Repórter News - reporternews.com.br
Policia MT
Segunda - 09 de Janeiro de 2012 às 15:10
Por: Leandro J. Nascimento

    Imprimir


 Escutas telefônicas gravadas com autorização da justiça revelam como agia em Mato Grosso uma quadrilha apontada pela polícia e pelo Ministério Público do estado como a principal que praticava crimes de saidinhas de banco na Grande Cuiabá (capital e região metropolitana).

O grupo foi desarticulado em 14 de dezembro durante a operação Sétimo Mandamento, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), em parceria com a Polícia Militar. Mas uma decisão judicial colocou em liberdade todos os investigados e impediu aqueles que ainda não haviam sido presos de ser encaminhados para as delegacias do estado. Uma brecha jurídica possibilitou a liberdade dos suspeitos. Menos de um mês depois, a Justiça mandou prender novamente todos os investigados.

Durante três meses, os suspeitos tiveram as conversas monitoradas. Nos diálogos, demostravam como a organização agia e como as funções eram divididas. Em um dos diálogos, um olheiro encarrega-se de comunicar ao outro suspeito as características das vítimas que estavam no banco sacando dinheiro. O interesse, conforme o Ministério Público, era por vítimas que movimentavam mais de R$ 2 mil.

Suspeito 1 – E aí?
Suspeito 2 (dentro da agência) – Vai sair pelo fundo dois bichinhas. Com "cinco".
Suspeito 1 – Com cinco "barão" (mil reais).
Suspeito 2 - É.
Suspeito 2 – Manda ver. Você fica meio aqui por perto porque eu vou voltar lá dentro. Vou depositar um dinheiro lá.
Suspeito 1 – Mas vai sair pelo fundo com que carro?
Suspeito 2 – Não. Então, eu vou acompanhar eles. Voltei aqui só para avisar. Fica ligeiro pra nós não perder.

Os chamados "olheiros" encarregavam-se de manter os demais comparsas informados acerca de vítimas em potencial. Já o "piloto" ficava encarregado de realizar a perseguição contra a vítima e prestar suporte na perseguição da vítima. Na maior parte das vezes, eles utilizavam veículos para levar os suspeitos que se encarregavam de pegar o dinheiro das vítimas, também chamados de "pegadores".

O Ministério Público estima que em apenas três meses o grupo conseguiu subtrair a quantia de R$ 400 mil durante as saidinhas de banco. Dentro dos bancos, os suspeitos conseguiam se comunicar sem levantar evidências de que a conversa se tratava do planejamento de mais um assalto. Os suspeitos articulam-se sobre como interceptar as vítimas.

Suspeito 1- Vai sair pelo fundo?
Suspeito 2 – É.
Suspeito 1 – Eu vou soltar o guri aqui então. O guri vai pegar eles no estacionamento mesmo.
Suspeito 2 – Aham.
Suspeito 1 – Pode crer? Já vai sair já?
Suspeito 2 – Ainda não. Eu depositei aqui e estou depositando o restante.
Suspeito 1 – Na hora que você for sair, só avisa para mim.
Suspeito 2 – Falou.

Em outra etapa, a conversa evolui e os dois suspeitos planejam como deve ocorrer a ação:

Suspeito 2 – Tá com um de short branco. Só que o outro está pegando mais dinheiro aqui. O de short branco já colocou no bolso, do lado direito. Dois gays, um alto de calça e o de short.
Suspeito 1 – Ele já vai descer para pegar o guri.
Suspeito 2 – Não, espera aí porque o outro também está pegando dinheiro.
Suspeito 1 – O outro também está pegando?
Suspeito 2 – É. Um já pegou e está esperando o outro pegar. Na hora que eu der um toque é porque ele já saiu pela porta.
Suspeito 1 – Falou.

Suspeito 1 – Tá indo uma BMW aqui. Os caras estão atrás deles.
Suspeito 2 – Eles estão pegando?
Suspeito 1 – Não sei, só encostou.
Suspeito 1 – Tá pegando.
Suspeito 2 – Hein, dá uma força lá.

Prisão
Na semana passada, o Gaeco cumpriu 15 mandados de prisão contra pessoas que já estavam presas em presídios do estado por outros crimes. Dois foram presos. Um deles estava internado no Pronto-Socorro de Cuiabá, e o segundo encontrado na própria residência. Vinte e seis suspeitos que ainda estão em liberdade são procurados pela polícia.

No sábado (7), a Polícia Militar conseguiu localizar um jovem de 24 anos em Santo Antônio de Leverger, a 35 quilômetros de Cuiabá, suspeito de integrar a mesma organização. Estava no sítio da avó, a aproximadamente 15 quilômetros do município. "Agora vamos prosseguir com esse trabalho conjunto e não pouparemos esforços para prender novamente todos esses assaltantes", declarou o comandante da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Osmar Lino de Farias.

O promotor Arnaldo Justino, responsável pelas investigações, disse ao G1 que acredita que todos os envolvidos serão localizados pela polícia. Mas reconhece a dificuldade dos trabalhos. "A polícia vai ter dificuldade de prendê-los. Mas contamos com apoio da população de bem quer ver esse povo na cadeia", manifestou.

Justino diz não haver motivos para a população preocupar-se, uma vez que todos os envolvidos foram identificados e estão sendo procurados. "O importante é que a população pode ficar tranquila, pois o povo não terá a liberdade de antes para praticar os crimes na sociedade. Mas a operação permitiu que conhecêssemos esses bandidos e o modo deles agirem. Agora, todos estão atentos e a situação ficou mais tranquila", manfiestou.

Embróglio
O impasse que motivou a soltura dos suspeitos ocorreu ainda em dezembro. Os envolvidos localizados pelo Gaeco foram presos por determinação da juíza da 6ª Vara Criminal de Cuiabá, Suzana Guimarães Ribeiro de Araújo. Mas a magistrada declarou-se incompetente para julgar o caso, justificando que em Mato Grosso há uma Vara Especializada para tratar de situações da mesma natureza - a 15ª Vara Criminal Especializada de Combate ao Crime Organizado.

A partir da alegação, a defesa de um dos acusados entrou com pedido de liberdade no Tribunal de Justiça (TJ-MT). A manifestação foi acatada pelo desembargador João Ferreira Filho, em 27 de dezembro, fundamentado na incompetência absoluta do juízo da 6ª Vara, o que anulou a prisão do suspeito.

Três dias após a decisão, o desembargador Pedro Sakamoto estendeu o benefício a todos os 36 suspeitos presos. Em 30 de dezembro, foi determinada a soltura imediata, além do "salvo conduto”. Desta forma, os outros denunciados pelo MP e que não se encontravam presos não poderiam ser detidos.

No entanto, o caso ganhou nova reviravolta depois que na última semana a magistrada Suzana Guimarães, que assumiu temporariamente a Vara Criminal Especializada de Combate ao Crime Organizado, determinou novamente a prisão dos envolvidos.





Fonte: Do G1 MT

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/62472/visualizar/