Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Terça - 06 de Dezembro de 2011 às 02:47

    Imprimir


De "terrorista" e "inimigo público número 1", o ex-deputado baiano do Partido Comunista do Brasil (PCB) Carlos Marighella, morto em uma emboscada dos órgãos de repressão sob o comando do delegado Sérgio Paranho Fleury em 1969, foi exaltado como herói nacional, que enfrentou duas ditaduras, ao ter a anistia post mortem aprovada na noite desta segunda-feira em Salvador. O evento ocorreu em sessão da 53ª Caravana da Anistia, projeto do Ministério da Justiça cujo objetivo é reparar os crimes cometidos pelo último regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

A Comissão da Anistia se reuniu num lotado Teatro Vila Velha, no centro da capital baiana, e apresentou as mais profundas desculpas do Estado brasileiro a Carlos Augusto Marighella, filho, e à viúva Clara Charf pela morte do ex-deputado e a difamação de seu nome ao longo da história recente do País.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que não pôde comparecer ao evento, gravou um vídeo, exibido durante o julgamento simbólico da anistia, em que também se refere a Marighella como herói da resistência à ditadura e pede desculpas em nome do governo pela perseguição política e assassinato perpetrados pelo Estado. A cerimônia contou com as participações do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT) e dos senadores João Capiberipe (PSB-AP) e Lídice da Mata (PSB-BA), além de vários deputados e militantes de esquerda.

Na ausência do presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão Júnior, que está doente, a sessão foi presidida pelo vice, Edmar Oliveira. A conselheira Ana Guedes, relatora do pedido de anistia, leu uma pequena biografia sobre a vida de Marighella, relembrando sua participação como membro ativo do PCdoB, suas prisões sob a ditadura de Getúlio Vargas e a ocorrida no último regime militar. Comparou a luta do ex-deputado contra a opressão e a liberdade com a de Zumbi dos Palmares, dizendo que, assim como Zumbi, Marighella tem "seu nome cravado como herói do povo brasileiro". Para ela, é uma obrigação não só a anistia, como a recuperação da dignidade do homenageado. Os outros dez membros da comissão aprovaram por unanimidade a proposta.

Clara Charf foi chamada para falar como testemunha de defesa do marido e, em vários momentos, não conteve as lágrimas. "Ele dividia até as tarefas domésticas e adorava brincar com as crianças das famílias que nos hospedavam quando estávamos na clandestinidade, era uma pessoa profundamente humana." O senador João Capiberibe foi a outra testemunha de defesa, reforçando a tese que a "satanização" do nome de Marighella pelos governos militares representa a satanização de todos os brasileiros que lutaram contra a opressão. Ele aproveitou para pedir o apoio da Comissão da Anistia para tentar mudar o nome de uma das alas do Senado, batizada como "Felinto Muller", o comandante da repressão do governo Vargas.

No final da cerimônia, Carlinhos Marighella pediu ajuda dos presentes, em especial do governador, para a criação do "Memorial Carlos Marighella" em Salvador. "É preciso desmistificar essa mentira (de que Marighella era um terrorista)", cobrou, sendo muito aplaudido. Em reposta, Wagner se comprometeu a ajudar na criação do memorial, informando que o governo está procurando um imóvel no centro da capital baiana para instalá-lo.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/66461/visualizar/