PMs são acusados de agredir artista plástico e artesão
Socos, pontapés e ameaças de morte. Um artista plástico de 24 anos e um artesão de 43 afirmam que foram agredidos por policiais militares, na manhã do último domingo, na Rua Maria Carlota, na Vila Esperança, zona leste de São Paulo. Eles foram levados para o 10.º DP (Penha) - lá, porém, foi lavrado um termo circunstanciado que aponta os dois como autores da agressão contra os Pms.
Por volta das 8h, ambos voltavam do trabalho e, quando chegaram na casa que dividem, ligaram o som do carro. Em seguida, foram andar de skate na frente da residência. Cinco viaturas da PM, então, chegaram para atender uma ocorrência de perturbação de sossego. Segundo os denunciantes, que preferiram não se identificar, o som do carro já estaria desligado.
"Perguntei por que nos enquadrariam. Eles me derrubaram no chão e começaram a me chutar e a me agredir", diz o artista plástico, que teve o tímpano direito perfurado. "Um deles me segurou pelo pescoço, dava risada e dizia: ‘Vou te matar’", conta o artesão. "Pareciam sádicos, faziam pose de lutadores."
A sessão de tortura teria provocado a revolta dos vizinhos. "Gritavam dizendo que chamariam a Corregedoria (da PM) e, de fato, uma pessoa ligou", afirma o advogado dos denunciantes, João Ibaixe Júnior.
Foi quando os PMs levaram os dois para a sede do 51.º Batalhão da PM, que fica atrás do DP, onde a violência teria continuado. Em seguida, encaminharam a dupla para o pronto-socorro - apenas para os PMs registrarem que ofereceram atendimento médico, segundo os denunciantes, o que não aconteceu.
Versão. No 10.º DP, os PMs Marcelo Gregorio Alves dos Santos, de 26 anos, Cristiano Andrade Lopes, de 29, e Claudia Aparecida da Silva, de 39, todos da 3.ª Companhia do 51.º BPM, disseram ter sido vítimas de desacato e agressão. Os policiais relataram também que os dois rapazes aparentavam estar drogados. "O skate é um long board, que chega a 60 km/h. É impossível andar nessa velocidade usando drogas", rebate o artista plástico.
Os denunciantes dizem que também foram agredidos na cela do DP. Ambos foram orientados pela tia de um deles, jornalista e advogada, a não prestar depoimento. Quando ela chegou ao local, o termo circunstanciado já tinha sido concluído.
A mulher levou os dois para o Instituto Médico-Legal (IML). "O próprio médico do IML, percebendo a gravidade da situação, recomendou que fossem primeiro para o hospital", diz. Diante da agressão, perderam o controle fisiológico e estavam sujos.
O advogado Ibaixe Júnior já entrou em contato com o Ministério Público Estadual e com a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil pedindo que tomem providências em relação ao caso.
Segundo ele, houve falhas também no 10.º DP, pois o delegado poderia ter investigado melhor a circunstância das agressões. As únicas testemunhas do termo circunstanciado são policiais. "A própria Corregedoria da PM poderia ter sido mais diligente."
Nesta quinta-feira, 8, um dos PMs passou na frente da casa dos denunciantes - que já pretendem se mudar do Estado. A mulher do artista plástico descobriu, na semana passada, que está grávida.
PM. Questionada sobre a acusação do artesão e do artista plástico, a Polícia Militar respondeu que se tratou de uma ocorrência policial de perturbação do sossego, em que um policial militar do 51º Batalhão foi agredido a socos no momento da apuração de um chamado naquela rua.
Segundo a PM, foram tomadas as providências de natureza policial pertinentes, inclusive com a participação de testemunhas.
No termo circunstanciado, os PMs relataram que o policial Marcelo Gregório Alves dos Santos foi agredido com um soco na boca. Também disseram que os denunciantes tentaram agredi-los com uma garrafa de cerveja.
Eles relatam também que o artista plástico teria dito no momento da abordagem que "não colocaria a mão na cabeça para policial nenhum". O termo circunstanciado traz os denunciantes como acusados por lesão corporal, desacato, desobediência e resistência. Até as 19h30 de ontem, a Secretaria de Segurança Pública não havia respondido por que o delegado plantonista não fez diligências em busca de outras testemunhas;
Comentários