Cardeal brasileiro pede que Europa e EUA desçam do pedestal
O brasileiro João Braz de Aviz, único latino-americano que recebeu neste sábado o título de cardeal, espera que o Colégio Cardinalício seja mais "universal" e pede à Europa e aos Estados Unidos que desçam do pedestal e "voltem seus olhares" para a América Latina.
Em uma entrevista à agência de notícias católica I-Media, o novo cardeal, de 64 anos, próximo ao movimento italiano dos Focolares, que representa no novo Colégio Cardinalício o país mais católico do mundo, convidou seus colegas a reconhecerem que o mundo mudou.
"Na América Latina e em outras partes temos que admirar a grande história da Europa, sua beleza. Mas a Europa, por sua vez, deve descer das alturas e ter uma atitude fraternal com os outros continentes e deixar de olhar os demais de cima para baixo", assegurou.
"Isso de um ponto de vista católico e econômico, mas também dentro da Igreja", disse.
Tony Gentile/Reuters | ||
João Braz de Aviz, que recebeu neste sábado o título de cardeal das mãos do papa Bento XVI |
"Não podemos deixar de levar em conta que América Latina, Ásia e África mudaram e continuar pensando que são colônias ou do Terceiro Mundo", acrescentou.
O novo cardeal, que recebeu na Basílica de São Pedro junto com outros 21 colegas das mãos do papa Bento XVI o título cardinalício, há mais de um ano é prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e é responsável por cerca de 800 mil religiosos e religiosas espalhados pelo mundo.
O ex-arcebispo de Brasília, que confessou que tem no corpo 130 fragmentos de chumbo devido a um tiroteio ocorrido há 30 anos, é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia da libertação".
Para o brasileiro, a corrente teológica latino-americana que surgiu na década de 60 contra a opressão e a favor da luta dos mais desfavorecidos foi "útil" e até "necessária", porque deixou que a Igreja descobrisse a "opção preferencial pelos pobres", sustenta o site.
A designação de diversos cardeais provenientes da Europa, em particular da Itália, o que pesaria em caso de conclave ou eleição de Papa, já que o continente contaria com 30 cardeais sobre 125, desencadeou polêmicas devido ao "eurocentrismo" do Papa alemão, que, para vários observadores, está preparando sua sucessão.
Interrogado sobre o desequilíbrio que existe no órgão diretor da Igreja, o novo cardeal considerou que "quanto mais universal for o Colégio Cardinalício, melhor ele representa a Igreja".
"Trabalhamos muito para conseguir isso e seguiremos agindo. A Igreja é tão original, tão unida e, ao mesmo tempo, tão cheia de diferenças!", comento.
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