"Independentes" manterão força de Ahmadinejad após eleições no Irã
Os partidos mais próximos do líder espiritual Ali Khamenei foram os que elegeram mais deputados nas eleições de sexta-feira, 2, mas não é certo que o presidente Mahmoud Ahmadinejad fique com uma minoria reduzida no Parlamento. Isso porque muitos deputados eleitos não declararam seu apoio ao presidente para evitar serem desqualificados pelo Conselho Guardião, controlado pelo líder espiritual, e também porque há muita margem de negociação no Parlamento iraniano, segundo analistas ouvidos pelo Estado.
"A estratégia de Ahmadinejad foi espalhar os seus partidários entre pequenos grupos e evitar que eles declarassem apoio ao presidente", disse Kamal Taheri, um analista próximo ao presidente. "Eu vi muitos desses candidatos "independentes" no gabinete de Ahmadinejad." O analista Amir Mohebbian, de tendência conservadora, concorda que não se pode falar de derrota irreparável para o presidente: "Ainda não está claro se Ahmadinejad foi duramente golpeado ou não."
Taheri estima que o presidente venha a ter o apoio firme de cerca de 100 dos 310 deputados. Segundo ele, no Parlamento atual, que tem 290 cadeiras, a base do governo é formada por "60 a 80" deputados que "verdadeiramente" apoiam Ahmadinejad. As bancadas do Parlamento iraniano são tradicionalmente móveis. Os apoios flutuam de acordo com negociações e também com os humores do poderoso líder espiritual.
Impeachment
O novo Parlamento toma posse dia 28 de maio. Antes disso, Ahmadinejad poderá sofrer um processo de impeachment, por causa dos problemas econômicos vividos no país. O presidente cortou os subsídios para a gasolina, o gás, a eletricidade, a água e os alimentos básicos. Os preços dispararam. A inflação dos últimos 12 meses até novembro - o último dado oficial disponível - ficou em 22%. Para compensar a retirada dos subsídios, Ahmadinejad criou uma ajuda mensal de US$ 40 por pessoa. Mas muitos iranianos se queixam de que a ajuda não compensa o aumento dos preços.
"Os deputados que não se reelegeram e não receberam promessas de cargo no governo vão se vingar de Ahmadinejad", prevê Taheri. "Mas o líder espiritual não vai permitir o impeachment." Khamenei controla os órgãos mais importantes do Estado e seu poder saiu fortalecido das eleições. A Frente Unida dos Principistas, que apoia Khamenei, foi a que obteve mais cadeiras, de acordo com 90% dos votos apurados até a noite deste domingo, 3. Em segundo lugar veio a Frente da Firmeza da Revolução Islâmica, que também apoia o líder espiritual e representa os fundamentalistas mais radicais, mas que tem sido menos crítica em relação a Ahmadinejad.
Os resultados finais devem sair nesta segunda. O ministro do Interior, Mostafa Najar, disse no domingo que mais de 200 distritos elegeram deputados. Aqueles em que nenhum candidato alcançar 25% dos votos terão de realizar segundo turno, em data ainda não definida.
Neutralizada a oposição, as atenções se voltam agora para a escolha do sucessor de Ahmadinejad, que está no segundo mandato e não pode se candidatar na eleição presidencial do ano que vem. Segundo Taheri, o mais cotado é Ali Akbar Velayati, assessor de assuntos internacionais do líder espiritual. "Ele tem boas relações com os reformistas e tecnocratas." A eleição presidencial de 2009 alienou esses dois grupos do regime, rompendo o sistema de partilha do poder que durava 30 anos, desde a Revolução Islâmica de 1979.
Os oposicionistas denunciaram fraude na reeleição de Ahmadinejad. Os protestos que se seguiram foram duramente reprimidos. Os dois principais candidatos da oposição, Mir Hussein Moussavi e Mehdi Karoubi, foram colocados sob prisão domiciliar. O Movimento Verde, por eles liderado, foi banido. Pela primeira vez desde a Revolução, a oposição boicotou maciçamente as eleições parlamentares de sexta-feira. O voto tornou-se então um sinal de apoio ao regime.
A abstenção pareceu grande, mas o ministro do Interior reafirmou no domingo que o comparecimento foi mais alto que nas eleições parlamentares de 2008. Segundo ele, 64,2% dos eleitores votaram na sexta-feira, enquanto em 2008 foram 51%. De acordo com Najar, em Teerã - reduto oposicionista -, o comparecimento foi de 48%, comparados aos 30% das eleições passadas. A apuração está a cargo do Ministério do Interior e não é possível confirmar esses dados de forma independente.
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