Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 24 de Fevereiro de 2012 às 16:47
Por: JERÔNIMO GIORGI

    Imprimir


O Senegal, único país da África que nunca teve um golpe de Estado, está vivendo o momento mais sombrio da era democrática. Desde que o Conselho Constitucional autorizou a terceira candidatura do presidente Abdula Wade, a repressão policial já provocou mais de uma dúzia de mortes. Movimentos sociais e políticos saíram às ruas para protestar contra o presidente, acusando-o de violar a Constituição.

Faltando dois dias para as eleições, a tensão mergulhou o país numa crise política que está colocando as eleições em risco. Embora a Constituição senegalesa proíba o presidente de se candidatar novamente, o Conselho Constitucional o autorizou, provocando a fúria da população.

  Jeronimo Giorgi/Folhapress  
Policiais patrulham ruas de Dacar; Senegal vive clima tenso às vésperas de eleições presidenciais
Policiais patrulham ruas de Dacar; Senegal vive clima tenso às vésperas de eleições presidenciais

Desde então, há mais de um mês, as manifestações vêm sendo duramente reprimidas pela polícia, que vem impedindo o acesso de manifestantes aos pontos nevrálgicos da cidade. "Não sabemos o que vai acontecer; as pessoas têm medo", dizia Shezif Gaye, empregado de uma loja próxima à praça da Independência que há um mês vem sendo obrigada a fechar suas portas em função da violência.

Editoria de Arte/Folhapress

A comunidade internacional multiplica críticas ao presidente Wade, recomendando que se afaste para não criar obstáculos às eleições. O ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, que chegou ao país em missão de observador, reuniu-se com integrantes do governo e da oposição, com o objetivo de encontrar uma saída para a crise. Mas o tempo está se esgotando, e os senegaleses não parecem enxergar saída.

"Não há mais mortes porque as pessoas não possuem armas", diz o advogado e professor de direito da universidade de Dacar, Babacar Gueye. Ele é um dos autores da Constituição de 2001, que estabelece o limite de uma única reeleição para o presidente.

Confira entrevista que Gueye concedeu à Folha:

Folha- Qual é sua opinião sobre a decisão do Conselho Constitucional de autorizar a terceira candidatura do presidente Abdoulaye Wade?
Babacar Gueye- A Constituição não autoriza o presidente Wade a candidatar-se pela terceira vez. Quando redigimos a Constituição, em 2001, foi especificado no artigo 104 que o mandato presidencial pode ser renovado uma vez. Nesse momento o presidente estava cumprindo seu primeiro mandato. Em 2007 ele se candidatou novamente e ganhou; foi seu segundo mandato. Está muito claro.

Folha- Por que, a seu ver, ele tomou a decisão de buscar um terceiro mandato?
Gueye- No ano 2007 Wade confirmou que aquela seria sua última candidatura. A partir de então, passou a preparar politicamente seu filho Karim para que tomasse seu lugar. O problema foi quando Karim, em 2009, foi candidato nas eleições locais de Dacar e foi derrotado, o que foi uma humilhação para seu pai. Foi então que Wade decidiu ser candidato pela terceira vez.

Folha - O que vai acontecer com as eleições?
Gueye- Não estou certo de que teremos eleições. A maioria dos opositores do presidente não quer que ele faça parte e está focando a campanha para que ele não seja candidato. É para isso que estão fazendo manifestações nas ruas há semanas. Se a situação descambar para o caos, não haverá eleições.

Folha -Qual é a saída?
Gueye - Embora o presidente esteja decidido a concorrer, não estão presentes as condições para eleições boas. Wade precisa rever a situação, adiar as eleições e negociar com a oposição. Se não o fizer, teremos eleições violentas e a população não aceitará o resultado.

Folha- Como isso afeta a imagem do país?
Gueye- O Senegal sempre foi líder democrático na África e no mundo, mas Wade o destruiu. As arbitrariedades e a violação das leis são semelhantes ao que aconteceu na Costa do Marfim.

Folha- Existe o risco de a violência aumentar?
Gueye- Não acontecem mais mortes porque a população não possui armas. Não penso numa guerra, mas numa crise. Contudo, ouvi dizer que um candidato está recrutando pessoas e as armando. Não sei se é verdade, mas precisamos ter cuidado. Resta muito pouco tempo.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/58477/visualizar/