Em depoimento no Júri, irmão de Baetriz Árias implica advogado e delegado em suposto esquema para livrar empresário
Cobrador diz que Josino tentou "comprar" seu silêncio
Durante depoimento, nesta terça-feira (23), o cobrador Joamildo Aparecido Barbosa, 35, irmão da ex-escrivã e co-autora do homicídio do juiz estadual Leopoldino Marques do Amaral, Beatriz Árias, afirmou que foi procurado, recentemente, por uma mulher, que teria lhe oferecido R$ 1 milhão para que ambos não ligassem o nome de Josino Guimarães à morte do magistrado.
Joamildo disse que recusou a proposta e que a mulher se apresentou como "esposa de um preso", identificado apenas como João Leite, e que estaria dividindo cela com o empresário. O cobrador depôs como informante (sem compromisso com a verdade), embora, anteriormente, tivesse sido relacionado como testemunha de acusação.
Uma contradição, apontada pela defesa, foi quando Joamildo apontou que João Leite dividiria cela com Josino na Polinter, quando o empresário esteve apenas na Penitenciária Central do Estado (PCE).
Apesar de negar, veementemente, ter algum tipo de contato com o Josino ou ter conhecido pessoalmente o empresário, Joamildo afirmou ter recebido, ao todo, duas propostas envolvendo grandes somas de dinheiro. O objetivo, segundo ele, seria "comprar" o silêncio dele e de sua irmã quanto à participação de Josino na morte de Leopoldino.
A primeira ocorreu ainda em 1999, quando o delegado da Polícia Civil, João Bosco, o teria procurado, a pedido do advogado do Josino na época, Zoroastro Teixeira, para oferecer R$ 500 mil para que o nome de Josino não fosse citado em depoimentos que investigavam a morte do juiz estadual. O valor seria divido entre Joamildo (R$ 150 mil), Beatriz (R$ 150 mil), Bosco (R$ 100 mil) e Zoroastro (R$ 100 mil).
Ele afirmou ainda que a irmã nunca teve contato com Josino, e que ela nunca confidenciou ter matado o juiz.
“Ela (Beatriz) diz que ninguém acredita nela, mas ela não matou ninguém, que entregou o juiz vivo (no Paraguai) e que quem matou ele foi ‘o pessoal do tribunal’, que levou ele”, afirmou Joamildo.
Segundo ele, a irmã lhe disse que Leopoldino estava fugindo porque tinha medo de morrer nas mãos dos desembargadores citados por ele em denúncias de suposta venda de sentenças, feitas ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Conforme o cobrador, Beatriz teria lhe dito que o itinerário a ser seguido pelo juiz era o de partir de Cuiabá diretamente para o Paraguai. De lá, ele iria seguir até a Argentina, onde iria tirar outra identidade e começar uma nova vida.
Pistoleiro
O secretário-adjunto de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp), Alexandre Bustamante, que na época dos fatos era agente da Polícia Federal e chefe do Núcleo de Inteligência da PF, afirmou, em seu depoimento, que o falecido sargento José Jesus de Freitas (assassinado em abril de 2002) o procurou, duas semanas antes da morte do magistrado, para contar que havia sido sondado por josino para "dar um jeito no juiz".
Segundo o secretário, o sargento Jesus era conhecido como um dos maiores pistoleiros de Cuiabá, tendo trabalhado como cobrador de dívidas para o comendador João Arcanjo Ribeiro. Além disso, o militar também seria informante da PF, uma vez que tinha contato com o crime organizado no Estado.
Quando pressionado pela defesa pela razão pela qual mantinha contato com uma pessoa que estava envolvida em boatos de práticas ilícitas, o secretário se comparou à um padre.
"Sou como um padre. Ouço os pecados e absolvo os que eu quero", afirmou.
Bustamante afirmou ainda que, em sua opinião, a expressão "dar um jeito" pode ser interpretada de várias formas, mas, dado o histórico comportamental do sargento Jesus, a ideia seria de que ele calasse para sempre o juiz Leopoldino.
"Jesus foi sondado, mas não foi contratado. ele não disse o por quê e citou somente o nome de Josino", afirmou Bustamante.
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