Levantamento põe em xeque eficácia de comunidades terapêuticas em MT
As comunidades terapêuticas do Estado não estão aptas a oferecer um atendimento de fato terapêutico para dependentes químicos, revela pesquisa por amostragem realizada pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP) divulgada nesta terça-feira (13).
De acordo com o levantamento, o viés religioso da maioria das comunidades, o isolamento imposto aos internos, a ausência de metodologia e de equipes que contem com profissionais da saúde nada têm a ver com a proposta terapêutica sugerida na denominação dessas entidades que agora detêm status de parceiras do programa de enfrentamento ao crack lançado pelo governo federal na semana passada.
Existem no Estado cerca de 50 comunidades terapêuticas que recebem dependentes químicos com a promessa de auxílio em sua recuperação. A pesquisa por amostragem realizada em Mato Grosso – e repetida em outros Estados – abrangeu cinco entidades e em nenhuma dessas foram encontrados os requisitos básicos que condizem com uma proposta terapêutica.
“As unidades precisam melhorar em função da política do governo federal de parceria. Elas não responderam adequadamente ao projeto de tratamento terapêutico. Se essas comunidades terapêuticas vão fazer parte do Sistema Único de Saúde, temos que ter uma atenção especial com elas”, afirmou a presidente do CRP, Maria Aparecida Fernandes, referindo-se ao Plano de Enfrentamento ao Crack (que destinará recursos às comunidades) e apontando a necessidade de fiscalização dessas unidades.
A presidenta do CRP apontou que as comunidades analisadas pelo levantamento têm seus trabalhos gerenciados por pastores e obreiros pautados pela religião, embora o discurso seja de que congregam pessoas de todos os credos. No cotidiano dos internos, segundo a presidenta, há sanções para os que se negam a participar das atividades religiosas, o que configura um retrocesso do ponto de vista terapêutico.
“Não estamos discutindo a boa vontade dessas comunidades terapêuticas, mas nós acreditamos é em projetos pautados pela ciência”, afirmou Maria Aparecida.
Como a religião acaba tornando-se a metodologia principal dessas comunidades, poucas dispõem de equipes de saúde. Apenas uma das cinco comunidades abarcadas pela pesquisa do CRP conta com a visita de médicos, psicólogos e enfermeiros. Do total, também apenas uma comunidade conta com nutricionista, que sequer aplica dietas específicas às necessidades dos internos.
Ela também criticou o isolamento a que os internos são submetidos, o que vai contra a política de inclusão social encampada pelos profissionais da saúde mental nos últimos anos. Em algumas comunidades, por exemplo, o dependente recém-internado precisa passar três meses recluso sem direito a visitas e tem os documentos retidos. Ligações telefônicas são controladas. “Em que recuperação estamos pensando?”, provoca Maria Aparecida.
Fiscalização
A pesquisa por amostragem do CRP se adiantou a um cadastramento das comunidades terapêuticas que ainda será concluído pelo Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas (Conen). Porém, com base na pesquisa, o CRP vai propor ao Ministério Público e ao próprio Conen parcerias para fiscalização das unidades. O Conselho também fará a fiscalização dos psicólogos que atuam nas entidades.
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