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Quinta - 08 de Março de 2012 às 01:49
Por: ALECY ALVES

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Acabou. Essa palavra, que pode ter diversos sentidos dependendo da situação, ouvida ao fim de uma audiência judicial pela enfermeira Luziema Pereira Azevedo, 49 anos, ecoa cotidianamente nos ouvidos dela como a mais importante do vocabulário. A palavra significou o fim de 14 anos de agressões físicas e morais e o recomeço de uma nova vida, de luta e conquistas capazes de surpreender quem a conhece e até a ela mesma.

Luziema diz que o “acabou” partiu da juíza Ana Cristina, da Vara Especializada de Violência Doméstica, acompanhado de um abraço com o qual se sentiu fortalecida, e significou o final de anos de sofrimento e de um conturbado processo de separação, durante o qual chegou a ser expulsa de casa e ele chegou a desaparecer com os dois filhos do casal. “E acabou mesmo, a partir daquele dia nunca mais fui perturbada por ele (o ex-marido)”, diz.

Durante o casamento, conforme apurou a justiça, ela era agredida e humilhada pelo marido. “Ao contrário da palavra acabou, que eu adoro ouvir, há algumas que nem consigo pronunciar, dói até quando as ouço, mais que as agressões físicas”, confessa.

Ela conta que as ocorrências domésticas mais banais que se pode imaginar, como deixar algo fora do lugar, era suficiente para que o então marido gritasse palavrões ou a agredisse fisicamente. No pulso da mão esquerda, por exemplo, Luziema carrega uma lesão. O nervo parece ter crescido pelas repetidas torções sofridas durantes golpes para imobilizá-la.

“Não sinto dor e só me lembro que é uma sequela da violência quando passo os dedos sobre o local. Já dos xingamentos não consigo me libertar. E olha que nós todos, eu e meus filhos, fizemos tratamento psicológico”, avaliou.

Quase três anos depois de se sentir definitivamente livre das aflições, “Lú”, como é carinhosamente chamada em família e no trabalho, afirma ser outra mulher. Com um largo sorriso, ela se diz com coragem e energia suficientes para continuar crescendo na profissão e em família.

A vida dela já sofreu uma reviravolta desde a separação. Ela, que era técnica em enfermagem, e começou faculdade de enfermagem no primeiro ano da separação, formou-se no final do ano passado e já está começando uma pós-graduação.

Também contabiliza conquista no campo da saúde e da beleza. Saiu do casamento com 97 quilos, diabética e hipertensa. Com caminhada, academia e reeducação alimentar, já perdeu 21 quilos e obteve melhoras significativas nas condições de saúde.

“No trabalho, minhas amigas costumam dizer que a cada dia transmito mais alegria e felicidade”, diz. “Lú” também conta que nos dois empregos (ela trabalha em unidades de saúde do Estado e do município) ninguém sabia que o que se passava com a família dela.

“Cansei de inventar situações absurdas para tentar justificar as crises de choro ou quando chegava com os olhos inchados de tanto chorar”, relembra. “Certa vez cheguei a dizer que um primo muito querido, que morava em São Paulo, havia morrido, para não ter que contar minha própria história”.

Luzieme disse que antes da Lei Maria da Penha havia apresentado queixa contra o marido, mas a apuração policial não passou de um depoimento dele na delegacia. Como ele não aceitava sair da casa, mantiveram o casamento. O ponto final na rotina de violência foi desencadeado quando ela assistiu na tevê o anúncio de uma campanha de conscientização abordando a nova lei.

A enfermeira apresentou queixa, o caso virou inquérito e o ex-marido, que era um servidor público de carreira com um bom cargo (agora está aposentado), chegou a permanecer preso por 61 dias. “Vale a pena denunciar, não me arrependo de nada, faria tudo novamente para conquistar a liberdade que tenho hoje”, completa.




Fonte: Do DC

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