O Partido da República (PR) retomou oficialmente nesta terça-feira diálogo com o governo para uma possível volta à base aliada. Nesta tarde, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, responsável pela articulação política no Planalto, recebeu o líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (PR-MG), e no Senado, Blairo Maggi (PR), para iniciar as negociações.
A legenda deixou a base aliada depois da demissão de Alfredo Nascimento do Ministério dos Transportes, por denúncias de corrupção. A presidente Dilma Rousseff nomeou Paulo Sérgio Passos para o comando da pasta, substituto que, mesmo filiado ao partido, foi escolhido a contragosto da liderança da sigla.
Em entrevista coletiva após reunião com a ministra Ideli Salvatti, Portela negou uma eventual barganha por uma nova pasta. "Nossa volta para a base não está condicionada a cargos ou ministérios", assegurou o deputado.
Indagado sobre a presença de Passos no comando de uma pasta estratégica do governo Dilma, Portela deixou claro que o ministro não é a escolha do partido. "O Paulo Sérgio Passos faz parte do partido no sentido de ser filiado", resumiu.
Nos corredores do Planalto, circula a hipótese de que o PR vem negociando a volta oficial à base em troca de um novo ministério por considerar que o comando dos Transportes está na cota da presidente, e não do PR. Apesar de ter declarado postura de independência, o partido vem acompanhando o governo em votações importantes no Congresso Nacional.
A crise no Ministério dos Transportes
Uma reportagem da revista Veja do início de julho afirmou que integrantes do Partido da República haviam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do Ministério dos Transportes. O negócio renderia à sigla até 5% do valor dos contratos firmados pelo ministério sob a gestão da Valec (estatal do setor ferroviário) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
O esquema seria comandado pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto. Mesmo sem cargo na estrutura federal, ele lideraria reuniões com empreiteiros e consultorias que participavam de licitações do governo no ramo.
O PR emitiu nota negando a participação no suposto esquema e prometendo ingressar com uma medida judicial contra a revista. Nascimento, que também negou as denúncias de conivência com as irregularidades, abriu uma sindicância interna no ministério e pediu que a Controladoria-Geral da República (CGU) fizesse uma auditoria nos contratos em questão. Assim, a CGU iniciou "um trabalho de análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias".
Apesar do apoio inicial da presidente Dilma Rousseff, que lhe garantiu o cargo desde que ele desse explicações, a pressão sobre Nascimento aumentou após novas denúncias: o Ministério Público investigava o crescimento patrimonial de 86.500% em seis anos de um filho do ministro. Diante de mais acusações e da ameaça de instalação de uma CPI, o ministro não resistiu e encaminhou, no dia 6 de julho, seu pedido de demissão à presidente. Em seu lugar, assumiu Paulo Sérgio Passos, que era secretário-executivo da pasta e havia sido ministro interino em 2010.
Além de Nascimento, outros integrantes da pasta foram afastados ou demitidos, entre eles o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron - único indicado pelo PT na direção do órgão -, o diretor-executivo do Dnit, José Henrique Sadok de Sá, o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves, e assessores de Nascimento.
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