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Cidades/Geral
Quinta - 29 de Dezembro de 2011 às 10:55

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Em um setor predominante masculino, a brasileira Andrea Bertone conquistou espaço no alto escalão de uma das maiores empresas de energia elétrica dos Estados Unidos, a Duke Energy. Ela está à frente da unidade internacional desde 2009 e responde pelas operações da Duke no Brasil, Argentina, Equador, El Salvador, Guatemala e Peru.

A divisão que Andrea comanda responde por cerca de 10% do faturamento total do grupo e tem crescido bem acima da média da empresa. De janeiro a setembro, a receita da Duke Energy International cresceu 21% frente a igual período de 2010, para US$ 1,1 bilhão. Já o faturamento consolidado da companhia avançou 3%, para US$ 11,2 bilhões.

"A Duke é uma empresa que vem mudando sua forma de atuação e tem valorizado mais a participação feminina em sua força de trabalho", diz Andrea. Ela conta que há dez anos, quando entrou na companhia, a maior parte da diretoria da Duke era composta por homens. Hoje, mais mulheres ocupam cargos importantes na companhia, como é o caso de Lynn Good, diretora financeira. "Percebo que as mulheres que se destacam são reconhecidas".

Andrea afirma que essa ainda não é a regra em algumas empresas do setor de energia. "Há companhias que sequer possuem mulheres em nível gerencial. Custo a crer que não há nenhuma mulher competente nessas empresas que não mereça ser reconhecida pelo seu talento, desempenho e dedicação", afirma. Ela acredita que a mudança dessa mentalidade precisa começar de cima, dentre os altos executivos da empresa. "Às vezes basta um CEO [presidente] progressivo para mudar o rumo das coisasAndrea diz que nunca teve dúvidas de que gostaria de se dedicar a uma carreira. Mas isso não quer dizer que as escolhas que teve de fazer para conseguir ser bem-sucedida profissionalmente tenham sido fáceis. "Claro que essas escolhas trazem certas inquietações, principalmente porque as mulheres foram, por séculos, treinadas para serem donas de casa, e é muito difícil romper com isso abruptamente", conta.

Além do apoio da família, ela diz que o incentivo do marido tem sido fundamental para seu desenvolvimento. "Creio que é possível gerenciar essas inquietações, principalmente se você encontra um parceiro que a apoia e dá o conforto necessário para prosseguir em sua carreira - que é o meu caso". Andrea não tem filhos e conta que, ao longo dos anos, tanto ela quanto o marido têm feito concessões mútuas, "para dar aos dois a oportunidade de progredir de maneira equânime".

Apesar dos desafios, Andrea diz que nunca pensou em desistir ou mudar radicalmente os rumos da sua carreira. "Tem dias que fico exausta e penso como seria ótimo ganhar na loteria e passar o resto da vida tomando sol no Mediterrâneo. Mas acho que é normal, acontece com todo mundo, é parte do pacote".

Andrea se formou em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e fez mestrado em direito no Chicago-Kent College of Law. Antes de entrar na Duke, Andrea fez sua carreira em escritórios de advocacia no Brasil e nos Estados Unidos e na área jurídica de empresas como a TAM e a Enron.

Para quem está dando agora os primeiros passos na carreira, ela sugere perseverança e flexibilidade. "A trajetória de uma carreira, assim como quase todas as trajetórias na vida, não é linear. Às vezes ter flexibilidade e tomar uma rota alternativa pode abrir portas para oportunidades nunca imaginadas".

Confira abaixo a entrevista de Andrea Bertone ao iG, como parte da "Retrospectiva 2011 - O ano do poder das mulheres":

iG: Sua empresa possui políticas de "empoderamento" de mulheres? A ocupação de mulheres em níveis mais altos na hierarquia é importante para o equilíbrio da empresa? Por quê?
AB: A Duke é uma empresa que vem mudando sua forma de atuação e tem valorizado mais a participação feminina em sua força de trabalho e, hoje, a empresa tem mulheres em posições de destaque (para exemplificar, a CFO da companhia é uma mulher). Não temos uma política específica e direcionada para isso, mas percebo que as mulheres que se destacam são reconhecidas, e não existe qualquer constrangimento corporativo para evitar que ocupem níveis hierárquicos mais altos. Acho importante e saudável a diversidade em todos os escalões da companhia, pois possibilita que a empresa disponha de um leque maior de pontos de vista e recomendações, o que dá mais robustez à tomada de decisões.

iG: Conciliar a carreira com outros "papéis" femininos foi - ou ainda é - um desafio para você? Qual é a maior angústia de uma mulher que ocupa um cargo executivo máximo de uma empresa?
AB: Eu nunca tive dúvidas de que gostaria de ter uma carreira profissional, e me preparei para isso. Fiz escolhas que me permitiram trilhar um caminho confortável na minha vida profissional. Claro que essas escolhas trazem certas inquietações, principalmente porque as mulheres foram, por séculos, treinadas para serem donas de casa, e é muito difícil romper com isso abruptamente. Mas creio que é possível gerenciar essas inquietações, principalmente se você encontra um parceiro que a apoia e dá o conforto necessário para prosseguir em sua carreira -que é o meu caso. Em termos gerais, acho que as angústias do mundo corporativo são as mesmas de um homem em minha posição: dispor de todos os elementos para tomar as decisões corretas, gerar resultados positivos para a companhia e para os públicos com os quais nos relacionamos, e cuidar para que nossas operações se desenvolvam sem prejudicar o meio ambiente.

iG: Sua família apoiou a sua carreira?
AB: Sempre. Meus pais sempre me encorajaram a buscar aquilo que fosse me realizar como pessoa e sempre repetiram que eu poderia fazer aquilo que quisesse, desde que o fizesse bem e com dedicação. Meu marido tem uma carreira parecida com a minha e ao longo dos anos fizemos concessões mútuas para dar aos dois a oportunidade de progredir de maneira equânime.

iG: Ainda existe machismo nas empresas?
AB: Acho difícil generalizar. Hoje em dia é consenso entre as empresas de grande porte que é muito mais produtivo ter uma força de trabalho diversa e equilibrada. Várias empresas já estão falando em aumentar o número de mulheres no conselho de administração e está ficando cada vez mais comum ver mulheres ocupando cargos de diretoria e presidência. No entanto, ainda existem certos setores que são eminentemente masculinos e quando toda a força de trabalho é masculina, é mais difícil quebrar o circulo vicioso. As pessoas acabam contratando e promovendo homens porque se sentem mais confortáveis. Vi essa tendência no setor de energia nos Estados Unidos. Há dez anos, na Duke, a maior parte - se não toda - a diretoria era composta por homens. Hoje em dia essa tendência está mudando. Às vezes basta um CEO progressivo para mudar o rumo das coisas.

iG: Você acha que as mulheres tendem a ser mais exigentes consigo mesmas, com relação a desempenhar papéis "femininos"?
AB: As mulheres melhoraram muito sua participação no mercado de trabalho nos últimos 10, 20 anos, não só em termos do número de empregos mas também em termos de qualidade dos cargos que ocupam. O que falta, agora, é eliminar o estigma milenar de que no fundo quem é responsável por manter a casa em ordem, comprar comida, cuidar dos filhos é a mulher. Acho que essa é uma pressão velada que é exercida de fora para dentro e de dentro para fora. Devo confessar que eu mesma me vitimo todos os dias.

iG: Você acredita que existem diferenças na forma como mulheres e homens executam a gestão? Quais?
AB: Acho que as mulheres de modo geral são mais inclusivas e conciliadoras. A mulher, em geral, não vê a carreira como definição de sua personalidade ou de seu lugar no mundo. Em geral a carreira é uma opção ou uma necessidade que vem além de outros valores na vida como família, amigos, ginástica, etc.

iG: Em algum momento você pensou em desistir ou não investir tanto na carreira?
AB: Tem dias que fico exausta e penso: como seria ótimo ganhar na loteria e passar o resto da vida tomando sol no Mediterrâneo. Mas acho que é normal, acontece com todo mundo, é parte do pacote. Até agora nunca pensei seriamente em tomar uma decisão radical.

iG: Qual foi o momento mais marcante em sua trajetória como executiva?
AB: Fiquei muito contente quando fui convidada para assumir a presidência da Duke Energy International. Foi um reconhecimento da energia que dispendi na minha carreira e também uma excelente oportunidade de continuar crescendo como profissional.

iG: Você já buscou aconselhamento de mulheres executivas, com mais experiência?
AB: Quando eu ainda estava na faculdade estagiei com uma juíza federal super influente e poderosa. Foi uma experiência importante na época em que eu estava começando a pensar na minha carreira. Vi que era possível para uma mulher administrar família e carreira e ser bem sucedida em ambas as frentes.

iG: Você acredita que mudou a forma como as mulheres são vistas dentro das empresas nos últimos dez anos?
AB: Acredito que tem havido progressos, sim. Mas ainda percebo setores muito masculinizados. Dentro do próprio setor de energia, vejo diferenças entre as companhias. Há companhias que sequer possuem mulheres em nível gerencial. Custo a crer que não há nenhuma mulher competente nessas empresas que não mereça ser reconhecida pelo seu talento, desempenho e dedicação. É uma mudança cultural forte, e o diapasão para afinar o tom está nas mãos do alto comando.

iG: Qual é o seu maior modelo, uma pessoa que tenha servido de inspiração para sua carreira?
AB: Meus pais me deram as ferramentas e a inspiração para ser a profissional que sou hoje em dia. Meu marido me deu a motivação para seguir investindo.

iG: Você possui um livro preferido, de cabeceira?
AB: Não tenho um específico, mas estou sempre lendo alguma coisa. Ultimamente ando lendo vários livros de autores italianos em italiano.

iG: Qual o seu conselho para jovens executivas, que estão começando a carreira?
AB: Ter perseverança e flexibilidade. A trajetória de uma carreira, assim como quase todas as trajetórias na vida, não é linear. Às vezes ter flexibilidade e tomar uma rota alternativa pode abrir portas para oportunidades nunca imaginadas.





Fonte: IG

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