Apesar de sucessivos escândalos, ex-governador prefere submergir e não dar satisfação à sociedade
Ao se calar sobre escândalos, Blairo Maggi fala muito
Aos poucos, a sociedade vai tomando ciência, boquiaberta, de vários escândalos de corrupção envolvendo o governo Blairo Maggi (PR).
Se não bastasse o "Escândalo dos Maquinários", em que R$ 44 milhões foram drenados dos cofres públicos através de compras superfaturadas de máquinas e caminhões, em 2009, outros episódios lamentáveis dos subterrâneos do Palácio Paiaguás, na "Era Maggi", vão se tornando públicos.
Apenas nesta semana, para decepção de muitos que acreditavam realmente em "mudanças de paradigmas", esquemas da "Era Maggi" voltaram ao noticiário.
Primeiro, a Justiça determinou a indisponibilidade de bens em até R$ 26 milhões do ex-secretário Vilceu Marchetti, um dos homens de confiança do atual senador.
Ele é acusado de enriquecimento ilícito ao longo dos cinco anos, de 2005 e 2010, em que comandou a poderosa Secretaria de Infra-Estrutura.
A ação do Ministério Público Estadual, elaborada e proposta pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, é de arrepiar os cabelos até dos mais inocentes dos cidadãos - sobretudo pelo requinte quase milagroso com que o patrimônio de Marchetti se multiplicou (com vacas parindo feito ratazanas e fazendas sendo compradas a granel, como bem salientou o MPE).
Não bastasse o desgaste do caso Marchetti, no início da semana, e a Delegacia Fazendária deflagra outra operação sobre esquemas feitos na gestão Maggi, desta vez envolvendo cartas de crédito.
A "Operação Cartas Marcadas" mostrou que as fraudes engendradas no âmbito de Secretarias de Estado podem significar um prejuízo de até R$ 235 milhões.
Secretários e ex-secretários, como os de Fazenda e Administração, assim como da Procuradoria Geral do Estado, serão convocados a prestar esclarecimentos.
Apesar de toda a repercussão negativa, a sociedade é obrigada a engolir o silêncio do ex-governador e atual senador da República. Procurado pela reportagem do MidiaNews, Maggi, por meio de sua assessoria, se recusou a falar.
A reportagem mandou algumas perguntas por email. Sem respostas. Um dos assessores disse que "o senador não tem o que falar sobre ação do Ministério Público". Fatídico.
O mais correto, ou decente, seria o senador vir a público e dar uma satisfação à sociedade - a mesma que o elegeu duas vezes para comandar Mato Grosso e para representá-la, agora, no Senado Federal.
Mesmo que não explicasse nada (até porque não há explicações, no momento), se viesse a público, ao menos para lamentar os escândalos de corrupção que começam a eclodir, dizer que lamenta tais fatos, que espera que eles sejam investigados a fundo - e os responsáveis punidos -, Maggi daria uma demonstração de respeito aos cidadãos.
Mas, ao se calar, paradoxalmente, ele acaba por falar muito.
E revela um lado, talvez, novo de sua personalidade política. Aquela provavelmente aprendida nas altas rodas do poder, onde muitos repetem o mantra de que "não viram nada", "não sabiam de nada", "não têm responsabilidade sobre nada".
Não se questiona, aqui, a índole de Maggi, que parece ser boa, até que se prove o contrário. Não estou dizendo que Maggi meteu a mão na lama ou participou, necessariamente, dos esquemas de corrupção.
Estou falando, sim, de sua postura política (ou ausência dela) e respeito. Estou falando da falta de tato e sensibilidade ao dar as costas diante de tantas suspeitas de malversação de dinheiro público.
Ora, não era ele o chefe de Estado? Não foi ele quem nomeou - e deu poderes irrestritos -, por exemplo, a Marchetti e Geraldo De Vitto (ambos réus no "Escandalo dos Maquinários")?
Não foi ele quem nomeou os secretários de Fazenda e Administração, onde os rombos com Cartas de Crédito foram concebidos, segundo a Delegacia Fazendária?
Ou quer dizer que agora, que está em Brasília, no meio do Planalto Central, perto da fina flor da politica nacional, e longe de Mato Grosso, ele não precisa mais dar satisfação a quem o elegeu?
Lamentável.
É esse tipo de atitude que ajuda a desmoralizar ainda mais a política e afasta a sociedade do debate e da participação. Pra que tentar nos envolver, discutir, lutar pela transparência se os próprios políticos não desejam isso?
Infelizmente, ao que tudo indica, Blairo Maggi é apenas mais um. Em busca sabe-se lá do que (poder, status, fama?).
Que a sociedade saiba analisar tais fatos com sabedoria e utilizá-los para seu amadurecimento político.
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