rede registrou crescimento médio de 10% no faturamento nos últimos 12 meses encerrados em março deste ano. A previsão é alta de 20% em todo o ano de 2012 sobre 2011. No ano passado, o faturamento foi de R$ 13 milhões – estabilidade sobre 2010.
De acordo com Sandra, os títulos em blu-ray já representam 27% no total das locações de todas as lojas. Com a chegada de títulos em 3D, a previsão é aumentar a fatia. “A previsão é que o novo nicho de mercado que vai alavancar as locações. É uma nova tendência de mercado”, disse. Os preços também são outro atrativo sobre o cinema, por exemplo, já que as locações na rede variam de R$ 6,50 a R$ 8,50, em média, avalia Sandra.
Educadora Célia Daglio aluga filmes para lazer e também para apresentar aos alunos na sala de aula (Foto: Gabriela Gasparin/G1)
"A gente já chegou a pegar lojas que estavam fechando e aumentou em 50% o faturamento em menos de seis meses. A gente investe na recuperação e depois repassa a venda". Foi o que aconteceu com as três lojas de Campinas.
A estratégia reformar lojas que estão quase fechando e passar para a franquia também é usada na 100% Vídeo. Após redução no faturamento da rede registrada de 2007 a 2010, houve crescimento de 5,5% em 2011, para R$ 33 milhões. “Para este ano a previsão é crescer entre esse entre 4% e 6%”, afirmou Carlos Augusto, diretor de franchise.
100% Vídeo reaberta em Sumaré (SP) recebeu
1 mil cadastros na primeira semana,
diz Renan Granato (de azul)
(Foto: Divulgação/ 100% Vídeo)
De acordo com Augusto, a rede recebe de oito a dez consultas por semana em diversas cidades brasileiras para novas aberturas de franquias. “Isso nos dá uma perspectiva muito boa para 2012, onde pretendemos repor novas lojas que foram fechadas no passado”, diz. Os valores para locação na rede são regionais, mas variam de R$ 4,50 (um DVD de catálogo) a R$ 10,50 (um lançamento em blu-ray).
A franqueadora chegou a ter 86 unidades entre 2005 e 2006, o que caiu para 68 em 2010. Neste ano , está atingindo 72 lojas e espera abrir mais seis até final de 2012. O blu-ray representa 30% do faturamento por locações – isso porque 20% do faturamento da rede vem de vendas de produtos como livros, doces, pipocas e até mesmo filmes.
Segmentação
Outro fator apontado por Sara para o crescimento da empresa é o foco no atendimento de qualidade, o que, segundo ela, move muitas pessoas a continuarem indo à locadoras – na contramão de muitos que optam por baixar filmes ou até mesmo recorrem aos produtos piratas.
“Nosso cliente gosta de atendimento qualificado, gosta de ver os produtos que estão disponíveis. Hoje a videolocadora tem variedade de filmes que não encontra no cinema. O cliente vai encontrar na locadora o diferencial”, explica.
E é com foco num cliente ainda mais segmentado – cinéfilos, profissionais e amantes do cinema predominantemente das classes A e B – que a rede de videolocadoras 2001, em São Paulo, também aponta bons resultados no setor. “Tivemos um crescimento em faturamento de locação por volta de 9% em 2011 e 12% no número de clientes novos”, diz Sonia Abreu, sócia e diretora da 2001 Vídeo. Para este ano, a rede projeta um crescimento de 7% a 9% sobre os R$ 14 milhões de faturamento do ano passado.
São sete unidades na capital paulista, sendo que uma delas foi inaugurada no ano passado. “Procuramos atender bem e despertar um novo espectador, apresentando a ele cinematografias de outros países, filmes mais antigos, enfim, ampliando o leque de referências e opções”.
A rede também vende filmes, sendo que hoje a locação corresponde a 60% a 70% do faturamento e as vendas, de 40% a 30%. “As vendas já estiveram na casa de 50%, mas hoje a locação voltou a patamares anteriores”, revelou Sonia. De acordo com ela, a demanda do modelo de negócio não pode ser desprezada.
Megamil de Campinas foi comprada, reformada e
relançada pela Videoteca
(Foto: Divulgação/ Videoteca)
Sonia diz que o grande desafio do setor é atrair o cliente para o ponto de venda. UIma das estratégias usadas pela rede é treinar bem os funcionários, pois os clientes são exigentes. A educadora Célia Daglio, por exemplo, diz gostar das dicas dos funcionários do local. “Eles sabem o meu gosto.”
Célia afirma que, além do lazer, existem filmes específicos que aluga no local para mostrar aos alunos, como complemento às aulas – apesar de ainda achar caro o preço da locação, de R$ 10,50, em alguns títulos.
A artista vistual Lilian Fontenla também frequenta a videolocadora. "Quando preciso de um filme muito específico, que preciso muito ver para pesquisa, venho direto para cá", diz
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