Quadrilhas tomam conta de cidades e provocam terror
Uma nova categoria de assalto a bancos surgiu em Mato Grosso em 2011 e causou terror em várias cidades do interior do Estado. É o chamado "Novo Cangaço".
Pelo menos 13 agências bancárias sofreram esse tipo de ataque, que ganhou essa marca devido ao modo como os criminosos agem. "Tomando conta da cidade", explicou o secretário-executivo do Gabinete de Gestão Integrada (GGI), major PM Wankley Rodrigues.
A primeira agência a sofrer esse tipo de assalto foi a do Banco do Brasil de Itiquira (357 km ao Sul de Cuiabá), no dia 3 de maio. Cinco pessoas foram feitas reféns e os criminosos usaram armamentos pesados, como rifles e espingardas calibre 12.
De acordo com o major Rodrigues, as características do Novo Cangaço são as mesmas em todos os municípios: muitos reféns são colocados de mãos para o alto na frente das agências, formando um escudo humano; o bando de criminosos também é grande, de 10 a 15 membros; e o armamento é sempre pesado e restrito às Forças Armadas.
Segundo as investigações da Polícia Civil e do próprio Gabinete de Gestão Integrada, a base da quadrilha não fica em Mato Grosso. A maioria é do Pará ou de Minas Gerais. Em Mato Grosso, há criminosos que são "recrutados" pelos chefes da quadrilha e veem a participação nos assaltos como um "cenário lucrativo".
Sete pessoas foram presas por suposto envolvimento nos assaltos. No entanto, segundo o chefe do GGI, vários problemas atrapalham as investigações e a possibilidade de chegar à raiz do problema.
De acordo com o major Rodrigues, um deles é a legislação brasileira. Os presos são soltos logo em seguida, ou porque são réus primários, ou por falta de provas. O oficial conta que, há poucos dias, foi a um restaurante e vários assaltantes de caixas eletrônicos estavam sentados numa mesa ao lado. "É de se ficar indignado", afirmou.
Também devido à legislação, os criminosos que forem pegos têm direito a fiança, pois respondem apenas por crime de roubo qualificado. "Muitas vezes, eles usam o dinheiro do próprio assalto pra pagar a fiança", ironizou Rodrigues.
Foco das atenções
Questionado sobre o que chamou a atenção de criminosos para os assaltos a bancos em Mato Grosso, a primeira razão apontada pelo major Wancley Rodrigues é o desenvolvimento agrícola. Mato Grosso, atualmente, cresce cerca de 30% ao ano, baseado nas culturas de soja e algodão, principalmente.
Para o secretário, as estatísticas são estudadas pelos criminosos. "Eles não são ‘bandidinhos" agindo de qualquer jeito. É, realmente, uma organização criminosa. Eles estudam todos os detalhes e perceberam vários aspectos em Mato Grosso que fazem os assaltos se tornarem lucrativos", explicou Rodrigues.
Todo o dinheiro da produção vai para os bancos e, diante do pouco policiamento e da falta de qualificação dos policiais que existem, a fuga ilesa dessas ações é quase certa. Em Campo Novo do Parecis (396 km a Noroeste da Capital), por exemplo, um dos maiores celeiros agrícolas do Estado, o Novo Cangaço já agiu duas vezes: em 30 de agosto e 27 de outubro.
Para o presidente do Sindicato dos Bancários em Mato Grosso, Arilson Silva, há outro motivo que chamou a atenção dessas quadrilhas para o Estado: o descaso das próprias agencias bancárias em investir em tecnologia e segurança.
Existe uma lei municipal que garante a instalação de biombos entre os caixas eletrônicos, por exemplo, que pelo menos 50% dos bancos não estão cumprindo. "Os banqueiros também não querem investir em câmeras de segurança, por exemplo. Para eles, investir em segurança não dá lucro, e o cliente é que paga por isso", afirmou Arilson Silva.
Ações
O Gabinete de Gestão Integrada tem um plano de segurança sob o comando do major Rodrigues. O principal objetivo, segundo ele, é investir na prevenção e na qualificação dos policiais da Capital e do Interior.
Para isso, uma turma de aproximadamente 40 novos policiais, aprovados em concurso do Estado em 2010, acaba de se formar com especialização em combate a assaltos a bancos. O grupo, denominado Força Tática, será distribuído em cidades do interior e vai agir, preventivamente, nos primeiros 15 dias do mês, quando o movimento nos bancos é maior.
Após os primeiros 15 dias, os policiais estarão a postos para agir em situações de emergência. Além da força tática, o GGI conta também com o monitoramento aéreo, com o helic[optero Águia 2, da Policia Militar, também nos primeiros 15 dias do mês, especialmente na região de fronteira.
Ao todo, o Plano de Ações de Prevenção e Repressão Imediata a Roubos a Banco reúne 15 ações de repressão e 20 de prevenção. Entre elas, está a criação de um núcleo integrado entre instituições bancárias e policiais para troca de informações; capacitação para policiais, vigilantes e bancários, padronizando condutas nos crimes de roubo a banco; adequação dos locais dos caixas eletrônicos garantindo a visibilidade e assim a segurança dos usuários do serviço; e ampliação da Força Tática no Estado, sendo que essa última medida já é aplicada pela Segurança Pública.
A comunicação prévia à Polícia nas instalações de caixas eletrônicos; instruções de medidas preventivas de segurança orientando os usuários; entre outros, também são algumas das ações do Plano.
"Vamos fazer um projetopiloto em Água Boa (730 km a Nordeste de Cuiabá), treinando os policiais locais e, posteriormente, a intenção é levar a capacitação aos policiais de todas as dez regionais da Polícia Militar, bem como para as regionais da Polícia Civil", disse o major PM Wancley Rodrigues.
O Gabinete de Gestão Integrada é formado por todas as corporações policiais (Federal, Militar, Civil, Rodoviária Federal), além do Corpo de Bombeiros, Politec e das secretarias de Segurança Pública e de Justiça e Direitos Humanos. O plano de ação já está em prática e, ainda esse mês, uma nova turma de 30 policiais vai se formar e complementar a força tática.
Dentre as 35 ações anunciadas pelo GGI, seis foram disponibilizadas ao MidiaNews com exclusividade, para que as investigações e atuação das forças táticas não sejam prejudicadas.
Confira:
Ação 01 - Ampliação das ações operacionais das forças táticas, elencando o roubo a banco como prioridade, em apoio ou reforço ao orgânico das Unidades de Policiamento do interior;
Ação 02 - Definição de áreas de responsabilidade das Forças Táticas, a fim de acabar com os "pontos claros" de difícil acesso, fixando as Bases das Companhias na sua respectiva área geográficas; reduzindo o tempo resposta de atendimento do Policiamento especializado;
Ação 03 - Ampliação das bases do Ciopaer, interior do Estado, trazendo maior cobertura e eficiência para enfrentamento. Desenvolvendo operações de prevenção e repressão de roubos a bancos e patrulhamentos regulares. Bem como o uso de tecnologia adequada para efetividade das ações.
Ação 04 - Aperfeiçoamento do sistema de comunicação, com tecnologia interoperavel, bem como, ampliação de nº de repetidoras (Fixa, Móvel e Portátil) de rádio com cobertura necessária para comunicação (rural e urbana) no atendimento a roubo a banco, bem como criação de canal de comunicação integrado interinstitucional entre PM, PJC, PF, PRF e Politec, a fim das bases fixas e viaturas se comunicarem mutuamente.
Ação 08 - Intensificação da Fiscalização e controle efetivo à roubo e furto de exposivos no Estado.
Ação 12 - Criação de postos da PRE em pontos estratégicos de fiscalização das rodovias estaduais, aumentando a ostensividade nas MTS, potencializando o aparato policial dos municípios. Realizando ações integradas com a PRF.
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