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Segunda - 02 de Janeiro de 2012 às 12:44
Por: RODRIGO VARGAS E RAMON MONTEAG

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Secom-MT

O juiz federal Julier Sebastião da Silval defendeu a aplicação de um "choque de administração" em Mato Grosso, para combater o que ele considera "uma epidemia de criminalidade" no Estado.

Para o magistrado, modalidades de crimes como o chamado "Novo Cangaço", em que bandos fortemente armados invadem cidades do interior e fazem reféns, até mesmo, entre as forças policiais, são reflexo da ausência do Estado.

"O criminoso passou a ter uma visão de que o Estado está fraco", afirmou o juiz, na quarta e última parte da uma entrevista exclusiva, concedida ao Midianews, no fim do mês passado.

Na opinião de Julier, Mato Grosso vive uma "epidemia" de criminalidade, que exige um "choque de administração". "Para enfrentar isso, você não vai apenas colocar mais homens na rua", observou.

Sobre a preparação de Cuiabá para a Copa do Mundo de 2014, na qual estão previstas ações de reforço na Segurança Pública, o juiz disse ver uma "timidez preocupante" por parte dos governos federal e estadual.

Confira os principais trechos da última parte da entrevista do juizJulier:

MIDIANEWS- Mato Grosso vive uma escalada nos índices de violência, com roubos a banco, caixas eletrônicos arrombados com dinamite. O que está acontecendo?

JULIER- Estamos vivendo aquele fenômeno urbano da criminalidade de ocasião, do furto, do sequestro, do roubo a banco. O criminoso passou a ter uma visão de que o Estado está fraco. Ele se acha forte o suficiente para chegar a uma cidade, sequestrar os policiais locais e depois assaltar o banco com o armamento dos policiais. Nesse sentido, eu acho que o Estado precisa se adequar melhor, se preparar melhor do ponto de vista de formação, de recursos, de presença maior principalmente nas áreas de aglomerado urbano. Mas também não é só polícia que o poder público tem que levar. Tem que ter escola, boa iluminação, saneamento. Há estudos científicos que dizem: em áreas onde há condições melhores de moradia, você tem um índice menor de práticas de crimes.

MIDIANEWS - O crime, especialmente nestas modalidades como a do chamado "Novo Cangaço", é um indicador da falência do Estado nesta área?

JULIER - A criminalidade se adapta à estrutura que o criminoso vê. Se o criminoso chega a uma cidade e verifica que o destacamento policial é incompatível com suas intenções, é evidente que essa estrutura será violada por ele. Essa situação demanda uma atitude diferente da necessária para combater crimes financeiros ou contra a administração pública, em que vai se empregar mais inteligência, no sentido de se desvendar operações contábeis e financeiras complexas. No caso do chamado "novo cangaço", em que há uma atuação mais violenta, é preciso maior presença do Estado. Dizem que há ondas de crimes, ou seja, se há um aperto na repressão dos crimes de furto, aumentam os casos de sequestro.  No caso da questão urbana, vejo a necessidade de uma blitz sobre as grandes cidades do Estado, para quebrar esta onda. Se há uma ocorrência maior de um tipo de crime, obviamente que ele tem de ter um atendimento mais prioritário por parte do Estado.

MIDIANEWS - De que maneira ?

JULIER - Tem que haver repressão, não há conversa sobre isso, uma vez que envolve armas e violência brutal, não apenas em assalto a bancos, mas, especialmente em Cuiabá, em assaltos a residências. Não custa lembrar o caso do deputado Eliene Lima, baleado recentemente. Mas acho que há também a necessidade de aplicar um choque de administração, envolver autoridades municipais, estaduais e federais no sentido de trazer tranquilidade aos moradores, principalmente em Cuiabá e Várzea Grande.

MIDIANEWS - Como avalia os atuais investimentos em inteligência? Acha que há estrutura suficiente para, por exemplo, monitorar a atuação das quadrilhas?

JULIER - Se há um período de epidemia de dengue, que é um problema crônico, as autoridades acabam tendo que dar alguma prioridade, mesmo que numa escala que não vá debelar o problema. Então vemos anúncios na TV, mobilização de agentes públicos e campanhas de esclarecimento à população. Mas há também epidemias de natureza social, como a de criminalidade que o Estado vem passando. Então, para enfrentar isso, você não vai apenas colocar mais homens na rua, mas também investir em inteligência, trabalhar com estatística para verificar as regiões em que há maior incidência de criminalidade, quais as regiões de procedência da maioria dos criminosos, que tipo de redes estão sendo formadas.

MIDIANEWS - O atual Governo tem conseguido dar essa resposta?

JULIER - Não acho que seja uma questão do atual governo. Há nove anos tínhamos em MT uma estrutura criminosa de grande porte, que dominava todo o Estado. Então, priorizou-se e deu-se atenção a isso, até desarticula-la. Nos anos seguintes, avançaram outros tipos de problema. Então o Estado tem de demandar esforços para não só ter mais policiais nas ruas, mas também oferecer outras medidas que facilitem a identificação, punição dos criminosos. Agora, o primeiro passo é romper o aspecto do pânico. O Estado tem de passar tranquilidade à população, enquanto investe em inteligência, planejamento, detalhamento de atividades, levantamento de dados e repressão.

MIDIANEWS - A Segurança Pública é um dentre vários pontos que constam dos investimentos previstos para a Copa de 2014 em Cuiabá. Como avalia a preparação da cidade até o momento?

JULIER- Está tudo muito tímido, não apenas em relação às questões de segurança, mas também em relação às reformas de vias urbanas, à implantação de sistemas adequados à recepção de grande público ou a meios de transporte que não sejam só para o evento, mas que possam perdurar por várias gerações. Parece-me que ainda há um pouco de timidez neste aspecto. Isso não só envolvendo o governo do Estado. O governo federal também vem exibindo a mesma timidez em relação ao aeroporto. Isso causa a preocupação de o evento ocorrer com a cidade inteira cheia de tapumes ou de obras incompletas causando transtorno para a população e os visitantes. Acho que essa possibilidade pode ser evitada caso seja rompido esse estágio de timidez atual.






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