A Polícia Federal no Mato Grosso do Sul informou nesta quarta-feira que vai indiciar dez pessoas envolvidas em um ataque ao acampamento indígena Guayviry, na Fazenda Nova Aurora, em Ponta Porã, a 258 km de Campo Grande. Segundo os Guarani Kaiowá, no amanhecer do dia 18 de novembro deste ano, cerca de 40 homens encapuzados e armados teriam chegado no acampamento à beira da rodovia MS-386, efetuado disparos contra o grupo e sequestrado o cacique Nizio Gomes, desaparecido até hoje.
De acordo com a PF, o inquérito deve ser concluído amanhã e encaminhado à Justiça Federal. Quatro fazendeiros, um advogado, dois administradores de empresa de segurança e mais três contratados serão denunciados pelos crimes de lesão corporal, formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo, levando em conta o grau de participação de cada um no episódio.
A investigação concluiu que fazendeiros da região e um advogado contrataram pessoas que atuam na área de segurança, vinculadas a uma empresa estabelecida em Dourados (MS), para que retirassem, "mediante grave ameaça", os indígenas do local invadido. Durante o inquérito, três suspeitos chegaram a ser detidos, mas foram libertados.
Outra conclusão do inquérito é que os indígenas tinham conhecimento antecipado da investida. Segundo a PF, eles teriam aguardado os agressores pintados e munidos de espingardas, machados e facas. Além disso, as marcas de sangue encontradas pela polícia no local do conflito evidenciaram que os ferimentos que o cacique teve no local não foram suficientes para matá-lo. Outras amostras pertenceriam a um dos agressores que, segundo os indígenas, foi ferido pelo cacique com um machado impregnado de veneno de sapo.
O filho do cacique, principal testemunha presente no conflito, também será indiciado por denunciação caluniosa. Na primeira versão de seu depoimento, ele afirmou que os agressores chegaram em caminhonetes, mataram seu pai e carregaram o corpo no veículo. Posteriormente, ele admitiu que os homens estavam a pé. Além disso, em sua oitiva à PF, ele acusou de participar do ataque pessoas que sabia serem inocentes.
A área ocupada pelos Guarani Kaiowá faz parte da região denominada Terra Indígena Amambaipeguá. O processo de demarcação da área começou em junho de 2008 e, desde então, foi interrompido diversas vezes por decisões judiciais, em ações movidas por produtores rurais da região e forças políticas municipais e estaduais.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), nos últimos oito anos, cerca de 200 índios foram mortos em conflitos de terra. A assessoria do conselho informou que os indígenas ocuparam o trecho da terra que está em processo de demarcação desde o início de novembro.
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