Levantamento realizado pela Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo, em quatro grandes polos do estado, mostra os principais temas que estarão em destaque no debate eleitoral
Saúde e segurança são os grandes problemas no interior do PR
Além desses dois pontos, cada cidade destacou outros problemas vividos pelos moradores, e que podem se tornar armas importantes na hora das eleições. Em Foz, as drogas e o desemprego também entram na lista dos mais temidos. Já em Maringá, além das drogas, o trânsito também já é uma dor de cabeça para uma fatia considerável de eleitores. Moradores de Londrina e Cascavel apontam um outro tema: a falta de pavimentação nas ruas de ambas as cidades.
Protagonistas
Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Oliveira, vários fatores contribuíram para colocar a saúde como protagonista entre as preocupações dos eleitores. O aumento da expectativa de vida e as modificações da pirâmide etária brasileira influenciam em uma maior percepção do problema por parte da população, além de aumentar a demanda já grande do serviço público de saúde do país. Além disso, o perfil dessas cidades colabora com essa situação. Como são polos regionais de saúde, essas cidades recebem a demanda de toda a região, o que piora as filas e a qualidade do atendimento.
A segurança é a segunda maior preocupação dos eleitores dessas cidades. Segundo o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), vários fatores influenciam nesse sentimento de insegurança de parte da população. A percepção da violência não significa, necessariamente, que essas cidades estejam mais inseguras, já que relatos de insegurança no resto do país também influenciam para gerar esse sentimento. Além disso, a percepção também é afetada pela falta de acesso ao bem-estar, comenta o sociólogo.
Insegurança X drogas
Outro reflexo da questão da insegurança é a preocupação dos eleitores dessas cidades com as drogas. O nível varia entre 14% em Cascavel e 26% em Foz. Para Bodê, trata-se de um equívoco ligar diretamente esses dois problemas, já que o crescimento de um não está, necessariamente, ligado ao outro. “Em muitos países, se consome muito mais droga do que no Brasil e isso não se transforma em crime”, afirma. Entretanto, na ótica do eleitorado, esses problemas estão relacionados.
Menor pressão
Em contrapartida, outros temas que eram considerados problemáticos antes não foram destacados pelos eleitores, como a educação e o desemprego. Para Oliveira, a mesma mudança na pirâmide etária que jogou a pressão sobre o sistema de saúde aliviou a pressão do sistema educacional, já que o número de crianças nascidas no país diminuiu. Já o desemprego deixou de ser uma preocupação por conta do momento econômico em que o país vive.
A pesquisa foi realizada entre os dias 7 e 10 de dezembro em Londrina, com 635 entrevistados acima dos 16 anos; entre os dias 9 e 11 em Maringá, com 625 pessoas; entre 10 e 12 em Foz e 11 e 14 em Cascavel, com 655 pessoas entrevistadas em cada cidade. A margem de erro, em todos os casos, é de 4%, para cima ou para baixo. As respostas foram estimuladas e cada entrevistado poderia citar até dois temas.
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Londrina
Escândalos impulsionam números
Após dois anos seguidos de escândalos, a saúde se tornou a maior preocupação dos eleitores de Londrina. Um total de 67,4% dos eleitores da cidade mencionaram esta área como um dos maiores problemas vividos pelo município – cada entrevistado poderia dar até duas respostas. Os resultados desta pesquisa de dezembro de 2011 são muito parecidos com o levantamento realizado em maio(veja infográfico).
Em 2010 e 2011, dois escândalos de desvio de dinheiro envolvendo organizações sociais colaboraram para que esse número disparasse em relação ao resto do Paraná.
Segundo o cientista político Mário Sérgio Lepre, da Universidade do Norte do Paraná (Unopar), a saúde em Londrina é problemática, principalmente por conta da saturação do sistema – que recebe pacientes de vários municípios vizinhos. Entretanto, ela não chega a ser ruim a ponto de justificar essa porcentagem. “Não acredito que o problema da saúde em Londrina seja maior que o de Foz, de Maringá, ou mesmo de Curitiba. A população ficou mais crítica por conta de tudo o que ocorreu”, afirma.
Para Lepre, o assunto deve dominar as campanhas em 2012. “A saúde deve ser o calcanhar de Aquiles do prefeito Barbosa Neto (PDT). Ele vai ter que mudar suas atitudes em relação ao que a população percebe”, afirma. Para ele, os candidatos de oposição devem focar suas campanhas nesse ponto.
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Maringá
Drogas e trânsito são destaques
Apesar de ser uma cidade planejada, ao contrário da maioria das cidades do estado, Maringá é o município que mais sofre com o trânsito no interior do Paraná. Um total de 14,9% da população coloca o trânsito como um dos problemas da cidade, enquanto em Foz do Iguaçu, Londrina e Cascavel esse índice não chega aos 10%. Além disso, a preocupação com as drogas também se destaca entre os maringaenses.
Para a cientista política da UEM Celene Tonella, a falta de investimento em transporte coletivo tem causado grandes congestionamentos na cidade. “Maringá é uma cidade planejada, mas isso está se perdendo por conta da priorização do carro. Não há investimento, por parte do poder público, no transporte da cidade”, comenta. Além disso, ela destaca que a violência no trânsito também tem preocupado a população, e que os índices de acidentes envolvendo ciclistas e motociclistas são altos.
Já as drogas se tornaram um problema recorrente em Maringá por conta de duas rotas de tráfico que passam pela cidade – que é um interposto importante na estrada que liga a fronteira com o Paraguai, com polos consumidores como São Paulo e Rio de Janeiro. Apenas em 2011, 1,9 toneladas de drogas ilícitas foram apreendidas no município.
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Cascavel
Falta de investimentos agrava problemas
Assim como no resto das grandes cidades do interior, a saúde e a segurança pública são as maiores preocupações dos eleitores de Cascavel. Além disso, as drogas, a pavimentação de ruas e a educação também foram citadas como problemas importantes para mais de 10% do eleitorado da cidade.
Para a cientista política da Unioeste Rosana Kátia Nazzari, o problema da saúde em Cascavel está ligado à falta de equipamentos públicos de saúde no resto da região. “Cascavel é um polo regional de saúde, todas as doenças mais graves acabam sendo tratadas na cidade. A cidade tem que se virar para dar conta da demanda da região”, afirma. Além disso, Rosana aponta que não houve um investimento significativo na área nos últimos anos, o que agrava as filas, a demora e a qualidade dos atendimentos.
Já a questão da segurança, em Cascavel, está muito ligada à fronteira. Situado na Região Oeste, o município está nas principais rotas de tráfico de drogas, armas e contrabando, o que acaba trazendo insegurança para os moradores da região. Além disso, a instalação do presídio federal de Catanduvas (a 50 quilômetros de Cascavel), em 2006, deixou a cidade ainda mais vulnerável ao crime organizado.
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Foz do Iguaçu
Fronteira é aspecto negativo
Os problemas apontados pela população de Foz do Iguaçu mostram uma cidade bastante diferente do resto do Paraná. Se a saúde é a maior dor de cabeça em Cascavel, Londrina e Maringá, a segurança, as drogas e o desemprego preocupam a população das Cataratas. Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB local, Luciane Ferreira, a geografia explica parte desses problemas. “Por estar na fronteira, Foz é uma cidade sui generis. As pessoas vem para cá com a expectativa de ganhar dinheiro e ir embora.”
Para Luciane, a falta de uma infraestrutura econômica adequada ao porte da cidade favorece o alto índice de desemprego e a falta de perspectiva que leva uma parcela considerável dos jovens da cidade para o crime. Logo, essas três questões estão interligadas. “Nós não temos um polo industrial, vivemos quase exclusivamente do turismo. Entretanto, poucos estão qualificados para trabalhar no setor. Com isso, há uma informalidade grande, muita gente vivendo do contrabando.” O fator fronteira acaba reforçando essa situação.
Uma forma de melhorar essa situação, para Luciane, seria investir em educação, trabalho e cultura. “Se esses jovens não forem chamados para uma cultura de paz, serão levados por outra coisa.”
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