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Sábado - 11 de Fevereiro de 2012 às 13:54

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Ricardo Gomes só faz cara feia para cumprir o rigoroso programa de reforço muscular imposto pelo preparador físico Francisco Javier Gonzalez, que há dois meses trabalha no processo de recuperação do treinador. De resto, tudo é festa. É uma alegria contagiante. Uma força de vontade impressionante. Cinco meses e meio depois de sofrer um gravíssimo AVE (Acidente Vascular Encefálico), que o deixou à beira da morte, o técnico faz força para voltar ao comando do Vasco. E com a mesma convicção com que levanta peso na musculação. O treinador recebeu a equipe da TV Globo e avisou:
- Vou voltar! Pode ser daqui a um mês, em agosto, em dezembro. Isso não importa. O que eu quero mesmo é me recuperar 100% - disse.

E no que depender da força de vontade do treinador, isso não vai demorar para acontecer. A obstinação para recuperar todos os movimentos é incrível. Ricardo Gomes ainda tem certa limitação no lado direito do corpo. Mas faz tudo sozinho. Não depende sequer de uma pessoa para levá-lo à academia de Francisco Gonzalez, na Barra. A fala é pausada, mas completamente nítida. Às vezes, lhe foge uma palavra ou outra. Absolutamente normal para quem precisou ter 80ml de sangue drenado do cérebro após o AVE hemorrágico sofrido no dia 28 de agosto, em pleno Engenhão, durante o Vasco x Flamengo do primeiro turno do Brasileiro de 2011. Impressiona vê-lo sobre uma bicicleta ergométrica fazendo um trabalho físico forte.

- A carga não é leve, não. É pesada. Ele chega a dar tiros de 15 a 30 segundos. A recuperação dele está ótima, muito boa mesmo - afirma Francisco Gonzalez, que se divide entre o trabalho com Ricardo Gomes, a administração de sua academia e a seleção de futebol da África do Sul, de quem é preparador físico desde os tempos de Parreira e Joel.

Ricardo Gomes exala bom humor. Brinca até com a situação dramática que viveu.

- Eu já estou na hora extra. Toda vez que fico irritado com alguma coisa, lembro que estou na hora extra - sorri.

Ricardo não perde uma chance de soltar piadas.

- Vou escrever um livro de como recuperar o joelho com um AVC - diz, referindo-se aos problemas que teve no joelho direito durante a carreira como jogador e que agora estão melhorando por causa do intenso trabalho de recuperação muscular.

Ricardo também fala sem qualquer ressentimento sobre o que aconteceu com ele. Diz se lembrar de tudo. E, curiosamente, recorda que no dia que teve alta do hospital, quase voltou a ser internado por causa das dores no joelho, segundo ele, insuportáveis.

E o Vasco da Gama mexe demais com o treinador. Ele, que já dá valor a coisas míninas, casuais, como uma boa conversa jogada fora, fala do clube com imenso carinho:

- Serei eternamente grato ao Vasco, à torcida, a todo mundo do clube.

Mesmo de longe, o Vasco faz parte do dia a dia de Ricardo. Ele tem freqüentes conversas com Cristóvão, seu braço direito, que herdou o cargo após o afastamento. Eles trocam idéias sobre o time, a escalação, mas Ricardo garante que a palavra final é sempre de Cristóvão:

- Ele é que está no dia a dia do clube. Quem está de fora, só pode dar palpite.

Ricardo Gomes defende o amigo das vaias recebidas por ele na derrota por 2 a 0 para o Nacional-URU, na estréia do Vasco na Libertadores, quarta-feira passada, em São Januário:

- Isso já aconteceu comigo no Vasco, faz parte, é normal.

Mas com o instinto de treinador ainda pulsando firme, ele avisa.

- O time deles é bom, mas deu pra ver que tem algumas coisas que podem ser exploradas - analisa o técnico, que descarta ser dirigente, gerente de futebol ou qualquer outra função que não seja de treinador de futebol.

- Vou trabalhar no campo.

Assim tem sido a rotina de Ricardo Gomes. De segunda a sábado, faz trabalhos de recondicionamento físico, fisioterapia e fonoaudiologia. E, acima de tudo, dá um emocionante exemplo de força de vontade e superação.





Fonte: GLOBO

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