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Nacional
Segunda - 09 de Janeiro de 2012 às 09:56
Por: Chico Marés

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Às vésperas das eleições municipais, dois temas se destacam na agenda das maiores cidades do interior do Paraná: saúde e segurança. De acordo com le­­vanta­men­to realizado pela Paraná Pesquisas, com exclusividade para a Gazeta do Povo, os eleitores de Londrina, Marin­­gá, Cascavel e Foz do Iguaçu apon­­taram esses dois temas como os principais problemas de suas cidades. Nas três primeiras, a maior dificuldade, segundo a população, é a saúde pública, enquanto em Foz, na fronteira com o Paraguai, a violência ganha destaque.

Além desses dois pontos, ca­­da cidade destacou outros problemas vividos pelos moradores, e que podem se tornar ar­­mas importantes na hora das eleições. Em Foz, as drogas e o desemprego também entram na lista dos mais temidos. Já em Maringá, além das drogas, o trânsito também já é uma dor de cabeça para uma fatia considerável de eleitores. Moradores de Lon­­drina e Cascavel apontam um ou­­tro tema: a falta de pa­­vimentação nas ruas de am­­bas as cidades.

Protagonistas

Para o cientista político da Uni­­versidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Oliveira, vários fatores contribuíram para colocar a saúde como protagonista entre as preocupações dos eleitores. O aumento da expectativa de vida e as modificações da pirâmide etária brasileira influenciam em uma maior percepção do problema por parte da população, além de aumentar a demanda já grande do serviço público de saú­­de do país. Além disso, o perfil dessas cidades colabora com essa situação. Como são polos re­­gionais de saúde, essas cidades recebem a demanda de toda a re­­gião, o que piora as filas e a qualidade do atendimento.

A segurança é a segunda maior preocupação dos eleitores dessas cidades. Segundo o sociólogo Pe­­­dro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Univer­­sidade Federal do Pa­­raná (UFPR), vários fatores in­­fluenciam nesse sentimento de insegurança de parte da população. A percepção da violência não significa, necessariamente, que essas cidades estejam mais inseguras, já que relatos de insegurança no resto do país também influenciam para gerar esse sentimento. Além disso, a percepção também é afetada pela falta de acesso ao bem-estar, co­­menta o sociólogo.

Insegurança X drogas

Outro reflexo da questão da insegurança é a preocupação dos eleitores dessas cidades com as drogas. O nível varia entre 14% em Cas­cavel e 26% em Foz. Para Bodê, trata-se de um equívoco ligar diretamente esses dois problemas, já que o crescimento de um não está, necessariamente, ligado ao outro. “Em muitos países, se consome muito mais droga do que no Brasil e isso não se transforma em crime”, afirma. Entretanto, na ótica do eleitorado, esses problemas estão relacionados.

Menor pressão

Em contrapartida, outros temas que eram considerados problemáticos antes não foram destacados pelos eleitores, como a educação e o desemprego. Para Oliveira, a mesma mudança na pirâmide etária que jogou a pressão sobre o sistema de saúde aliviou a pressão do sistema educacional, já que o nú­­mero de crianças nascidas no país diminuiu. Já o desemprego deixou de ser uma preocupação por conta do momento econômico em que o país vive.

A pesquisa foi realizada entre os dias 7 e 10 de dezembro em Lon­­dri­­na, com 635 entrevistados acima dos 16 anos; entre os dias 9 e 11 em Maringá, com 625 pessoas; en­­tre 10 e 12 em Foz e 11 e 14 em Cas­­­­ca­­vel, com 655 pessoas entrevistadas em cada cidade. A margem de erro, em todos os casos, é de 4%, para cima ou para baixo. As res­­postas foram estimuladas e ca­­da entrevistado po­­deria citar até dois temas.

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Londrina

Escândalos impulsionam números

Após dois anos seguidos de escândalos, a saúde se tornou a maior preocupação dos eleitores de Londrina. Um total de 67,4% dos eleitores da cidade mencionaram esta área como um dos maiores problemas vividos pelo município – cada entrevistado poderia dar até duas respostas. Os resultados desta pesquisa de dezembro de 2011 são muito parecidos com o levantamento realizado em maio(veja infográfico).

Em 2010 e 2011, dois escândalos de desvio de dinheiro envolvendo organizações sociais colaboraram para que esse número disparasse em relação ao resto do Paraná.

Segundo o cientista político Mário Sérgio Lepre, da Universidade do Norte do Paraná (Unopar), a saúde em Londrina é problemática, principalmente por conta da saturação do sistema – que recebe pacientes de vários municípios vizinhos. Entretanto, ela não chega a ser ruim a ponto de justificar essa porcentagem. “Não acredito que o problema da saúde em Londrina seja maior que o de Foz, de Maringá, ou mesmo de Curitiba. A população ficou mais crítica por conta de tudo o que ocorreu”, afirma.

Para Lepre, o assunto deve dominar as campanhas em 2012. “A saúde deve ser o calcanhar de Aquiles do prefeito Barbosa Neto (PDT). Ele vai ter que mudar suas atitudes em relação ao que a população percebe”, afirma. Para ele, os candidatos de oposição devem focar suas campanhas nesse ponto.

 

 

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Maringá

Drogas e trânsito são destaques

Apesar de ser uma cidade planejada, ao contrário da maioria das cidades do estado, Maringá é o município que mais sofre com o trânsito no interior do Paraná. Um total de 14,9% da população coloca o trânsito como um dos problemas da cidade, enquanto em Foz do Iguaçu, Londrina e Cascavel esse índice não chega aos 10%. Além disso, a preocupação com as drogas também se destaca entre os maringaenses.

Para a cientista política da UEM Celene Tonella, a falta de investimento em transporte coletivo tem causado grandes congestionamentos na cidade. “Maringá é uma cidade planejada, mas isso está se perdendo por conta da priorização do carro. Não há investimento, por parte do poder público, no transporte da cidade”, comenta. Além disso, ela destaca que a violência no trânsito também tem preocupado a população, e que os índices de acidentes envolvendo ciclistas e motociclistas são altos.

Já as drogas se tornaram um problema recorrente em Maringá por conta de duas rotas de tráfico que passam pela cidade – que é um interposto importante na estrada que liga a fronteira com o Paraguai, com polos consumidores como São Paulo e Rio de Janeiro. Apenas em 2011, 1,9 toneladas de drogas ilícitas foram apreendidas no município.

 

 

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Cascavel

Falta de investimentos agrava problemas

Assim como no resto das grandes cidades do interior, a saúde e a segurança pública são as maiores preocupações dos eleitores de Cascavel. Além disso, as drogas, a pavimentação de ruas e a educação também foram citadas como problemas importantes para mais de 10% do eleitorado da cidade.

Para a cientista política da Unioes­­te Rosana Kátia Nazzari, o problema da saúde em Cascavel está ligado à falta de equipamentos públicos de saúde no resto da região. “Cascavel é um polo regional de saúde, todas as doenças mais graves acabam sendo tratadas na cidade. A cidade tem que se virar para dar conta da demanda da re­­gião”, afirma. Além disso, Rosana aponta que não houve um investimento significativo na área nos últimos anos, o que agrava as filas, a demora e a qualidade dos atendimentos.

Já a questão da segurança, em Cascavel, está muito ligada à fronteira. Situado na Região Oeste, o município está nas principais rotas de tráfico de drogas, armas e contrabando, o que acaba trazendo insegurança para os moradores da região. Além disso, a instalação do presídio federal de Catanduvas (a 50 quilômetros de Cascavel), em 2006, deixou a cidade ainda mais vulnerável ao crime organizado.

 

 

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Foz do Iguaçu

Fronteira é aspecto negativo

Os problemas apontados pela população de Foz do Iguaçu mostram uma cidade bastante diferente do resto do Paraná. Se a saúde é a maior dor de cabeça em Cascavel, Londrina e Maringá, a segurança, as drogas e o desemprego preocupam a população das Cataratas. Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB local, Luciane Ferreira, a geografia explica parte desses problemas. “Por estar na fronteira, Foz é uma cidade sui generis. As pessoas vem para cá com a expectativa de ganhar dinheiro e ir embora.”

Para Luciane, a falta de uma infraestrutura econômica adequada ao porte da cidade favorece o alto índice de desemprego e a falta de perspectiva que leva uma parcela considerável dos jovens da cidade para o crime. Logo, essas três questões estão interligadas. “Nós não temos um polo industrial, vivemos quase exclusivamente do turismo. Entretanto, poucos estão qualificados para trabalhar no setor. Com isso, há uma informalidade grande, muita gente vivendo do contrabando.” O fator fronteira acaba reforçando essa situação.

Uma forma de melhorar essa situação, para Luciane, seria investir em educação, trabalho e cultura. “Se esses jovens não forem chamados para uma cultura de paz, serão levados por outra coisa.”

 

 

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