Análise: Conflito com brasiguaios não é diplomático, e sim agrário
O vídeo a seguir, da repórter especial Laura Capriglione e da repórter-fotográfica Marlene Bergamo, exibe declarações do maior produtor individual de soja no Paraguai, o empresário brasileiro Tranquilo Favero, 74, que resultaram no pedido de retirada de sua cidadania paraguaia, aprovado pela Câmara Municipal de Assunção.
Apresentado pelo vereador liberal Augusto Wagner, em conjunto com outra proposição, o projeto o declara como pessoa non grata no país, em virtude de elogios à ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). As declarações foram publicadas na Folha no último dia 5.
No trecho abaixo, Favero, que nasceu em Videira (SC), diz que é inútil lidar com os sem-terra na base da diplomacia, que eles têm de ser tratados "como mulher de malandro, que só obedece na base do pau".
Laura Capriglione, no entanto, lembra no vídeo abaixo que "não se trata de um conflito opondo brasileiros e paraguaios, mas um conflito entre o pequeno agricultor, expulso de sua terra, e o fazendeiro, que não precisa de gente nas suas terras".
Naturalizado paraguaio, Favero tem seu nome gravado em inúmeras faixas no acampamento dos sem-terra instalado bem na frente de suas propriedades, no município de Ñacunday, a 95 km de Foz do Iguaçu.
"Favero cue", a frase em guarani que significa "Favero já era", também aparece em camisetas usadas orgulhosamente pelos sem-terra.
CONTEXTO
A um ano e meio das eleições que definirão quem será o sucessor do presidente paraguaio esquerdista, Fernando Lugo, o país está dividido. De um lado, trabalhadores rurais sem-terra, base histórica do próprio Lugo.
De outro, os produtores de soja, empreendedores rurais em grande medida responsáveis pelos espetaculares 15% de crescimento econômico do Paraguai em 2010 --exportaram soja para alimentar os porcos que alimentam os chineses.
Segundo o governo paraguaio, os problemas apontados pelos produtores rurais decorrem de uma reforma agrária mal-sucedida, ocorrida nos anos 1960 e 1970, que envolveu transações irregulares de títulos e marcações de terra equivocadas.
Por causa disso, os campesinos reivindicam parte das terras que estão hoje em posse de brasileiros, afirmando que houve erro nas marcações.
Os sem-terra reivindicam 167 mil hectares de terras na região do Alto Paraná, faixa de fronteira com o Brasil. Dizem que se trata de apenas uma parte dos quase 300 mil hectares de propriedades cuja titularidade nunca saiu das mãos do Estado. Terras públicas que teriam sido usurpadas por "grileiros de terras brasileiros".
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