Diante da evidente e cada vez maior presença iraniana na América Latina, o senador americano Robert Menendez, presidente do Subcomitê de Relações Internacionais no Hemisfério Ocidental, realizou, nesta quinta-feira, uma audiência com testemunhas especialistas na região e em terrorismo para identificar e avaliar as ramificações do relacionamento entre Mahmoud Ahmadinejad e chefes de estado latino-americanos.
"O próprio Ahmadinejad afirmou que faria alianças com o "quintal" dos Estados Unidos", disse Menendez. De acordo com o senador, a intenção do presidente iraniano é motivo de real alarme. "Quando vemos isso combinado com o fato de que viagens entre o Irã e Venezuela e Bolívia não exigem visto, apesar dos fracos vínculos comerciais e turísticos entre esses países; além de o fato de que uma parceria com bancos venezuelanos permitem que Teerã circunvenha sanções econômicas, é impossível dizer que essa questão merece receber mais atenção por parte dos EUA", afirmou Menendez.
A fonte de maior preocupação dos especialistas é a aliança de Ahmadinejad com Hugo Chavez (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua) e Evo Morales (Bolívia). Enquanto os objetivos iranianos na região são claros - evitar um total isolacionismo comercial, obter urânio para seu programa nuclear por meio de atividades de mineração na Venezuela e na Bolívia e, talvez, até mesmo atacar os Estados Unidos em solo latino-americano, as vantagens da aliança para a região não são fáceis de serem identificadas. Uma pesquisa recente da Gallup indicou que a maioria dos latino-americanos têm pouca simpatia pelo Irã e não se identificam com a cultura islâmica.
"Para Chavez a vantagem desta aliança é se mostrar mais forte perante a comunidade internacional na sua oposição aos EUA", disse, Cynthia Arnson, diretora do programa latino-americano do Woodrow Wilson Center. Douglas Farah, do Centro de Avaliação e Estratégia Internacionais (IASC) concorda com esta avaliação. "Isso faz parte da megalomania de Chávez de querer acabar com os Estados Unidos", disse o especialista.
Quanto aos outros países latino-americanos envolvidos em alianças com Teerã, os especialistas acreditam que o motivo é principalmente comercial, com um leve toque do tradicional antiamericanismo da região. "Esses países acham que estão assumindo um risco calculado e que não sofrerão consequências ao se relacionarem com o Irã", afirma Ilan Berman, vice-presidente do Conselho Americano de Política Internacional.
Mas os membros do Subcomitê de Relações Internacionais no Hemisfério Ocidental do Senado americano prometem reagir com firmeza com respeito às alianças latino-americanas com o Irã. "É algo muito mal calculado e que pode ter consequências desastrosas para a região", afirmou o senador Marco Rubio.
O Brasil é o país latino-americano que menos apresenta motivo de preocupação, segundo indicado pelos especialistas durante a audiência com o Senado americano. Todos concordam que o governo de Dilma Rousseff é muito menos favorável a Ahmadinejad do que era o governo anterior sob a liderança de Luis Inácio Lula da Silva.
"Durante sua recente visita à região, Ahmadinejad foi rejeitado pelo Brasil, o maior parceiro comercial do Irã na América Latina, mostrando um contraste enorme com as visitas entre ele e Lula, em 2009 e 2010, nas suas respectivas capitais", disse Arnson." Arnson também lembrou ao subcomitê que, em março de 2011, o governo Rousseff votou contra o Irã na Organização das Nações Unidas (ONU) pela primeira vez, depois de uma década de apoio ao país asiático.
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