Trabalho e fé são o segredo, diz mineira de 100 anos
Todo dia ela faz tudo sempre igual. Acorda às 5 horas, prepara o café, o pão e o mingau de Maizena. Arruma a casa, água as plantas e folheia o jornal. Depois, faz o almoço. Muita salada, carne branca e arroz. São 11 horas. Após a refeição, d. Ina Lopes da Silva se senta para ler o jornal. Depois, tem de lavar roupa e passar, tomar banho... Às 19 horas, a professora aposentada que completou 100 anos em julho já está na cama. E sua sobrinha, a pedagoga Clítia Lopes Guimarães, de 70 anos, não adianta bater na porta depois desse horário, que a tia não abre de jeito nenhum. Com muito custo, no aniversário de 100 anos, os parentes conseguiram tirá-la de casa para um café da manhã especial.
Hoje, a vida de d. Ina é mais tranquila, mas nem por isso pouco movimentada. Nascida perto de uma aldeia indígena de Itambacuri, no nordeste de Minas - o que influenciou a escolha de seu nome -, ela foi para Belo Horizonte aos 20 anos. Lecionou por 25 anos no Instituto João Pinheiro. A sorridente senhora se diz muito orgulhosa dos tempos em que dava aula. "Até hoje meus ex-alunos são os melhores amigos que eu tenho, sempre vêm me visitar", conta.
Por opção, abriu mão da profissão para cuidar da enorme família. Irmãos, tios, sobrinhos. A morte precoce de uma irmã transformou três sobrinhas em filhas - Clítia é uma delas. Dedicada à vida familiar, não se casou. Ela se lembra que teve um candidato a marido, quando morava em Itambacuri. Mas, ao se mudar para a capital mineira, acabou esquecendo o namorado. E há quem brinque que está nessa escolha uma dos motivos de sua longevidade.
Para ela, foi o trabalho intenso e a fé em Deus - todos os domingos, vai à missa das 7h30 na paróquia do bairro Padre Eustáquio, onde vive há 80 anos - que a fizeram viver tanto e tão bem. Não toma remédios nem usa óculos - apenas não escuta muito bem. Um pouco encurvada, anda sem dificuldade. E, como qualquer ser humano, faz uma "estrepuliazinha" de vez em quando: diz que adora torresmo e "uns cálices de vinho aos domingos" - mas tem de ser suave.
D. Ina viu 7 de seus 11 irmãos morrerem. A maior dor foi a perda do pai. Mas a alegria de viver, estampada no brilho de seus olhos azuis, nunca se foi. E tem mais: pertence a uma família de atleticanos doentes. Informada pela sobrinha de que neste domingo tem Cruzeiro e Atlético na despedida do Brasileirão, ela garantiu: "É claro que vou assistir".
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