Promotor diz que João Arcanjo Ribeiro teria pago R$ 38 mil para pistoleiros matarem empresário Sávio Brandão, dono do Jornal Folha do Estado
Recibo e carta serão usados como provas
Um recibo de pagamento no valor de R$ 38 mil, que supostamente seria o preço da contratação dos pistoleiros para matar o empresário Domingos Sávio Brandão Júnior, e um bilhete manuscrito para a então esposa, Silvia Shirata, quando já estava preso, no qual diz que ‘estou colhendo o que semeei’, estão entre as principais provas a serem apresentadas contra o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro no júri desta quinta-feira, 24.
O promotor João Augusto Veras Gadelha, que atuará no caso tendo como assistente de acusação o advogado carioca Clóvis Sahione, contratado pela família de Sávio Brandão, não tem dúvida de que João Arcanjo seja o mandante, autor intelectual do assassinato. Apesar, segundo ele, de não haver prova direta.
De acordo com os documentos reunidos ao longo das investigações, explica Gadelha, o réu pagou R$ 38 mil pela execução do empresário numa negociação que envolveu criminalmente cinco pessoas.
João Leite seria o representante de Arcanjo no agenciamento dos executores. Ele fez a intermediação com o soldado da Polícia Militar, Célio Alves de Sousa, que por sua fez o apresentou ao colega de farda, cabo Hércules de Araújo Agustinho, e outro amigo, Fernando Belo, os pistoleiros responsáveis pelo serviço.
Comparsa de Hércules em assassinatos anteriores, entre os quais dos empresários Rivelino Jacques Brunini e Fauze Rachid Jaudy, Célio indicou Fernando Leite para pilotar a moto. João Leite e Hércules seguiram o empresário e o mataram enquanto a vítima visitava as obras da nova sede do Jornal Folha do Estado, no bairro Consil.
Antes disso, como garantia de que a pistolagem seria paga, Célio exigiu um recibo de João Leite. Executado o serviço, veio a hora do pagamento. Conforme o promotor Gadelha, foi o irmão de Célio quem recebeu os R$ 38 mil, dos quais repassou R$ 30 mil para Hércules, por meio da mulher deste.
Já o bilhete manuscrito para a esposa, no qual reconheceria a culpa no crime, na visão do Ministério Público, foi apreendido durante a operação Arrego, realiza em outubro de 2007 para apurar denúncias de que Arcanjo continuava comandando o jogo do bicho de dentro da prisão.
Gadelha recorda que durante a apuração do assassinato de Sávio Brandão surgiram outros nome de possíveis mandantes, apontados pela defesa do ex-bicheiro, mas nenhuma delas vingou. Não havia, assegura o promotor, nada que as sustentassem.
“Tudo converge para a pessoa do Arcanjo”, destaca o representante do Ministério Público. Ele pondera que nos casos de autoria intelectual não há prova direta ‘por que tudo é combinado entre quatro paredes’.
Além dos documentos, detalha, ficou provada a ligação de Fernando Belo com João Arcanjo, assim como questões que poderiam motivar o ex-bicheiro a tentar tirar o empresário de seu caminho. Começando pelas reportagens publicadas em seu jornal e o envio de documentos à Agência Brasileira de Inteligência(ABIN) na tentativa de provocar uma investigação federal sobre a organização criminosa liderada pelo acusado, já que em Mato Grosso ninguém fazia nada contra, completa.
No processo pelo qual entra o júri na quinta-feira, João Arcanjo responde por homicídio duplamente qualificado: motivo torpe(por sentimento de vingança)e meio que impossibilitou a defesa da vítima, com a agravante de ser o mandante.
A reportagem tentou contato com o advogado Zaid Arbid, que atua na defesa de Arcanjo, mas a informação no escritório dele foi de que não estaria na Capital.
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