Novo cangaço leva violência e terror ao interior do Brasil
Grupos armados invadem e assaltam pequenas cidades no interior do Brasil. Eles chegam atirando, ocupam a cidade e usam até crianças de colo como escudo humano. A polícia está conseguindo prender esses criminosos.
Hora do almoço de um dia de semana. Há bastante movimento em uma agência bancária na cidade de Denise, a pouco mais de 200 quilômetros da capital de Mato Grosso. De repente, um homem encapuzado entra apontando uma arma e atira. Assustados, os clientes recuam. Só que aparece mais um assaltante.
“Eles já chegaram atirando. Tinha muita gente dentro e fora do banco. Foi terrível”, diz uma testemunha.
Para ter certeza de que ninguém ali está armado, um bandido manda os homens tirarem a camisa. Agachada com o bebê no colo, uma mulher tenta proteger o filho. Chegam então mais dois assaltantes, portando fuzis.
A quadrilha manda os clientes saírem da agência. A mulher com o bebê tenta sair também, mas não consegue abrir caminho em meio a tanto desespero. E se abaixa de novo, enquanto um cliente foge engatinhando. Até que um dos bandidos diz que ela pode ir embora.
Mas o terror ainda não acabou. Deitados no chão, estão três funcionários do banco. Um dos bandidos sai com o dinheiro roubado. Passa a bolsa a um comparsa, volta, manda um dos funcionários se levantar e ainda bate nele com um colete. O funcionário virou refém na fuga, junto com um comerciante.
"No caminho eles iam atirando para cima. Pensei que ia morrer", conta outra testemunha.
As imagens, até então inéditas, são de 2010, em Mato Grosso. Segundo a polícia, as quadrilhas de assaltantes a banco agem assim até hoje. São bandidos do chamado novo cangaço em ação. Eles são especializados em atacar agências bancárias sempre com muita violência e terror.
“Eles escolhem cidades com poder econômico bom. Eles percebem que naquele dia, naquele instante, naquela hora, não há tanto policiamento no local, pegando toda a polícia e a sociedade desprevenidas”, diz Paulo Prado, do Ministério Público Federal de Mato Grosso.
Tapurah fica a 445 quilômetros de Cuiabá. Imagens mostram bandidos que chegam atirando em uma das portas. Depois, os clientes são obrigados a ficar na entrada da agência, formando uma parede humana para garantir o assalto. É uma tática típica do novo cangaço. Entre os reféns estão uma mulher com uma criança no colo e uma menina. Minutos depois, um dos assaltantes atira contra duas portas.
Segundo a polícia, houve 12 ações desse tipo em Mato Grosso, em 2011.
“Hoje temos uma disseminação dessa forma criminosa entre várias quadrilhas que estão surgindo com a prisão de membros de outras quadrilhas”, diz Flávio Stringhetta, da Polícia Civil de Mato Grosso.
As quadrilhas do novo cangaço chegam até a enfrentar a polícia para resgatar comparsas.
Paranatininga fica a quase 400 quilômetros de Cuiabá. Os policiais militares que estavam em um carro checam os documentos do homem que dirigia uma caminhonete branca. Nessa hora, chega outra viatura, só que com mais bandidos. Eles roubaram o carro da polícia, e os policiais militares que estavam dentro dele viraram reféns.
Os policiais correm, tentando se proteger. O motorista atira seguidas vezes, mas não acerta os policiais militares. O bando acaba fugindo com as duas viaturas e o comparsa. Mas os policiais ficaram com o celular dele. Conseguiram rastrear e prender toda a quadrilha.
Na semana passada, Lucas do Rio Verde, a 350 quilômetros da capital sofreu mais um ataque. Desta vez uma nova estratégia, uma nova arma. Os bandidos conseguem entrar na agência de madrugada. E usam dinamite para explodir o caixa eletrônico.
Toda a ação dos criminosos estava sendo monitorada pela polícia. Quando deixavam a agência, eles receberam voz de prisão. Reagiram, trocaram vários tiros. Do lado de fora, ainda dá para ver as marcas da violência, dos disparos de fuzil.
Os bandidos não conseguiram levar o dinheiro. Três foram mortos e quatro acabaram presos.
Esta semana 100 quilos de dinamite foram localizados e apreendidos em um sítio perto de Cuiabá. A polícia ainda investiga quem teria encomendado e comprado os explosivos.
“Só este material é suficiente para a explosão de 300 terminais de autoatendimento, 300 caixas eletrônicos”, aponta Ana Cristina Feldner, da Polícia Civil de Mato Grosso.
Quatro quadrilhas já foram identificadas. Dezoito assaltantes foram presos. E este ano a Justiça condenou dez deles.Todas as pessoas que foram feitas reféns nos assaltos mostrados na reportagem do Fantástico acabaram sendo soltas depois que os bandidos conseguiram fugir. Mas o medo permanece.
“Foi muito terrível, muito tiro. É uma coisa que a gente não esquece fácil”, diz uma testemunha.
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