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Polícia Brasil
Segunda - 20 de Fevereiro de 2012 às 06:56
Por: Ana Carolina Moreno

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Estudantes da USP presos em reintegração de posse retornam à delegacia após se submeterem a exame de corpo de delito no IML (Foto: Vanessa Fajardo/G1)
Estudantes da USP presos em reintegração de posse retornam à delegacia após se submeterem a exame de corpo de delito no IML (Foto: Vanessa Fajardo/G1)



As 11 pessoas detidas na reintegração de posse de uma sala no Bloco G do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (USP), na Cidade Universitária, Zona Oeste de São Paulo, foram liberadas pouco depois das 17h de domingo (19). O grupo, composto ainda por uma adolescente de 16 anos, foi detido em flagrante por volta das 6h e encaminhado ao 14° Distrito Policial, em Pinheiros, também na Zona Oeste, e autuados por desobediência e dano ao patrimônio público.

Ana Paula de Oliveira, que está grávida de seis meses (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Ana Paula de Oliveira, que está grávida de seis
meses (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)



Nenhum dos presos aceitou depor na delegacia. Todos afirmaram que só se manifestarão em juízo.

A adolescente, inicialmente colocada em uma cela separada, foi liberada ainda de manhã. Os maiores de idade reclamaram das condições em que ficaram presos. As cinco mulheres, com idades entre 20 e 27 anos - duas estudantes e três namoradas de alunos - afirmaram terem sido colocadas em uma cela de 2m por 1,5m. Os homens, que têm entre 20 e 38 anos, por sua vez, disseram que ficaram detidos em uma cela de 2m por 3m.

Ana Paula de Oliveira, de 21 anos, grávida de seis meses, afirmou que a cela onde ficou detida estava suja e com cheiro de criolina, o que a fez passar mal. "O chão estava todo sujo, a privada estava entupida. Eu comecei a passar mal, quase vomitei. As meninas começaram a bater na porta, mas demorou [para abrirem], acharam que a gente estava de brincadeira", contou ela, que foi levada em uma viatura ao Hospital das Clínicas para ser atendida antes do exame de corpo delito.

"Fomos presas em uma cela minúscula, muito suja, com cocô por todos os lados, foi uma situação degradante", reclamou Rosimeire dos Santos, de 27 anos.

Ela explicou que a sala foi ocupada em protesto pela falta de moradia estudantil na Cidade Universitária. Segundo Rosimeire, o local antigamente era usado como moradia, mas foi tomado pela Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) para ser usado com fins administrativos. "Já existia o déficit de moradias e a Coseas toma espaços para ocupar como escritório", disse.

A estudante negou que o grupo que ocupou a sala tenha recusado a oferta de auxílio-moradia em dinheiro oferecido pela USP. "Nós não queremos dinheiro, queremos moradia."

Estrangeiros
Dois dos 11 detidos não são brasileiros, mas responderão pelos mesmos delitos assim como os demais. Segundo a Polícia Civil, um inquérito criminal foi feito para eles por causa da prisão.
Quatro pessoas do grupo já haviam sido levadas à delegacia no ano passado durante a reintegração de posse do prédio da reitoria.

Na época, 73 estudantes foram presos e depois soltos após pagaram fiança. Eles respondem por um processo criminal. Segundo Ana Lúcia Marchiori, advogada dos estudantes detidos neste domingo, não há reincidência porque o processo ainda está em andamento e não houve condenação. Segundo informações da Polícia Civil, nenhuma das pessoas detidas tem passagem pela polícia.

Um estudante de pós-graduação que mora em um país latino-americano, que preferiu não revelar sua identidade e nacionalidade, afirmou que, desde que chegou à USP, há mais de um ano, tentou conseguir uma moradia estudantil. "Mas sempre me negaram, queriam me mandar para a moradia em um prédio no Centro de São Paulo, mas ela não está pronta", afirmou ele ao G1.

Quarto ocupado no bloco G (Foto: Divulgação / PM)
Quarto ocupado no bloco G (Foto: Divulgação / PM)



Por isso, ele passou por diversas casas durante sua estada no Brasil, e ocasionalmente passava alguns dias na ocupação do Crusp. "Estava de passagem, buscando um quarto com baixo custo para me mudar depois do carnaval."

O universitário contou que, em seu país, que tem taxas de violência maiores que o Brasil, é proibida a presença da polícia no campus das universidades. Segundo ele, há cerca de duas semanas, os estudantes da ocupação perceberam que câmeras de segurança discretas haviam sido instaladas em escritórios perto da ocupação e apontadas para a porta da sala tomada em protesto.

Mulheres
Entre as mulheres presas, três não estudam na USP. Aline Dias, de 27 anos, estava entre o grupo detido neste domingo. No fim de 2011, ela foi uma de oito estudantes expulsos da Universidade de São Paulo em um processo administrativo, acusados de participar da ocupação da sala do Bloco G.

"Estava quase terminando o curso de artes cênicas, só faltava o TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]", afirmou ela, que disse ter entrado com recurso para reverter a expulsão.

Ana Paula, a única gestante do grupo, foi aluna do Cursinho Popular, oferecido gratuitamente dentro do campus da USP na Cidade Universitária. Ela prestou vestibular da Fuvest para matemática e agora aguarda o resultado da quarta chamada. Ela dormia na sala ocupada pelos estudantes em protesto pela falta de moradia com seu companheiro, que estuda na USP. "Não sei para onde vou agora", contou ela.

A vestibulanda afirmou que, inicialmente, o oficial de justiça presente na reintegração de posse afirmou ao grupo que eles poderiam guardar seus pertences e deixar o local em liberdade.

"Depois disseram que íamos ser levados para um ônibus, e, quando a gente questionou, fomos presos por desobediência. Eu fui presa e não sabia para onde ia", contou ela. Ana Paula afirmou ainda que pediu para que o mandado de reintegração de posse fosse lido, mas que o oficial de Justiça se recusou. "No boletim de ocorrência, diz que foi lido, mas não foi."

A jovem disse ainda que, apesar da gravidez visível, foi colocada à força por policiais em uma cadeira e depois arrastada para o ônibus. Rosimeire disse que foi agredida dentro do ônibus. "Fizemos exame de corpo delito e lá vai aparecer as agressões. Eu fui puxada pelo braço e tenho hematoma na perna", disse.

O que diz a PM
O major Marcel Soffner, porta voz da PM, informou que a reintegração foi feita entre 6h e 7h deste domingo. Ele também negou que a ação policial tenha sido truculenta. "Houve um disparo de bala de borracha em direção a uma parede para causar um efeito moral, efeito de dissipação porque os alunos arremessavam pedras contra a tropa”, disse Sofner. De acordo com o oficial da Polícia Militar, 300 policias militares do 16º Batalhão e da Tropa de Choque da PM e 50 carros da corporação participaram da reintegração.

USP
Segundo alunos que estão no 14º DP, o bloco G do Crusp deverá ser desativado para funcionar como administração de assistência social da universidade, não sendo permitido que ninguém more ali. Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da USP informou que a universidade não irá comentar o assunto a respeito da reintegração de prisão dos alunos.

Doze pessoas foram detidas durante a desocupação de prédio na USP (Foto: Divulgação / PM)
Doze pessoas foram detidas durante a desocupação de prédio na USP (Foto: Divulgação / PM)




Fonte: Do G1 SP

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