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Sábado - 14 de Janeiro de 2012 às 04:29
Por: ROBIN HARDING

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O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) estava preocupado com uma desaceleração no setor de habitação, em 2006, mas jamais considerou a possibilidade de que isso causasse uma crise financeira, de acordo com transcrições de reuniões divulgadas ontem.

Quase todos os dirigentes do Fed concluíram que a fraqueza do setor de habitação causaria desaceleração no consumo e investimento, mas a expectativa era de que isso fosse compensado pela força de outros segmentos da economia, o que resultaria em crescimento continuado, no cômputo geral.

"A habitação é a questão crucial. Para conseguirmos uma aterrissagem suave, precisamos de algum resfriamento na habitação", disse Ben Bernanke, hoje chairman do Fed, em sua avaliação da situação econômica, em março de 2006. "Não é provável que a situação do mercado da habitação tire o crescimento dos trilhos".

As transcrições demonstram a incapacidade do Fed -compartilhada pela maioria dos demais bancos centrais, comentaristas financeiros e economistas de todo o mundo- para perceber o perigo que as hipotecas de risco (subprime) representavam para o sistema financeiro. Essa complacência preparou o terreno para a crise que se iniciou no verão de 2007.
Ao longo de 2006, os dirigentes do Fed estavam cientes de que uma forte desaceleração estava em curso na construção e venda de casas.

"Até as Carolinas estão começando a mostrar recuo", disse Richard Fisher, presidente do Fed de Dallas, na reunião do conselho de política monetária do banco central norte-americano em agosto daquele ano. "As cinco grandes construtoras e outras companhias de construção residencial estão reagindo. Estão cortando pessoal".

Alguns dos executivos do Fed viram a desaceleração na habitação como boa notícia.

"Quanto à habitação, estamos na verdade, como todos perceberam, excluindo do sistema os excessos especulativos que surgiram em função dos juros baixos dos últimos anos -e fazê-lo é inevitável se queremos promover uma correção no setor", disse Thomas Hoenig, então presidente do Fed de Kansas City, na reunião de setembro de 2006 do Comitê Federal de Open Market.

Os executivos do Fed envidaram esforços especiais para conversar com as construtoras de casas, como reflexo de seus temores quanto ao efeito da desaceleração sobre o investimento e o consumo, mas existem poucas indicações de que tenham considerado a questão da origem do crédito que havia sustentado o boom da habitação.

"Práticas predatórias de empréstimo são perceptíveis no extremo inferior da escala, e isso é algo a que teremos de continuar atentos. No entanto, antes que deixemos para trás a questão da habitação, permitam-me dizer que, em termos gerais, a qualidade de crédito hipotecário continua muito, muito forte. Os empréstimos predatórios ocorrem apenas em alguns bolsões do mercado", disse Susan Bies, então membro do conselho do Fed, na reunião de setembro.

A transcrição da reunião de outubro descreve a primeira tentativa de Bernanke para levar o comitê a adotar uma meta de inflação explícita, tema a que ele retornaria e que voltará a ser debatido na próxima reunião do Fed.

A transcrição revela apoio ao estabelecimento de uma meta clara para a inflação, mas a maioria dos integrantes do comitê, Bernanke incluído, preferia avançar nesse sentido apenas gradualmente. Então, como agora, a maior preocupação era como definir os números da meta de inflação e seu efeito sobre o outro objetivo da instituição, promover o máximo emprego.

"Apoio que seja declarada uma meta numérica de longo prazo para a inflação", disse Janet Yellen, então presidente do Fed de San Francisco e hoje vice-chairman encarregada da comunicação do banco central, na reunião de outubro de 2006.

"Minha maior preocupação é o potencial de que isso reduza a ênfase quanto à outra parte de nossa missão, a saber, o máximo sustentável de emprego. Essa perda de ênfase poderia surgir na mente do público e imagino que também poderia facilmente afetar as nossas deliberações".






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