Deficiente intelectual assume atendimento ao cliente
Bancos, lojas e supermercados têm colocado funcionários com diferentes tipos de deficiência intelectual (como síndrome de Down e deficit de aprendizagem) na linha de frente do atendimento ao cliente.
Eram funcionários que estavam escondidos em atividades internas de empresas preocupadas em cumprir a lei de cotas (o setor privado é obrigado a empregar de 2% a 5% de deficientes), que agora lidam com o público.
Amparadas em treinamento especializado, empresas como Pão de Açúcar e Citibank descobriram nos deficientes intelectuais profissionais preocupados com o bem-estar do cliente e com aptidão acima da média para ouvir e atender diferentes pedidos.
São empacotadores e atendentes da mercearia do supermercado que não deixarão o freguês levar um produto de limpeza aberto, uma lata amassada ou algo sem condições perfeitas de uso. Não vão sossegar até resolver o problema de um cliente e ficarão incomodados se vir alguém mofar na fila do banco.
Quem vai à agência do Citi da Mooca (zona leste de SP) é recebido por Eduardo Ferreira Filho, 26, assistente de atendimento. Poucos sabem que Dudu, como é conhecido, só foi alfabetizado aos 16 anos e tem dificuldade de aprendizagem.
Enquanto o cliente espera, Dudu oferece café, pergunta se tem alguma conta para colocar em débito automático e se deseja fazer uma cotação de seguro do carro. "É sem compromisso. Vai que é melhor e mais barato?", diz.
"O Dudu é o relações-públicas da agência. E vende muito seguro. É o mais dedicado, não falta a um amigo-secreto, uma festa da firma. Nas férias, fica com saudade e vem visitar a gente", diz o gerente Rui Fontoura.
Empacotadora do Pão de Açúcar da rua Afonso Bovero (zona oeste), Roberta Macetti, 35, que tem síndrome de Down, conhece alguns fregueses pelo nome. Quando o movimento está fraco, ela se oferece para lavar a louça da copa dos funcionários. "Não gosto de ficar parada", disse.
CAFÉ COM LEITE
No Pão de Açúcar e no Citi, o funcionário deficiente tem carga horária, avaliação e salário iguais aos dos colegas na mesma função.
"Não pode ter "café com leite". A chave desses programas é o treinamento e o preparo do ambiente de trabalho. A presença do deficiente torna as pessoas mais solidárias, preocupadas.
Elas se sentem orgulhosas de trabalhar em lugar que respeita as diferenças e as limitações de cada um", disse Marcelo Vitoriano, gerente da Avape, que ajuda nos programas do Citi e do Pão de Açúcar.
Há no país cerca de 300 mil deficientes trabalhando. Desses, só 15 mil são intelectuais, ainda os menos incluídos no mercado de trabalho.
"O deficiente tem uma tolerância ao estresse maior do que a média da população. Como passaram por processos exaustivos de reabilitação, aprenderam a trabalhar a convivência, são socializados e tolerantes com as demais pessoas. É uma vantagem, uma habilidade que muita gente não tem", disse Linamara Rizzo Batti, secretária paulista do deficiente.
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