O personagem de Gabriel Braga Nunes em "Insensato Coração" lhe garantiu um lugar de destaque na Globo. (Foto: TV Globo/Divulgação)
Uma novela de sucesso é resultado de um trabalho conjunto de autor, diretor, equipe técnica e elenco. No entanto, para o grande público, o que fica na memória é a repercussão em torno da trama e dos personagens que se destacaram. Como é impossível prever o que realmente vai "bombar", bons personagens não são obrigatoriamente os de maior destaque, mas aqueles de ação mais marcante ou original dentro da história.
São esses papéis inesquecíveis que elevam a carreira dos atores a outro patamar, tornando-os conhecidos nacionalmente e "cabeças" de produções futuras. Gabriel Braga Nunes sabe muito bem das mudanças que um papel pode acarretar. Com mais de 15 anos de TV, divididos entre papéis pequenos em novelas globais e cinco anos na TV Record, Gabriel voltou à Globo no ano passado para cobrir a lacuna deixada por Fábio Assunção em Insensato Coração.
O folhetim de Gilberto Braga pode não ter sido um grande sucesso, mas garantiu prestígio ao ator, além de o personagem principal de Amor Eterno Amor, próxima novela das seis. "Foi tudo inesperado. E acho que deu muito certo. Já fiz personagens maravilhosos. Mas o Léo, um vilão sem escrúpulos, foi meu encontro com o público", valoriza Gabriel.
Muitos personagens funcionam como "cartão de visita" dos intérpretes. Alguns demoram anos - e muitas novelas - para conseguirem um papel de destaque. Enquanto outros contam com a sorte de principiante. Descoberta em Malhação, e atual protagonista de A Vida da Gente, Fernanda Vasconcellos credita à doce Betina, que interpretou na temporada 2005/2006 da novela "teen", seu passaporte para personagens mais densas e de tramas importantes da emissora, como Páginas da Vida, de Manoel Carlos, exibida em 2006. "Fiquei com medo daquela troca normal de temporada que acontece em Malhação , até que surgiu o convite para a novela do Maneco. Foi bom sentir a aposta da emissora no meu trabalho", conta a atriz.
Malhação é o grande celeiro de novos rostos do horário nobre. Da novelinha, surgiram nomes como Cauã Reymond, Sophie Charlotte, Bianca Bin, entre outros. "É como se fosse um teste de elenco. Se você se sair bem, é possível que outros trabalhos apareçam. Malhação foi muito importante para mim. Mas a Fátima, de Passione, me deu uma maturidade necessária", assume Bianca Bin, que menos de um ano depois do fim do folhetim de Silvio de Abreu, deu vida à corajosa Açucena, a protagonista de Cordel Encantado, de 2011, um dos maiores sucessos recentes do horário das seis.
Outro nome de destaque de Cordel, assinado por Thelma Guedes e Duca Rachid, foi o de Domingos Montagner, intérprete do Capitão Herculano. Com 25 anos de carreira no teatro e no circo, Domingos não queria saber de TV. Até que começou a ser chamado para participar de séries como A Cura e Divã.
O visual áspero do ator chamou a atenção dos produtores de elenco da emissora. "A repercussão de "Cordel Encantado" foi muito boa, além do que eu esperava. Houve, sem dúvida, essa história de passarem a me ver como galã. Essa tendência de chamar atenção pelo físico é muito forte e presente na TV", analisa Domingos, que depois de Herculano, ganhou o papel principal da minissérie O Brado Retumbante.
Atores com densa formação teatral, geralmente por falta de tempo ou interesse, demoram a estrear e a fazer sucesso na TV. Dan Stulbach, por exemplo, já tinha 15 anos de carreira nos palcos, quando deu vida ao violento Marcos, personagem de Mulheres Apaixonadas que colocou o ator no primeiro time da Globo.
"Foi uma loucura. Era um desconhecido. De repente, tudo mudou, chegaram até a me agredir na rua por causa das maldades do Marcos. Fazer TV faz parte da minha escolha em ser ator, de querer estabelecer uma relação com as pessoas", ressalta Dan, que, atualmente, interpreta o Paulo, de Fina Estampa.
Setor de criação
Além dos intérpretes, os autores ¿ a verdadeira origem dos personagens ¿ sentem grandes modificações em suas carreiras depois de um sucesso. Porém, no caso dos criadores, o êxito está diretamente ligado aos números de audiência e à comoção pública causada pela história. "A gente depende que o público embarque na história. Sem dúvida, Tieta, uma adaptação (da obra de Jorge Amado), e Pedra Sobre Pedra, completamente autoral, foram as novelas que fizeram meu nome", conta Aguinaldo Silva, autor de Fina Estampa e o único a escrever somente histórias para o horário das 21h.
Neste seleto grupo do horário mais nobre da Globo, João Emanuel Carneiro é o caçula. Colaborador de novelas desde 2000, ele assinou sua primeira trama em 2004, Da Cor do Pecado, improvável sucesso às sete da noite. No entanto, a mudança de patamar de João dentro da emissora veio com A Favorita, sua primeiro novela das nove, que demorou a engrenar, mas que inovou ao surpreender o público com os mistérios de Donatela, vivida por Cláudia Raia, e Flora, de Patrícia Pillar.
"É bom sair do lugar-comum. Foi uma novela importante e me deu firmeza como autor. Coloquei o famoso "quem matou?" no começo. Quis ver telespectador julgar uma pessoa e depois ver que está errado. Deu certo", relembra João.
Instantâneas
- Assim como Gabriel Braga Nunes, Marcelo Serrado passou anos fazendo papéis menores na Globo e foi para a Record. De volta à Globo na pele do Crô, de Fina Estampa, o ator vive seu momento de maior popularidade.
- No ar em A Vida da Gente, pelas dificuldades e críticas no início da novela, Marjorie Estiano elege a injustiçada Maria de Duas Caras, exibida em 2007, como a personagem que lhe deu novas possibilidades como atriz.
- Prestes a volta ao ar em Avenida Brasil, Adriana Esteves lembra com carinho da Sandrinha de Torre de Babel, de 1998. A espevitada personagem foi muito elogiada pelo público e pela crítica. "Quando você faz um personagem na novela das nove, que é de uma audiência gigante, e o personagem cai nas graças do povo, é uma alegria sem medida", ressalta Adriana.
- Com trajetórias diferentes, dois nomes fortes das telenovelas atuais, Giovanna Antonelli e Carolina Dieckmann, veem seus personagens em Laços de Família, de 2000, como fundamentais no crescimento de suas carreiras. Na trama de Manoel Carlos, Carolina era Camila, a jovem que sofre ao ser diagnosticada com câncer. Enquanto Giovanna deu vida à prostituta Capitu.
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