Imprensa egípcia divulga resultados parciais das eleições
Os resultados da apuração de votos em parte das zonas eleitorais egípcias confirmam as previsões de que os islamitas venceriam as eleições legislativas realizadas na segunda e terça-feira no Egito, de acordo com informações publicadas na imprensa egípcia neste sábado.
Os dois maiores partidos políticos islamitas conquistaram juntos 60% dos votos no primeiro turno das eleições legislativas no Egito, segundo informou Yousri Abdel Kareem, da comissão eleitoral, à rede de TV norte-americana CNN.
De acordo com Kareem, o Partido da Justiça e Liberdade, braço político da Irmandade Muçulmana, teria levado 40% dos votos e o movimento salafista, 20%, seguido pelo liberal Bloco Egípcio, com 15%, e pelo Wasat, com 6%.
A imprensa egípcia divulga neste sábado números semelhantes em algumas províncias. Na cidade de Port Said, no canal de Suez, a lista da coalizão liderada pela Irmandade Muçulmana teria obtido 32,5% dos votos, a dos salafistas do partido Al Nour 20,7%, e o Wasat, uma terceira formação islamita, 12,9%, segundo os jornais locais.
O liberal El Wafd teria obtido apenas 14% dos votos, enquanto Georges Ishaq, fundador no movimento Kefaya (Basta!) e figura histórica da oposição ao regime de Hosni Mubarak, não conseguiu passar para o segundo turno.
Na província do Mar Vermelho a Irmandade Muçulmana obteve 30% dos votos, duas vezes mais que o Bloco Egípcio, uma aliança de partidos liberais, segundo informou o jornal diário "Al Ahram".
Mahmud Hams/France Press | ||
Manifestantes egípcios se reúnem na praça Tahrir, no centro do Cairo, à espera do resultado das eleições |
A comissão eleitoral informou na sexta-feira que ainda não tinha capacidade de publicar os resultados completos desta primeira fase das eleições legislativas, que foi realizada em nove das 27 províncias, entre elas Alexandria e Cairo.
O restante do país deverá votar nas próximas semanas. Esta é a primeira eleição parlamentar desde a queda do ex-ditador Hosni Mubarak, no início do ano.
Nesta manhã, cerca de uma centenas de pessoas acampavam na praça Tahrir, em frente à sede do governo. "Todos aqueles em quem confiávamos nos traíram, ElBaradei desapareceu e a Irmandade Muçulmana, agora que ganhou as eleições, já não está conosco", disse Mohamed el Asas, 25.
"Eu não votei porque ainda não vejo democracia. Os candidatos se apresentam para defender seus interesses, e não os do povo", disse o músico Mustafá Abdel Monem, 31.
COMPARECIMENTO
Mais de 62% dos eleitores egípcios compareceram às urnas na primeira etapa das históricas eleições parlamentares, informou na sexta-feira Abdel Moez Ibrahim, chefe da Comissão Eleitoral. A taxa correspondente a quase 8,5 milhões dos 13,6 milhões que estavam aptos a votar.
"Esta é a maior taxa de comparecimento na história do Egito desde a era faraônica até agora", comemorou Ibrahim.
O elevado número de eleitores, que fizeram longas filas nos postos de votação, foi a causa do adiamento do anúncio dos votos, que é aguardado para este sábado, após ser adiado por três vezes.
As eleições para escolher a Assembleia do Povo (Câmara Baixa) serão realizadas em três fases e se prolongarão até janeiro.
TENDÊNCIA ISLAMITA
O sucesso dos islamitas na votação do país mais populoso do mundo árabe seria a reafirmação de uma tendência no Norte da África. Islamitas moderados estão governando o Marrocos e a Tunísia --cujo governo anterior foi derrubado por um levante popular-- após vitórias eleitorais nos últimos dois meses.
Os egípcios, que estão votando pela primeira vez desde que oficiais do Exército derrubaram o rei em 1952, pareciam estar dispostos a dar uma chance aos islamitas. "Já tentamos todo mundo, então por que não tentar a sharia (lei islâmica) uma vez?", disse Ramadan Abdel Fattah, de 48 anos, um funcionário público.
A composição exata dos membros do Parlamento só será conhecida quando o demorado processo eleitoral do Egito for encerrado, em janeiro. O novo legislativo poderá desafiar o poder dos generais que assumiram o governo em fevereiro, depois que uma revolta popular derrubou o ditador Hosni Mubarak, ex-comandante da força aérea.
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