Divisões do Partido Republicano dificultam vitória em novembro
De quanto em quando os grandes partidos sofrem convulsões internas destrutivas. Isso aconteceu com os democratas durante os anos da Presidência de Reagan. Aconteceu também com o Partido Trabalhista britânico sob o governo de Margaret Thatcher.
Hoje o Partido Republicano corre o risco de provocar seu próprio afastamento do palco político, graças a uma disputa para a escolha de seu candidato presidencial que está sendo mais pessoal e mesquinha que a maioria. É possível que já seja tarde demais para reverter o dano causado antes da eleição, que terá lugar em novembro.
Mitt Romney, que venceu em seu próprio Estado, o Michigan, com margem estreita na noite de terça-feira, já aparenta ser um produto avariado. O número cada vez menor de republicanos que enxergam o copo como estando metade cheio apontam para a disputa amarga entre Barack Obama e Hillary Clinton em 2008. Apesar das divisões, Obama uniu seu partido e conquistou uma vitória abrangente. Depois de vencer, convidou Clinton para ser sua secretária de Estado.
É possível imaginar um presidente Romney convidando Newt Gingrich ou Rick Santorum a trabalhar com ele? Ao invés de ser uma "equipe de rivais", seria um pelotão de fuzilamento circular. Uma comparação é com Barry Goldwater, o indicado republicano cujo "extremismo em defesa da liberdade" foi responsável por uma das piores derrotas de seu partido, em 1964.
A indicação de Goldwater foi feita após uma disputa acirrada com a "ala Rockefeller" moderada, que, segundo ele, oferecia um "eco", ao invés de uma "escolha". Outro paralelo é com o forte desafio lançado por Ronald Reagan a Gerald Ford em 1976, do qual o presidente em exercício jamais se recuperou.
As candidaturas de Goldwater e Reagan abriram caminho para uma geração de ascendência conservadora. Embora reflita a influência libertária do Tea Party, a corrida republicana atual não sugere uma transformação ideológica semelhante. É mau augúrio para as perspectivas do candidato republicano em novembro.
SENADORA
E os maus agouros não se limitam à corrida presidencial. Esta semana, Olympia Snowe, uma das poucas republicanas moderadas a ter restado no Senado, disse que vai se aposentar e atribuiu sua decisão ao clima polarizado em Washington, onde o que parece estar valendo é o slogan "do meu jeito ou de jeito nenhum".
Agora o Estado dela, o Maine, poderá eleger um democrata. Até recentemente, presumia-se que os republicanos dominariam o Senado e a Câmara em novembro. Agora as duas apostas estão parecendo inseguras.
A política dos EUA se encontra em estado de indecisão. Mas o mal-estar do Partido Republicano é causado pelo próprio Partido Republicano. Vale notar que, sem o apoio de Snowe em 2009, Obama não teria conseguido fazer aprovar seu pacote de estímulo de US$787 bilhões, hipótese que teria sido desastrosa para os Estados Unidos. Se pessoas como Snowe estão abandonando o barco, talvez este navio republicano mereça ser afundado.
Tradução de CLARA ALLAIN
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